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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O Globo - Veto de Sarney barra indicado ao Trabalho



Temer desiste de nomear adversário de ex-presidente e pede a PTB novo nome para Trabalho


Sem o aval de José Sarney, o presidente Michel Temer desistiu de nomear o deputado Pedro Fernandes (PTB-MA) para o Ministério do Trabalho. O deputado é adversário do ex-presidente no Maranhão.
O presidente Michel Temer desistiu de nomear o deputado Pedro Fernandes( PT B MA) como novo ministro do Trabalho e, comisso, abriu uma fissura política com abancada do PTB num momento em que precisa de apoio para a aprovação da reforma da Previdência. Diante de resistências do ex-presidente José Sarney ao nome de Pedro Fernandes — adversário hoje dos Sarney no Maranhão —, Temer ligou ontem para o presidente do PTB, Roberto Jefferson, relatando o mal-estar e pediu outra indicação para a pasta. Jefferson disse que indicará outro nome da legenda.
No dia 27 de dezembro, Ronaldo Nogueira, que é do partido, deixou o ministério. Para não perder espaço, o comando do partido imediatamente apresentou a Temer o nome de Pedro Fernandes. Até a reviravolta de ontem, o Planalto vinha afirmando apenas que o sucessor havia sido escolhido pela legenda. Apos sede Fernandes chegou a ser anunciada pelo PTBepo rele mesmo para amanhã.
A expectativa é que agora o partido indique novo nome. Na disputa pelo cargo, além de Pedro Fernandes, estavam os nomes do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) — que ficou conhecido por dizer que estava“se lixando para a opinião pública” a ose posicionar contra a cassação de um colega— eoodep utado J os uéBengston (PTB- PA ). Ambos voltaram ontem a ser cotados.
À noite, o secretário-executivo da pasta, Helton Yomura, passou também a ser apontado como uma possibilidade para permanecer à frente do ministério até o fim do mandato de Temer. Desde a saída de Ronaldo Nogueira, na sexta-feira, ele assumiu o cargo de ministro interinamente.
Apesar do incômodo dentro da sigla, Roberto Jefferson tentou colocar panos quentes, embora deixando claro que houve um veto de Sarney:
— O Palácio pediu um novo nome, e o motivo é o distanciamento do deputado Pedro Fernandes do ex-presidente Sarney. Ficamos chateados, mas não vamos brigar com o presidente Temer — disse Jefferson ao GLOBO.
Ao ser informado do veto, o líder da legenda, Jovair Arantes (GO), avisou que esperava um posicionamento do Planalto e que a bancada estava incomodada.
— O cargo é do PTB e não do PMDB. Nunca dei palpite em cargo de ninguém. Nosso indicado é o Pedro Fernandes, que é do bem — disse Jovair, que à noite, no entanto, ligou para o secretário-executivo da pasta e pediu que ele permanecesse no cargo até que seja encontrado um substituto.
SARNEY NEGA VETO
Após virar o ano sendo apontado como futuro ministro, Pedro Fernandes deixou clara sua irritação com a reviravolta.
— Pois é, não deu certo. Assim, eu que não aceito mais. O Roberto Jefferson me explicou e já disse tudo como foi — disse ele, constrangido.
Em uma mensagem enviada a colegas, o deputado afirmou que sua nomeação criaria um problema na relação de Temer com Sarney.
“Infelizmente, não deu, devido ao embaraço que eu crio na relação do presidente Temer com o ex-presidente José Sarney”, escreveu Fernandes.
O ex-presidente, no entanto, negou o veto e se mostrou irritado em ter seu nome envolvido na polêmica.
— Não fui consultado e nem vetei ninguém. Não é do meu estilo. Nunca vetei ninguém. Se não vetei o Flávio Dino para a presidência da Embraer, e fui consultado pela presidente Dilma, como vetar Pedro Fernandes? Ele é meu amigo, o irmão dele é meu amigo. Por motivos políticos, ele passou a apoiar o Flávio Dino, mas nunca estivemos em desavença — disse Sarney ao GLOBO, completando. — Vocês me atribuem muito mais importância do que realmente eu tenho. Sempre gostei de fazer amigos e não inimigos.
Na conversa com Roberto Jefferson, Temer argumentou que Sarney era uma “pessoa muito importante no PMDB” e pediu que Pedro Fernandes procurasse o ex-presidente em busca de um aval à sua indicação. Mas, segundo relatos, o deputado reagiu e disse que preferia não ser ministro a ter que fazer o beija-mão a Sarney. Diante disso, Jefferson ficou de indicar um novo nome, sem pressa.
— Vamos aguardar os acontecimentos, deixar decantar. Não vamos permitir que esse pequeno conflito apague nossa relação. Temer pediu que intermediasse um diálogo entre Pedro Fernandes e Sarney, mas Pedro Fernandes não será ministro — disse Jefferson.
No dia 27 de dezembro, Temer se reuniu com o comando do PTB: Roberto Jefferson e Jovair Arantes (GO), líder do partido na Câmara. Temer chegou a conversar rapidamente com Pedro Fernandes — que votou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, Pedro Fernandes, parlamentar de cinco mandatos, disse que “se dava muito bem” com Temer.




O eterno poder do velho cacique do Maranhão



Sarney preserva influência e percepção de que não deve ser contrariado

PAULO CELSO PEREIR
Um dos últimos caciques políticos dignos dessa alcunha, o expresidente José Sarney viu nos últimos anos seu grupo político perder força. Em 2014, desistiu de disputar o quarto mandato ao Senado, diante da dificuldade da eleição que se avizinhava e, desde então, muitos de seus aliados bandearam-se para o lado do governador Flávio Dino (PCdoB), seu principal adversário hoje no Maranhão. Ainda assim, Sarney conseguiu preservar a percepção pública de que não deve ser contrariado.
Aos 87 anos, o ex-presidente consagrou-se como um dos maiores especialistas na arte de jogar parado na política. Em 2009 e 2011, foi escolhido para seus dois últimos mandatos de presidente do Senado, sempre negando até a véspera da disputa que fosse candidato. Três anos após deixar a Casa, Sarney segue podendo, sem usar de movimentos bruscos, escolher ministros — seu filho comanda a pasta do Meio Ambiente — e vetar indicados para a máquina federal, como se viu ontem com o desconvite ao deputado Pedro Fernandes, do PTB.
O alerta ao Planalto sobre a provável crise que se anunciaria com a nomeação de Pedro Fernandes para a Esplanada veio através da bancada de aliados do ex-presidente no Congresso. Das três vagas maranhenses do Senado, duas têm como titulares nomes com vínculos históricos com Sarney — Edison Lobão e João Alberto Souza. Na Câmara, mesmo após a debandada próDino, um terço dos 18 deputados federais do estado ainda tem ligações com o ex-presidente.
Se não bastasse a celeuma com parte da bancada maranhense, Sarney ainda é visto como uma referência dentro do grupo que há quase duas décadas comanda o Senado — que tem como pilares o líder do Governo, Romero Jucá, e Renan Calheiros, ex-presidente da Casa por quatro mandatos.