Cena de "Lamparina da aurora" |
A mostra, que juntamente com Aurora, baliza a programação do festival abre espaço para cineastas que embora não estreantes, não se amarraram a linguagens específicas.
"Lamparina..." e mais cinco filmes foram selecionados:“A destruição de Bernardet”, de Claudia Priscilla e Pedro Marques (SP); “Guerra do Paraguay”, de Luiz Rosemberg Filho (RJ); “Homem-Peixe”, de Clarisse Alvarenga (MG); “Modo de produção”, de Dea Ferraz (PE); e “Os incontestáveis”, de Alexandre Serafini (ES).
Toda programação da mostra é gratuita. O tema deste ano será "Cinema em reação, cinema em reinvenção". Segundo a coordenadora-geral do festival, Raquel Hallak, o perfil da edição atual é uma preocupação com a banalização das imagens e uma reação ao conturbado momento político.
Lei abaixo texto do crítico Marco Fialho sobre o filme
"Lamparina da Aurora" é uma obra altamente sensorial, característica essa bem marcante nos filmes do diretor Frederico Machado. Enquanto assistimos ao filme nunca sabemos em que terreno estamos pisando, o onírico se impõe pungentemente. Somos colocados na mesma perspectiva de transe dos personagens, suas fraturas e culpas passam a nos habitar durante a projeção e tudo parece ser muito fluido e incerto, pois somos arremessados em um turbilhão de incertezas.
Não somos informados o que é sonho ou realidade no filme, e tal como em "A Hora do Lobo", de Bergman, o tempo é chamado no horário de pouca luz, onde o inconsciente emerge abrupta e inesperadamente da forma mais angustiante possível.
A atmosfera de "Lamparina da Aurora" muito se aproxima das obras do realizador tailandês Apichatpong Weerasethakul, inclusive com a utilização de fantasmas na trama. Mas no decorrer do filme essa semelhança vai se esvaindo e se distanciando, pois o fantasmagórico aqui se manifesta não espiritualmente e como força da natureza como nos filme do tailandês, mas sim como presença psicológica advinda dos próprios conflitos dos personagens.
O mais instigante em LAMPARINA DA AURORA é esse aspecto tão cinematográfico, o de optar por assumir que cinema é sonho, poesia, imaginação, e principalmente, ontologia.
O tema da família é recorrente no cinema de Frederico Machado, aparece em toda a sua obra, e isso não é por acaso, a família simboliza o começo da nossa organização social e ao refletir sobre ela, refletimos sobre a nossa existência e a nossa sociedade. O espaço da família no filme é bem delimitado, é o da fazenda, sua sede e a floresta que a cerca, ele é, para Frederico Machado, a representação do próprio mundo, inclusive, no ambiente da casa vê-se perfeitamente a tradição católica estampada nas paredes e é impossível tentar compreender o mundo que nos cerca sem esbarrar de alguma forma nessa tradição".