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domingo, 13 de julho de 2014

Copa rock´n´roll - MARTHA MEDEIROS


   Hulk na guitarra, Cahill no baixo, Maya Yoshida na bateria e Eto´o no vocal. Essa é a banda de rock que entrou no palco para tocar Paradise City, do Guns nRoses. Não é delírio meu, e sim um inusitado comercial de cerveja que começou a ser veiculado antes do início da Copa, com craques das seleções de Brasil, Inglaterra, Japão e Camarões brilhando em outro campo. Para quem está acostumado a ver o futebol associado ao pagode, a ideia publicitária pode ter parecido estapafúrdia, mas eu achei coerente. Toda Copa é meio rocknroll. 
    Mais de uma vez escrevi sobre minha paixão pelo rock (e pelo blues que lhe deu origem). Por mais que admire outros gêneros musicais (jazz, soul, pop, bossa nova), tenho com o rock uma afinidade que extrapola o simples gostar – tanto que o uso como adjetivo. 
    Criança ainda, vibrava com Janis Joplin, Tina Turner e Rita Lee, que, através da sua música, traduziam uma essência difícil de transmitir em palavras. Nada nelas era conveniente em se tratando de “mocinhas”, e sim provocativo, sexy, autêntico, livre. Não era um som para relaxar, e sim para impulsionar, produzir reações físicas, alterar comportamentos. Por mais surrado que seja o termo, é o que se chama, até hoje, de “atitude”. 
    Da mesma forma, tive pelos Beatles e Rolling Stones a mesma reverência que muitos têm por Bach, Mozart, Chopin – a existência de gênios clássicos não elimina a influência de simples mortais que também emocionam. Exatamente há um ano, estive num espaço aberto maior do que o Maracanã para assistir ao vivo, pela primeira vez, a um show dos Stones, e quando eles entraram em campo fiz o mesmo que Thiago Silva, David Luiz, Julio Cesar: chorei. Pois é. O rock, parente de Satanás, costuma me conectar com meus instintos mais primitivos, enquanto os anjos tapam os olhos. 
    Hoje, 13 de julho, Dia Mundial do Rock, é dia também do encerramento dessa Copa em que o primitivismo esteve flagrante nos gramados, através de lances que combinaram mais com guitarras do que com pandeiros. O ilícito e o lícito disputando a bola com atrevimento, garra, provocação, jogo de quadris, paixão, rebeldia, sensualidade – e atletas venerados como rockstars. Tudo muito exagerado, mas bem-vindo, nem que seja de quatro em quatro anos. 
    Esse texto foi entregue com uma antecedência que me impede saber quem estará decidindo o título neste domingo, mas, seja quem for, que provoque pela última vez, em cada torcedor, a excitação recorrente no rock, aquela que faz a gente trocar o etéreo pelo visceral, o recato pela explosão, já que na segunda-feira o barulho inevitavelmente diminuirá. Retornaremos à alegria comedida, a um ritmo menos eletrizante, a um jeito de viver mais sossegado, à normalidade dos dias, à trivialidade popular brasileira.