Nos álbuns de fotografia da poeta Ana Cristina Cesar(1952-1983), homenageada deste ano no Festival Internacional de Literatura de Paraty (RJ),Flip que se encerrou em 3 de julho, constam imagens feitas no Maranhão na década de 70. Ana C chegou s Aão Luís a bordo da turma de O Pasquim. João do Vale acompanhava o pessoal do semanário. O convite foi feito pelo então prefeito de São Luís, Haroldo Tavares. O Pasquim enfrentava a ditadura com pilhérias e escárnio com as tintas de Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar e outros bambas. As imagens de Ana C no Maranhão estão guardadas pelo Instituto Moreira Salles. Podem ser acessadas pela internet.
Ana C esteve no Maranhão em 1972. Passou pela terra natal de João do
Vale, Pedreiras. Pisando em flores, deve ter percorrido a pés a rua da Golada. Os
registros da passagem da poeta pelo estado estão em fotografias do acervo do
Instituto Moreira Sales, no Rio de Janeiro. Ana C faz parte da galeria
de poetas da geração beat no Brasil.
Contemporânea da geração de poetas
marginais, divulgando o trabalho a partir do estêncil – material que ficou no
passado e desconhecido por grande parte das gerações pós 70 -, como os baianos
Waly Salomão e Capinan, o piauiense Torquato Neto e outras expressões que
permaneceram na cena. Esteve in passant no Nuvem cigana, um coletivo carioca de
poesia que funcionou durante uma década a partir de 1965.
Sua estreia em livros foi
com “Cenas de Abril” e “Correspondência completa”, ambo de 1979. Mais tarde
veio “A teus pés”, em Cantadas Literárias da Brasiliense. As cantadas da editora revelou para o público
nomes como Caio Fernando Abreu e Marcelo Rubens Paiva. “Inéditos e Dispersos”,
de 1985, reunindo poesia e prosa de AC, foi o primeiro “arremedo de resgate”
organizado por Armando Freitas Filho para preencher a ausência viva da poeta.
Toda a obra de Ana C está em
Poética, antologia de 2013 lançada pela Companhia das Letras. Está tudo lá.
Todos os guardados da pasta rosa. Inclusive os cadernos de viagens. Pedreiras
está neste diário de bordo.
A proposta de aproximar-se o
mais possível do leitor não descontruía em Ana C a consciência de que a poesia
não deve jamais render-se à banalidade.
Com 30 anos, Ana C desistiu de continuar com a vida.
Eu
não sabia
que
virar pelo avesso
era
uma experiência imortal
Fagulha
“As palavras escorrem como
líquido, lubrificando passagens ressentidas”
Conto
de Natal
Sou
uma mulher do século XIX
Disfarçada
em século XX
Como
chapeuzinho
As
mulheres e as crianças
São
as últimas que desistem de afundar navios
Cartilha
da cura
Tenho
ciúmes deste cigarro que você fuma
Tão
distraidamente
Ciúmes
O
nome morto vira lápide
falsa
impressão de eternidade pé