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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

No IG - Empresa investigada pela PF tocou obra da Petrobras apadrinhada por Lobão

Ministro aparece na suposta lista de políticos que seriam beneficiados pelo pagamento de propina oriunda de contratos da estatal, atribuída ao ex-diretor Paulo Roberto Costa

Por Wilson Lima
Investigada pela Polícia Federal (PF) por possível envolvimento no esquema revelado pela Operação Lava-Jato, a Galvão Engenharia esteve na lista das empresas que participaram da construção da Refinaria Premium I, na cidade de Bacabeira, no Maranhão, obra apadrinhada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB). A obra, conforme relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), gerou dano ao erário público de R$ 84 milhões.
Oficialmente, o Ministério de Minas e Energia informou apenas que a decisão pela construção da Refinaria “compete à direção da Petrobras e seu Conselho de Administração (do qual o Ministro Edison Lobão não participa)”. No entanto, entre 2007 e 2010, Lobão travou uma guerra interna na Petrobras para que o projeto saísse do papel. Tanto é que, durante o lançamento da pedra fundamental da Refinaria Premium I, Lobão desabafou e classificou o projeto como bandeira de luta pessoal.

Elza Fiuza/ABr - 19.10-13
Lobão travou uma guerra interna na Petrobras para que o projeto da Refinaria Premium I, na cidade de Bacabeira, no Maranhão, saísse do papel


“Fiz do projeto da refinaria minha bandeira de luta, minha profissão de fé, de enfrentar resistências e má vontade dos setores poderosos do Centro Sul que não admitiam a organização de uma obra desse porte no Maranhão. Enfrentei descrenças dos invejosos dos pessimistas que não acreditavam ou que não desejavam que esse sonho se concretizasse. Aqui está a resposta para os que disseminavam a desesperança no povo maranhense”, disse, em janeiro de 2010.
Apesar de ter sido anunciada com pompa, a obra gerou polêmica desde então. A projeção inicial era que em 2013 a refinaria entrasse em operação com o refino de 300 mil barris de petróleo por dia e em 2015, ela entrasse em plena capacidade de processamento de petróleo de 600 mil barris de petróleo por dia. Atualmente, a obra ainda em fase de terraplanagem.
Em 2010, três empresas iniciaram a terraplanagem mas não concluíram as obras por decurso de prazo: o consórcio GSF, formado pelas empresas Galvão Engenharia, Serveng Civislan e Fidens Engenharia. Além disso, relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2013 apontou prejuízos da ordem de R$ 84 milhões em função de problemas e atrasos na obra. Na época, o TCU afirmou que a refinaria sofreu “atrasos injustificáveis nas obras e serviços devido a: deficiências de projeto, atraso na expedição da autorização de serviço inicial e demora na liberação de áreas a terraplenar”. Apesar disso, o Ministério de Minas e Energia negou qualquer tipo de irregularidade na obra. A Petrobras não se pronunciou.
Mais sobre o caso:

Com as investigações da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal descobriu que a Galvão Engenharia, uma das empresas que iniciaram a terraplanagem da Refinaria Premium I, efetuou depósitos para a empresa MO Consultoria, do doleiro Alberto Youssef, preso desde o dia 17 de março. Conforme a Polícia Federal, a Galvão Engenharia teria efetuado depósitos da ordem de R$ 1,5 milhões nas contas da MO Consultoria entre abril e março de 2011. A suspeita da PF é de que as empresas que estavam nesse esquema pagavam propina para Youssef para obter contratos com a Petrobras.

Divulgação/Petrobras
Refinaria Premium I, na cidade de Bacabeira, no Maranhão


No último final de semana, a revista Veja revelou uma lista de políticos que supostamente foram beneficiados com pagamentos de propina oriundos de obras da Petrobras, que teria sido elaborada pelo ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Entre eles, estavam o ministro Edison Lobão e a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Durante a operação Lava-Jato, Youssef, considerado o líder da organização criminosa desarticulada pela PF, foi preso em São Luís, no Maranhão. Durante as investigações, a PF descobriu que Youssef teve encontros com assessores próximos da governadora Roseana Sarney e que estava em São Luís para articular encontros com pessoas ligadas ao governo.
O governo do Maranhão negou qualquer relação com o doleiro e a governadora informou que também desconhece qualquer favorecimento obtido de forma ilícita. Procurada pela reportagem do iG, a Petrobras também não respondeu aos questionamentos sobre eventuais irregularidades na obra e as relações dela com o ministro Edison Lobão. A Galvão Engenharia também foi procurada e não deu retorno à reportagem.