Eleições 2014
Vitória de Góes no Amapá deve ser 'prêmio de consolação' de Sarney
Ex-governador, preso em 2010 pela PFl, deve derrotar Camilo Capiberibe (PSB) neste domingo - e evitar derrocada definitiva do grupo político do senador
Mariana Zylberkan
Camilo Capiberibe (PSB) e Waldez Góes (PDT) (Divulgação/VEJA.com)
Depois de assistir à derrocada do seu grupo de aliados no Maranhão, o senador José Sarney (PMDB) deve levar ao menos um prêmio de consolação nestas eleições: a vitória de Waldez Góes (PDT) na disputa pelo governo do Amapá. O ex-governador do Estado está trinta pontos à frente de Camilo Capiberibe (PSB), candidato à reeleição, nas disputas de intenção de voto e deve ser eleito neste domingo. Se confirmada, esta terá sido a única vitória do grupo político de Sarney nestas eleições. No primeiro turno, o candidato do peemedebista ao Senado pelo Amapá, Gilvam Borges, foi derrotado por Davi Alcolumbre (DEM). No Maranhão, até sua filha Roseana abriu mão de disputar cargos públicos tamanho o desgaste sofrido nos últimos anos. Apoiado pela família, Lobão Filho (PMDB) foi derrotado em primeiro turno por Flávio Dino (PCdoB). Também lá o candidato dos Sarney ao Senado, Gastão Vieira (PMDB), perdeu para Roberto Rocha (PSB).
Góes já governou o Amapá por duas vezes, entre 2003 e 2010 - ano em que foi um dos 17 presos na operação Mãos Limpas da Polícia Federal, que investigou desvio de dinheiro público no Estado. Na esteira do escândalo, foi derrotado na disputa pelo Senado nas eleições daquele ano. Seu primo, Roberto Góes (PDT), então prefeito de Macapá, também foi preso.
Para neutralizar a influência política de Sarney, senador pelo Estado por 24 anos consecutivos, lideranças políticas com ideologias opostas formaram uma aliança exótica em 2014, que se mostrou eficiente na disputa pelo Senado. O senador Randolfe Rodrigues, do PSOL, sigla fundado para abrigar o grupo conhecido como “os radicais do PT”, apoiou a candidatura ao Senado de Alcolumbre, integrante de agremiação com perfil conservador.
Uma improvável derrota de Góes representaria a total derrocada política de Sarney, que anunciou a aposentadoria em junho. Eleito, porém, Góes representará um respiro político do senador no Estado, criado em 1988, quando era presidente da República. O ex-governador chegará ao poder amparado por aliados e parentes. Sua mulher, Marília, foi eleita deputada estadual, assim como a tia do candidato, Maria. O aliado de Góes e de Sarney, Moises Souza (PSC), também conseguiu reeleger-se para a Assembleia. Os três estão entre os servidores da Câmara Estadual com as contas bloqueadas e são investigados em esquema de superfaturamento de diárias e desvios de 2,8 milhões de reais. Já Roberto Góes foi eleito deputado federal.
Góes se beneficia de uma ampla rede de meios de comunicação – 16 rádios e dois canais de TV – pertencente à família de Gilvan Borges, seu aliado, para propagar sua candidatura e atacar o adversário do PSB. A coligação formada por PSB, PT, PSOL e PCdoB acionou o Tribunal Regional Eleitoral para tentar suspender os sinais das rádios e TVs da família de Borges sob acusação de favorecimento político. O pedido de suspensão do sinal chegou a ser atendido, e as rádios ficaram fora do ar por 48 horas, nos dias 13 e 14 de setembro, mas posteriormente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberou as transmissões.
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