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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Cultura sem educação

luiz fernando vianna

RIO DE JANEIRO - Juca Ferreira fez coisas boas na primeira passagem pelo Ministério da Cultura. Poderá fazer outras agora. Mas sua biografia estará para sempre manchada pela forma com que tratou Ana de Hollanda. Ela o substituiu em janeiro de 2011.
    Juca se dedicou com afinco a derrubar sua sucessora –para quem deixou uma série de arapucas contábeis. Fizesse isso à luz do dia, seria aceitável no jogo democrático. Mas atuou nas sombras: enquanto evitava dar entrevistas, estimulava os ataques que seus apoiadores desferiam contra Ana de Hollanda.
    No jornal "O Globo", em que este colunista trabalhava, todo dia era dia de seguidores de Juca sugerirem pautas contra a ministra, oferecerem "denúncias" e garantirem que ela estava para cair. Havia, no jornalismo cultural, repórteres engajados nas campanhas "sai, Ana" e "volta, Juca".
    Ana de Hollanda podia não ser o nome certo para o posto –que deixou após 20 meses. Mas jamais mereceria o que Juca lhe fez. É uma pessoa digna, que se abateu por não estar acostumada com o volume de sujeiras que corre em Brasília, nas redes sociais, na imprensa.
    Se as feministas permitem dizer, também não se deve fazer isso com uma mulher. Aécio Neves foi massacrado por ter chamado Dilma Rousseff de "leviana". Pelo menos, cometeu sua grosseria na cara da rival. Juca não teve a mesma coragem.
    Quem fez o trabalho sujo foram ativistas dependentes de verbas públicas –o que não é crime, diga-se. Precisam muito do MinC, pois as torneiras das empresas estatais estão fechando. Pregam ética, mas chegaram, em 2014, a usar seus espaços em jornais para impulsionar candidatos sem informar aos leitores que coordenavam a campanha desses candidatos.
    O novo velho ministro pode ter méritos como gestor. Mas lhe faltam algumas virtudes como homem.