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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Waldir Maranhão marcou encontro com doleiro no Palácio dos Leões

Investigado por lavagem de dinheiro, Fayed Traboulsi acerta encontro com deputado federal na sede do governo do MA
Feita com autorização da Justiça, a conversa faz parte do inquérito da Operação Miqueias; político nega ilegalidade
FERNANDA ODILLADE BRASÍLIA
    A Polícia Federal interceptou um diálogo no qual o deputado federal Waldir Maranhão (PP-MA) combina um encontro no Palácio dos Leões, sede do governo em São Luís, com o doleiro suspeito de comandar um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de fundos de pensão.
    Gravada com autorização da Justiça, a conversa entre o deputado e o doleiro Fayed Traboulsi faz parte do inquérito da Operação Miqueias, da PF, aberto em fevereiro do ano passado e que apurou movimentação suspeita de R$ 300 milhões em 18 meses.
    Além de Waldir Maranhão, a PF identificou que pelo menos outros dois deputados federais mantinham algum tipo de contato com integrantes da quadrilha investigada.
Eduardo Gomes (PSDB-TO), secretário do governo do Tocantins, e David Alcolumbre (DEM-AP) admitem que conheciam o doleiro e conversaram com ele. Os dois negam terem tratado de qualquer tipo de negócio ilegal.
    Além da conversa que cita o Palácio dos Leões, Waldir Maranhão foi flagrado em um outro diálogo com o doleiro.
    O deputado diz que marcou um encontro "lá em casa, à noite". Fayed questiona: "Lá em casa onde, aqui ou lá? Aqui em Brasília?". E Maranhão responde: "É. Aqui no meu apartamento". O doleiro encerra dizendo: "Então beleza. Tamo junto [sic]".
    Em outra conversa, de novembro de 2012, Fayed chama o deputado de "chefe" e Maranhão responde "meu irmão, tudo bem?". No diálogo, o deputado orienta o doleiro a procurar um prefeito para resolver um negócio.
    Maranhão foi secretário de Ciência e Tecnologia do governo Roseana Sarney (PMDB) até março de 2010.
    A assessoria do deputado diz desconhecer qualquer diálogo no qual Maranhão e Fayed combinam encontro na sede do governo local. Informou ainda que o doleiro esteve no apartamento do deputado num jantar oferecido a parlamentares, assessores e empresários "para apreciarem a culinária do Maranhão" e que ele chama todo mundo de "meu irmão".
INQUÉRITO NO STF
    Segundo nota da PF, as investigações "apontaram a possibilidade de que agentes públicos com prerrogativa de função estivessem envolvidos no caso" e, por isso, o inquérito foi enviado para o STF.
    Caberá à mais alta corte autorizar a abertura de investigação para apurar a participação dos deputados e de outras autoridades que mantinham contatos suspeitos com integrantes da quadrilha.
    A polícia deflagrou a Operação Miqueias há três semanas, quando apreendeu documentos, carros de luxo e uma lancha avaliada em R$ 5 milhões. A PF já identificou anotações da quadrilha que indicariam "suposto pagamento de comissão" a Gomes. O secretário nega ter recebido dinheiro para mediar encontros do grupo com prefeitos.
Mas são as conversas que revelam o contato estreito entre o doleiro e deputados.
    "A análise do conteúdo das conversas interceptadas entre Fayed [...] e os deputados federais Carlos Eduardo Torres Gomes e Waldir Maranhão Cardoso, dentre outros, alguns somente mencionados nas referidas ligações interceptadas, [...] apontam para o possível envolvimento desses parlamentares com os objetivos da organização investigada", afirmou o desembargador Cândido Ribeiro na decisão em que determinou o envio do inquérito ao STF.
    Na investigação, a PF identificou um esquema de desvio de recursos de fundos de pensão. O grupo é suspeito de oferecer vantagens a prefeitos para que investissem em fundos suspeitos.
Da Folha