Páginas

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Maranhão na Pauta - Folha de S. Paulo: Pedrinhas sem controle


Pedrinhas sem controle
Presídio no Maranhão onde presos foram decapitados é disputado por 4facções criminosas
JULIANA COISSIDE SÃO PAULO
São Luís, no Maranhão, deixou há três anos de ser um local em que traficantes isolados negociavam drogas para se tornar território de disputa de facções apoiadas por organizações criminosas de São Paulo e do Rio.
O resultado da guerra entre os grupos PCM (Primeiro Comando do Maranhão) e Bonde dos 40 é um rastro de mortes nas ruas e dentro do presídio de Pedrinhas, o maior do Estado, onde 62 presos morreram desde 2013.
Infraestrutura frágil, falta de agentes de segurança e de investimento público completam o cenário da escalada de violência no Estado.
O PCC paulista e o Comando Vermelho no Rio atuam indiretamente no Maranhão. "Eles fazem uma espécie de convênio: Quem fornece a droga para vocês [facção local] sou eu'", diz o subdelegado-geral do Maranhão, Marcos Afonso Júnior. "E com isso vem o armamento e a experiência que eles têm."
Mais antigo e numeroso, o PCM é formado por presos transferidos do interior para Pedrinhas. Surgiu há dez anos, mas se consolidou há cerca de três. Copiou o nome do "padrinho" PCC, de quem recebe a droga.
O contato ocorreu em 2003, quando chegaram a Pedrinhas assaltantes do Sudeste flagrados em roubos no Maranhão. Esse intercâmbio permitiu aos maranhenses entenderem como se organizava o tráfico paulista.
A rixa entre capital e interior acelerou a formação do PCM. Agentes, presos e policiais disseram à Folha que detentos de outras cidades eram humilhados e roubados ao chegarem a Pedrinhas.
Há dez anos, um deles decidiu romper a "tradição". Moisés Magno Rodrigues, o Saddam, veio de Pinheiro, terra natal do ex-presidente José Sarney, e rebelou-se contra os roubos. Depois mobilizou presos do interior para que se protegessem. Hoje, detido em presídio federal, é um dos chefes do PCM.
DISSIDÊNCIA E BARBÁRIE
Foi apenas em 2010, quando detentos maranhenses foram transferidos para presídios federais, que o crime se organizou em São Luís.
Nas penitenciárias de segurança máxima, chefes do PCM tiveram contato com os do PCC. Da mesma forma, presos de São Luís sem facção conheceram o modo de agir do CV.
Há três anos, surgiu o Bonde dos 40, para se opor ao PCM. Chefes do Bonde foram os primeiros a intimidar traficantes da capital maranhense, disseminando medo. A maioria das decapitações nos motins é atribuída a eles.
Pedrinhas abriga ainda os Anjos da Morte --os mais temidos pela selvageria-- e os Mensageiros do Inferno.
Enquanto o Bonde decapita e esfaqueia, os Anjos esquartejam. Há relatos até de canibalismo: em motim em dezembro, eles teriam comido o fígado de um morto.
Um ex-preso, testemunha de rebelião de outubro em Pedrinhas, conta: "Esse senhor estava sentado com a Bíblia na mão quando pegaram ele. Morreu com 40 perfurações. Desfiguraram o rosto. Abriram o peito e tiraram o coração, cortaram braço e perna".

OUTRO LADO
Governo afirma que entregou novos presídios
DE SÃO PAULO
O governo do Maranhão, por meio de nota, informou que não se pronunciaria sobre a ação de facções criminosas no complexo penitenciário de Pedrinhas, o maior do Estado.
"Qualquer tipo de informação que venha a ser veiculada", diz em resposta, "nada contribui para a resolução de problemas no sistema penitenciário".
Em relação aos presídios, o governo informou que foram entregues novas unidades, como as UPRs (Unidades Prisionais de Ressocialização) das cidades de Santa Inês, Davinópolis, Açailândia, Chapadinha e Bacabal.
Também diz que inaugurou o anexo da UPR de Imperatriz e instalou no bairro Monte Castelo, em São Luís, um espaço que abriga detentos de regime semiaberto.
Essas novas unidades, segundo o governo maranhense, em nota, "reforçaram o serviço já prestado pelas unidades regionais de custódia de Timon, Pedreiras, Imperatriz e Caxias".
POLICIAMENTO
O governo afirmou também que homens da Polícia Militar e da Força Nacional de Segurança deverão permanecer no complexo prisional de Pedrinhas "enquanto for necessário".
O governo do Maranhão não respondeu ao questionamento da Folha sobre a razão de policiais militares e agentes da Força Nacional não terem sido acionados antes das 60 mortes que encerraram o ano de 2013 em Pedrinhas.