O ano de 2015 será difícil qualquer que seja o governo. O pior erro do próximo governante será adiar os ajustes que terão que ser feitos. Há uma pilha de contas espetadas para o ano que vem. Na energia, o consumidor começará a pagar pelas extravagâncias dos dois últimos anos; as contas públicas terão que ser reequilibradas; a inflação reprimida terá que ser corrigida.
As assessorias de todos os candidatos sabem disso, mas a da presidente Dilma continuará negando a necessidade das correções porque será o mesmo que concordar com as críticas da oposição. Tentará esconder e dourar a pílula.
Todos sabem que algo terá de ser feito para corrigir a herança dos últimos anos, mas a equipe do atual governo ainda está convencida dos méritos de alguns dos seus despropósitos. O perigo será adiar o enfrentamento dos problemas porque eles ficarão mais pesados.
A energia virou uma barafunda. Há passivos para todos os lados pelas confusas regras do modelo. O empréstimo assinado na sexta-feira, de R$ 11,2 bilhões, será pago até outubro de 2017, com o custo de CDI e mais 1,9% ao ano. O que significa que a conta de luz será de amargar por pelo menos esse período: os consumidores pagarão a cobertura dos custos normais do sistema, partes desse empréstimo maluco, outros aumentos provocados pelo populismo tarifário de 2013 e os desequilíbrios provocados pela má gestão do setor. Estava previsto para ser iniciado em 2014 o funcionamento de bandeiras tarifárias, que elevariam a conta quando houvesse maior uso de energia das térmicas. Mas o governo vetou a sua entrada por ser ano eleitoral. Isso elevou mais a conta para o futuro.
O combustível vai ser reajustado para ter alguma paridade com os preços internacionais. A presidente da Petrobras, Graça Foster, tem dito que é fundamental buscar essa convergência. A falta dela está produzindo um prejuízo que tem cálculos diversos conforme a taxa de câmbio, ou a forma de projeção, mas ninguém duvida que é um dos problemas da Petrobras, com reflexos nas contas externas.
A inflação entrará no ano que vem no limite máximo permitido pela política de metas de inflação e ainda com essa pressão de preços administrados, que terá que ser repassada. Isso fará subir os índices.
Quem estiver assumindo o governo gastará o seu período de lua de mel para fazer esse primeiro ajuste na casa, que pressionará a inflação, vai chacoalhar o setor elétrico e restaurar o realismo nos números das contas públicas. Se o eleito for a atual governante, ela terá de ter um boa explicação para ter adiado o enfrentamento dos problemas para depois das eleições. Em 1999, o governo FHC pagou um preço amargo por ter deixado para depois das urnas a desvalorização cambial. Sua popularidade despencou e, mesmo após subir, jamais voltou aos níveis em que estava ao ser reeleito em primeiro turno.
Há ainda uma necessidade de revisão do estilo de gestão pública em inúmeras áreas. A estarrecedora notícia dada esta semana pelo colunista José Casado se transformou em reportagens feitas pela televisão e jornal exibindo flagrantes do impensável: o racionamento de vacinas nos postos de saúde. Para quem não leu, vale a pena recuperar a coluna publicada na terça-feira. Até a vacina tríplice está sendo distribuída de forma racionada. Problemas que o Brasil pensava que tinham superado voltam a assombrar.
Há ajustes inevitáveis em alguns gastos. O déficit da previdência foi subestimado este ano, mas tem aumentado. Um dos problemas é o da pensão por morte. Em outros países, a viúva ou viúvo recebe a pensão parcial. É proporcional à idade que tem e ao fato de ter ou não filho. Aqui, é integral, mesmo que seja um casamento de uma pessoa idosa com outra superjovem, sem filhos, e com capacidade de se sustentar. Outro dos mistérios é a conta de seguro-desemprego, com crescimento explosivo em época de baixa taxa de desocupação.
Vale torcer por algumas boas notícias, como a retomada da economia mundial, uma boa temporada de chuvas que recupere o nível dos reservatórios e uma aceleração do PIB que aumente a arrecadação.
Um novo período de governo é sempre animador, e a pessoa que assume, ou reassume, chega com o poder entregue pelas urnas. Mas não terá tempo de comemorar. Terá de fazer ajustes para garantir a prosperidade nos anos seguintes.