Documento da Secretaria de Segurança permite espionar rivais; governador nega ter dado ordem
Ricardo Galhardo
O comando da Polícia Militar do Maranhão ordenou a todos batalhões da corporação o monitoramento de adversários políticos do governo Flávio Dino (PCdoB) que possam “causar embaraços” no interior do Estado.
A existência da ordem de monitoramento veio à tona somente ontem e gerou fortes reações da oposição ao governo Dino. Deputados oposicionistas pediram que o caso seja investigado pela Justiça Eleitoral. Alguns chegaram a comparar o ocorrido com as violações aos direitos democráticos verificados no regime chavista da Venezuela.
“Os comandantes de área deverão informar as lideranças que fazem oposição ao governo local (ex-prefeito, ex-deputado, ex-vereador) ou ao governo do Estado que podem causar embaraços no pleito eleitoral”, diz trecho do documento com timbre da Secretaria de Segurança Pública do Estado datado do dia 6 de abril e distribuído para todos os comandos de área do interior maranhense.
O procurador regional eleitoral Paulo Henrique Castelo Branco determinou a instauração de um procedimento preparatório para investigar o caso.
Por meio das redes sociais, o governador do PCdoB negou ter dado a ordem, qualificou o ofício como “absurdo” e mandou exonerar o tenente-coronel Emerson Farias Costa, chefe do Comando de Policiamento do Interior (CPI), que assina o documento.
“Absurdo imaginar que um papel assinado por um oficial da PM possa ter a minha orientação, apoio ou concordância. Ao tomar conhecimento, mandei demitir o autor do papel disparatado. Mandei também apurar por que esse oficial da PM assinou aquele papel absurdo. Ele irá responder a processo disciplinar para esclarecer os fatos”, disse Dino no Twitter.
Sindicância. Uma sindicância interna foi instaurada pela Secretaria de Segurança para averiguar o ocorrido e o coronel Antônio Markus da Silva Lima, chefe do Comando de Policiamento de Área (CPA) de Barra do Corda, também foi exonerado. Ele foi o responsável por distribuir o papel para as demais unidades de comando da PM maranhense no interior do estado.
No “levantamento eleitoral” determinado pelo comando da PM do Maranhão, além dos nomes dos adversários do governo Dino, foi determinado que batalhões informem os nomes dos policiais “envolvidos com política para que no período eleitoral sejam deslocados para outras cidades afim de evitar transtornos”.
As fichas têm ainda espaços para que se informem os nomes do prefeito, juiz eleitoral, promotor, delegado, quantidade de eleitores e colégios eleitorais de cada localidade.
No item 3 das “informações complementares” são solicitadas informações sobre “fatos ocorridos durante o pleito eleitoral que causaram transtornos na última eleição”.
Segundo o comando da PM maranhense, o objetivo do monitoramento era subsidiar a base de dados da corporação para preparar o planejamento da ação militar nas eleições de outubro, quando Dino vai disputar a reeleição contra a ex-governadora Roseana Sarney (MDB).