Quem dá um dólar furado
por um poeta bastardo
sem quatro costados?
Quem ou ninguém se habilita
a adotar um salafrário
do amor estelionatário?
Quem doa perdoa e arremata
esse fino exemplar da raça
aristocrata vira-lata?
Qual tempo e avaliação
desse bardo a bordo:
vagabundo a estibordo?
Quantos reais ou ideais
valem as prendas estéticas
das veleidades domésticas?
Quem comprará a camisa
suja de batom e de brisa
desse príncipe de uma figa?
Vale o que diz cheira e pesa?
Vale o poema que reprisa?
Qual o preço sem barriga?
Quem dará o preço mínimo
pela carcaça do farsante
que de lábia é o mais fino?
Quem fincará uma estaca
no coração desse poeta
que de fúrias o amor exalta
e mesmo em extrema-unção
torpedeia a imaginação
de uma distante mulata?
Quem doa amor de ouro ou prata
àquele que à dor o coração ata
e de amor morre mas não mata?
Luís Augusto Cassas