RIO DE JANEIRO - Fevereiro promete. Carnaval em tempos de crise é sempre espetacular. Aliás, nem parece crise: a expectativa é de mais de 5 milhões de pessoas nas ruas do Rio. A prefeitura liberou 473 blocos e bandas - de mais de 500 inscritos - para desfilar. Alguns são estreantes, como o Chinelo de Dedo, do Centro, ou o Bangay Folia, de Bangu.
Vai ter trio elétrico baiano: o Bloco da Eva, do grupo de axé, sairá na Praia do Pepê, Barra da Tijuca - felizmente bem longe de onde se concentram os verdadeiros foliões. Estes preferem a desobediência civil, no melhor estilo bloco de sujos: seis ou sete amigos e amigas, vestidos com sobras da Casa Turuna, marcam encontro numa esquina, armam-se de tamborins e pandeiros e seguem em cortejo cantando velhas marchinhas e sambas-enredos.
O melhor até agora é a polêmica envolvendo a Imperatriz Leopoldinense e o enredo "Xingu: o Clamor que Vem da Floresta", que faz críticas ao agronegócio. Um dos versos do samba chama a usina de Belo Monte de "belo monstro". Desde 1970, quando a Portela desfilou com "Lendas e Mistérios do Amazonas", a temática indígena é figurinha fácil na avenida, e quase sempre explorando a vertente política e contestatória.
"O agro é tech, o agro é pop" e acha que pode tudo, inclusive agir como capitão do mato. Numa reedição do Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País), o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) quer propor uma sessão no Senado para descobrir os financiadores da Imperatriz. Poderia ter proposto o mesmo quando o agronegócio patrocinou enredos esdrúxulos como o cavalo mangalarga, o iogurte e a cidade de Sorriso (MT).
No mais, a festa resiste. Marcelo Crivella, o novo prefeito, está tendo aulas de samba no pé, para não fazer feio em sua primeira aparição no Sambódromo. Esquindô lelê.