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domingo, 18 de outubro de 2015

'Se eu tivesse os olhos da Rihanna pegaria muita gente', diz Alcione - mônica bergamo

Alcione tem 67 anos. Angela Maria, 86. Embora as duas estejam sentadas durante a passagem de som do show que irão fazer juntas numa tarde de quinta-feira, uma música faz com que elas se levantem: "Meu Ébano", hit lançado pela sambista em 2005 (dos versos "É! Você um negão de tirar o chapéu...").
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"Olha aí, ó, ela só queria que eu cantasse essa música pra poder levantar e rebolar", diz Alcione. Angela ri e agradece à colega pela participação no show em SP, que faz parte das comemorações do Dia do Idoso. Embora já esteja enquadrada na categoria, a sambista diz que não sente as dificuldades da idade.
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"Sabe o que é? É que eu me sinto muitíssimo bem. Eu não bebo, não fumo e não tenho vício nenhum. A única coisa que eu gosto é um charuto às vezes. É raríssimo, mas tenho em casa guardado", diz à repórter Marcela Paes antes do show. E logo começa a "quebrar o galho" se maquiando sozinha no camarim.
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Do lado de fora, o público que se agrupa é, em sua maioria, de idosos, mas três homens na faixa dos 25 anos destoam do resto pela idade e tom de voz -ligeiramente mais alto e animado. "Falei que você tinha que vir. Vai perder a diva, maravilhosa, Marrom?", diz um deles.
A "diva" tem, pela primeira vez em 44 anos de carreira, uma música na abertura de uma novela da Globo. "Juízo Final" está na trilha de "A Regra do Jogo". Composta por Nelson Cavaquinho em 1973, ela já tinha sido gravada por Alcione em 1999. E o pedido para a regravação, em nome de João Emanuel Carneiro, autor da trama, causou surpresa.
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Pensei: 'Gente, que bom gosto que esse menino tem'. Porque é tão difícil ver um clássico de Nelson Cavaquinho e desse povo [sambistas antigos] abrindo uma novela."
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O refrão da canção, em que ela estica a nota na palavra "sol", deu origem a brincadeiras nas redes sociais. "Eu acho engraçado! Não ligo. Os jovens conhecerem o Nelson Cavaquinho pela minha voz é o que eu gosto."
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Não se importa também com as comparações jocosas entre as extravagâncias em seu visual e o da caribenha Rihanna. "Não tem nada a ver, mas ela é linda. Tenho vontade de falar: 'Me empresta esses olhos?'. Ia pegar tanta gente com eles", ri ela, que se casou algumas vezes e não tem filhos. Ela tamborila na mesa as grandes e chamativas unhas postiças, assim como as da cantora pop. "As minhas são feitas de silicone, talvez as dela sejam desse mesmo jeito."
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Alcione também virou assunto na internet quando o americano Axl Rose, da banda Guns n' Roses, postou uma foto dos dois em um encontro no Nordeste, no ano passado. A cantora ganhou ainda um elogio do roqueiro, normalmente avesso a interações amigáveis. Ela retribuiu o dengo pelo Instagram: "Encontrei meu ídolo Axl Rose! Abracei, beijei, cheirei!".
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Neste ano, foi a vez de Marrom rasgar seda. Antes da apresentação dela no Rock in Rio, circulou vestindo uma túnica estampada com o rosto do vocalista. Novamente trocaram mensagens elogiosas. Uma caixa com a discografia inteira da sambista, enviada para a casa de Axl, nos EUA, selou a relação.
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"A túnica é linda, né? Que eu mandei fazer uma coisa bonita! Mas que rebuliço! Um menino lá do Piauí que faz as camisetas e já tinha feito uma maravilhosa com o rosto de Bethânia, e que ninguém tem, só eu. Aliás, vou usá-la no ensaio da Mangueira em dezembro [a cantora Maria Bethânia será homenageada pela escola carioca]", diz.
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O Carnaval já está na cabeça de Marrom. Além do investimento no figurino, a preparação física ("um regime mesmo, pode falar", diz ela, corrigindo a repórter) é um dos focos. Quer perder 15 kg.
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"Já tive cãibra na avenida no passado, não quero ter nesse ano. Vou comer muita banana, ficar mais magra e mandar bala [risos]. Quero ir no chão no enredo de Bethânia." Ginástica ela diz que "deteeeeeesta". "É ruim, hein? Mas como tenho varizes preciso fazer exercícios na piscina. Aí viro uma sereia."
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Natural do Maranhão, Alcione ama o Rio, onde vive desde os 20 anos. Apesar do gosto pelas "compritchas" -que na capital paulista são muito melhores, segundo ela-, a sambista diz que não conseguiria viver na cidade pela distância da praia. "Tenho axé com o mar. Passei dois meses em São Paulo e fiquei toda empelotada."
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Devo muito ao Rio, mas nunca deixei a essência de nordestina. Em casa tem que ter Guaraná Jesus, farinha d'água, camarão seco, rede montada... E minha festa preferida é São João. Não perco minha 'maranhancidade'!" Em seu lar, na Barra da Tijuca, também não falta material de bordado. "Mandei colocar o Netflix em casa. Fico vendo meus filminhos", conta, citando o serviço de vídeos.
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A ligação forte com o mar fez com que a cantora se indignasse com a tentativa do governo fluminense de coibir que jovens sem dinheiro pegassem ônibus para ir a praias da zona sul, como medida para combater arrastões.
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"Deus deu aquele marzão pra nós, e você pode sair de casa e ir tomar seu banho na praia sem maldade. Vá tomar seu banho, pegar seu sol e de repente encontrar um amigo que te pague uma cerveja. Eu não sou a favor de gente que vai à praia fazer baderna. Mas você não pode proibir. O mar é nosso. Esse mar é meeeeu [cantando]. É discriminação."
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Diz que atualmente, por ser conhecida, não sofre mais preconceito racial, mas que enfrentou a situação inúmeras vezes. "Cheguei a um hotel e fiz uma pergunta para o gerente. Eu estava muito bem vestida, porque tinha acabado de chegar de Paris. Aí um hóspede não gostou de me ver bem vestida. Ele olhou e disse: 'Ih, chegou o navio negreiro'. Não posso nem dizer aqui o que eu falei pra ele [risos]. Eu acabei com ele."
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Para Marrom, o país ainda lida com muitos problemas de intolerância, inclusive religiosa. Criada no catolicismo, ela agora pratica o espiritismo, mas flerta com a umbanda.
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"Isso é podre: uma pessoa não respeitar a outra por ser do candomblé, da umbanda ou do espiritismo. Porque esse é da Universal e aquele é católico. Que é isso, gente? Eu não gosto dessa confiança, de gente se metendo comigo e com a minha religião. O Estado é laico", diz.
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O tom é direto também na hora de tratar os fãs e os amigos. "Não sou muito de enrolação, mas não sou mal-humorada. Quase sempre tiro muitas fotos, só não gosto no aeroporto. Uma vez uma mulher ficou brava e me disse que eu era feia. Eu respondi: 'Mas sou talentosa, e você? O que faz da vida?'. Ah, não foi à toa que eu cheguei a 44 anos de carreira, 27 discos de ouro, cinco de platina e mais de 300 troféus."