É inegável que São Luís é uma bela cidade. Não são apenas sua
riqueza cultura e seus prédios históricos que evidenciam os encantos da capital
maranhense. A orla é composta por pequenos paraísos, muitos dos quais se
tornaram um pouco mais conhecidos após várias reportagens que O Estado publicou
durante alguns sábados meses atrás. Dito isso, é fato também que, mesmo uma
cidade bonita como São Luís precisa ser bem cuidada para que sua beleza aflore.
Mas não é o que tem ocorrido.
Andar pela capital maranhense é constatar em cada bairro maus
tratos não apenas do poder público, mas do próprio ludovicense. Um problema
recorrente na cidade é a formação de lixões, que contribuem também para a
proliferação de insetos que podem causar doenças. Em suas edições, O Estado
sempre tem registrado o surgimento de novos lixões em ruas da capital, tanto
que a pauta tornou-se repetitiva. E como o bom jornalismo se alimenta da
novidade, o registro do acúmulo de lixo a ermo acaba cedendo espaço para os
factuais.
Isso não quer dizer que o assunto não tenha a importância
devida, mas, infelizmente, tornou-se trivial, e essa é uma triste constatação.
Em um período no qual discussões sobre sustentabilidade e assuntos como
reciclagem começam a ganhar força, é um contrassenso pensar que em uma cidade
como São Luís a população ainda não se preocupa com o descarte correto do lixo.
Sim, a população e não apenas o poder público.
É bem verdade que não existem políticas públicas voltadas para a
questão do lixo, que São Luís não possui ainda um plano de resíduos sólidos e
que a reciclagem resume-se apenas a ações pontuais. Além disso, a coleta ainda
é ineficiente e a disposição de lixeiras é precária. Ou seja, a limpeza pública
da cidade ainda deixa a desejar. Mesmo assim, não são poucos os flagrantes de
entulho de lixo ao lado de um contêiner, que deveria servir como o destino
correto para o que não tem mais utilidade. E o que dizer de quem não tem a
paciência de separar o seu lixo e aguardar para que seja levado no dia da
coleta, antes de ceder ao impulso de jogá-lo na calçada da frente ou lançá-lo
no terreno baldio próximo de casa como se ele não fosse mais problema seu? Mas
ele é.
É preciso tocar nesse tema: falta consciência para o ludovicense
de que ele precisa fazer a sua parte, até mesmo para cobrar do poder público.
Falta educação, consciência ecológica, responsabilidade, preocupação com a
cidade. Falta também começar a repensar a quantidade de lixo que é produzida
todos os dias. Será mesmo que tudo o que é jogado fora é lixo?
E antes que muita gente pense que esta realidade de descartar
resíduos equivocadamente está ligada necessariamente a condições econômicas e
sociais, muitas vezes o lixo é lançado através das janelas de carros de luxo.
Por vezes, são pessoas de posses as proprietárias dos terrenos baldios - muitos
dos quais não murados - que servem de depósito de lixo. Em alguns casos, não
querem se dar ao trabalho de descartar corretamente o entulho das obras de seus
empreendimentos e preferem contratar alguém para dar um “jeitinho” a fazer o
correto.
São Luís é uma cidade de muitos encantos, mas ainda maltratada
por seus habitantes. Portanto, antes de apontar o dedo para o seu vizinho, faça
uma pergunta a si mesmo: o que você faz com o lixo que produz?