Eu não assisti ao filme “Chatô o Rei do Brasil” sobre a trajetória particular e pública do poderoso jornalista Assis Chateaubriand.
Pelo pouco tempo de exibição nas salas de projeção, concluo que o filme não agradou ao público brasileiro. Em São Luís, nem se fala, foi meteórica. Poucas pessoas viram a produção cinematográfica dirigida por Guilherme Fontes e baseada no livro homônimo do jornalista Fernando Morais.
Pelo lido e visto, a película omitiu o sinistro episódio da eleição de Chateaubriand a senador no Maranhão, depois de perder o mandato no estado de origem - a Paraíba, obrigando-o a realizar maquiavélica operação política, para não perder a imunidade parlamentar e continuar impunemente fazendo negociatas, dentro e fora do país.
Pelo pouco tempo de exibição nas salas de projeção, concluo que o filme não agradou ao público brasileiro. Em São Luís, nem se fala, foi meteórica. Poucas pessoas viram a produção cinematográfica dirigida por Guilherme Fontes e baseada no livro homônimo do jornalista Fernando Morais.Benedito Buzar
Confesso o meu estarrecimento e a minha revolta pela maneira como o diretor Guilherme Fontes - passou 20 anos ludibriando os órgãos de financiamento do governo – excluiu do seu trabalho cinematográfico manobra espúria, mas de grande repercussão no país inteiro, razão pela qual não podia ser descartada ou escondida da opinião pública.
Omitir aquela vergonhosa operação política, que galvanizou as atenções da sociedade brasileira, começada em setembro de 1954, no Rio de Janeiro, e concluída em março de 1955, em São Luís, é querer apagar de nossa memória histórica, uma deslavada barganha, da qual participaram altas figuras da República, todas interessadas em devolver a Chateaubriand um cargo eletivo, que os paraibanos acharam por bem não lhe outorgar e, por tabela, propiciar a condução de Juscelino Kubitscheck ao Palácio do Catete.
Toda essa trama, relatada pelo jornalista Fernando Morais, no livro “Chatô o Rei do Brasil”, foi projetado e costurado pelas “raposas” do PSD. Quem auxiliou e assessorou o jornalista paulista a obter as informações a respeito da eleição de Chatô a senador pelo Maranhão, foi este colunista. Durante vários dias, ele e eu compulsamos jornais da Biblioteca Pública e dos Diários Associados, entrevistamos políticos do governo e da oposição, que tomaram parte ou denunciaram aquela nefasta negociata, que o diretor do filme, lamentavelmente, suprimiu do roteiro.
Fernando Morais dedicou quase todo o capítulo 32 de seu livro às peripécias perpetradas pelos cardeais do PSD nacional – Amaral Peixoto, Juscelino Kubitscheck, Tancredo Neves, Vitorino Freire e Renato Archer, que vieram a São Luís confabular e convencer o governador Eugênio de Barros, que resistiu o quanto pôde, a chancelar uma operação política que resultou na renúncia do senador Antônio Bayma e do suplente Newton Bello, por meio da qual se realizou no Maranhão a intempestiva eleição de Assis Chateaubriand e do suplente, Públio Bandeira de Melo, ao Senado da República.
Sem condições de enfrentar os candidatos vitorinistas, às oposições só restaram o protesto e a participação bisonha num pleito desmotivado e com candidatos desconhecidos: o coronel da Aeronáutica, Armando Serra de Menezes e o jornalista Franklin de Oliveira, que integrava o corpo redacional da revista O Cruzeiro junto com Neiva Moreira. Ambos foram demitidos e perseguidos pelo ex-patrão.
Como a eleição não corria risco, Chateaubriand chegou a São Luís um dia antes do pleito. Sem fazer discurso e participar de nenhum ato público ou comício, limitou-se a fazer uma pequena saudação ao descer do avião: “Viva o Maranhão.”
Com apenas três palavras, Chatô conquistou uma acachapante vitória nas urnas, resultado esperado e que confirmava a força de Vitorino Freire no Maranhão. Ironia da eleição de Chateaubriand: após diplomado, não exerceu o mandato de senador. Foi nomeado pelo presidente JK embaixador do Brasil na Inglaterra, onde pintou e bordou, e nunca mais pisou o solo maranhense.