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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Prognósticos do passado - RENATO FERRAZ

    Sabe o que mudará na sua vida caso você se vista de branco no réveillon? Provavelmente, nada. E azul? Também. E rosa? Nadinha de nada. Sério: como fazemos nossas próprias crenças, precisamos brincar disso - e com isso, claro. Que tal, então, fazer prognósticos e não listinha de resoluções para serem ignoradas logo em janeiro? Como serão as décadas, os anos, os meses vindouros?
    Fábio Gandour, diretor brasileiro de uma importante empresa de tecnologia, acha, por exemplo, que a escassez de água no planeta será o maior problema da humanidade. Seu cenário é montado sobre o átomo, cujo número é constante. Como a população segue aumentando, vai diminuir a quantidade de átomos por habitante. E quais átomos vão faltar primeiro? Hidrogênio e oxigênio conectados numa molécula chamada água, defende ele. A Ásia, conta Gandour, será o primeiro continente a sentir a falta dela. "Isso não é uma especulação. É aritmética", garante o pesquisador.

    Esse tipo de análise é assustador. No entanto, o que mais mete medo é o fato de governantes serem extremamente lenientes com essas previsões. Em relação a Brasília, por exemplo, vale questionar: em qual futuro desembocará a nefasta soma de vias e mais vias asfálticas com mais prédios e uma crescente e quase enlouquecida venda de carros? Em mais engarrafamentos, mais estresse, mais acidentes. Sim, obviamente, essa é a análise do pessimista, mas está baseada em percepções relevantes, em avaliações históricas, no simples olhar ao lado.
    Mas como acredito mais em cientistas do que em políticos, volto aos primeiros: as cidades vão se adaptar à população, garantem alguns deles. A defesa da tese não é tão aritmética assim, mas esse mistério será desvendado. Já há lugares não mais combatendo, mas se adaptando ao horário de rush, às idiossincrasias do tempo, aos nossos anseios. Vamos ser, em 2014 ou 2020, bem mais prefeitos: "mandando" tapar buracos logo ao vê-los ou melhorando o ridículo sistema meteorológico que hoje avisa aos moradores de um morro, mediante uma lúgubre sirene, algo do tipo: "Fujam, vocês vão morrer"