O cinema nacional nunca mereceu respeito nas cadeias brasileiras de cinema. Quando havia dificuldade na captação de som direto, pela incipiência da indústria no país, o tom era fanho e arranhava os ouvidos dos espectadores que, em vista disso, optavam sempre pela legenda, numa inaudível qualquer língua original. Persistisse o problema, resolvido de maneira fácil seria nestes tempos de menu.
Daí a necessidade de leis coercitivas - que existem, como bruxas -, reservando espaço na grade de programação anual das salas de exibição para o cinema nacional no território do Brasil. Isso é verossímil aqui. A cota é facultada aos donos destas, já que a fiscalização funciona mediante denúncias de baixíssimo registro e, consequentemente, eficácia.
Aí, veio a Globo Filmes, depois do marco "Carlota Joaquina" de Carla Camurati, e tudo mudou. Pelo menos, na aparência. Vimos surgirem insinuações de blockbusters, como "Se eu fosse você" e um punhado de películas nacionais bem avaliadas nas bilheterias, mas nem tanto assim pela crítica. Filmes que parecem transcodificados da telinha para a telona, via HD. Tudo céptico, ético e estético, ao menos na proposta. A começar pelo elenco, de caras cativas na tevê, quase sempre com as cores da globo tatuada. Isso, é claro, de olho no bilhete.
A crise vira-lata do cinema nacional parece ter sido superada. Ledo engano. Na terça-feira,6, na sala 3 do Cinépolis, no São Luís Shopping, o projetista aproveitou o escurinho do cinema para perpetrar um preconceito que se sabe ter sido apenas recolhido a um baú sem trancas. Mais espantoso que tudo: com a aprovação do público. Soturno, deixaram todos a sala satisfeitos com o fim sem "The End". Não tem tradução, como já dizia Noel Rosa.
Antes mesmo do estampido da arma que matou o personagem-titulo cessar, o fadeout (linguagem que o projetista desconhece pelo baixo salário que recebe) roubou uma informação principal de qualquer filme: a equipe de produção, personagens e elencos principal e de apoio, locação, trilha sonora, figurantes e todo o resto, que para o dono do cinema e projetista desmiolado, são restos mesmos. Segundo o projetista anônimo, foi uma lâmpada que queimou.
Sem refletir o sucesso de crítica e de algumas salas do "sul" (aqui entendido como "sudeste", como usual na língua brasileira), "Getúlio", filme de João Jardim com Tony Ramos no papel do título, obteve baixa audiência durante a temporada em cartaz em São Luís. Para quem quer assistir a história íntima do presidente que recorreu ao suicídio, com direito à ficha técnica. Antes, vale a pena ler a crítica repleta de questionamentos de Inácio Araujo (AQUI).
Assita ao trailer pirata de "Getúlio" até o fim: