O músico Chico Buarque pediu desculpas, nesta quinta-feira, por ter negado a informação de que dera entrevista para a biografia "Roberto Carlos em Detalhes" (Planeta), de Paulo César Araújo --o biógrafo sempre o citara entre as fontes.
Na quarta, em texto publicado no jornal "O Globo", Chico escreveu: "Me disseram que a biografia é a sincera homenagem de um fã. Lamento pelo autor, que diz ter empenhado 15 anos de sua vida em pesquisas e entrevistas com não sei quantas pessoas, inclusive eu. Só que ele nunca me entrevistou".
Ontem, em entrevista à Folha, Araújo contou que entrevistou Chico na tarde de 30 de março de 1992, na casa do cantor, na Gávea. O biógrafo enviou à Folha fotos da entrevista para comprovar a afirmação. "Comecei o projeto em 1990, entrevistando quase 200 pessoas. A de Chico foi filmada e também está registrada em fotos. Ele se esqueceu de que deu a entrevista", disse.
Questionado pela Folha, Chico Buarque enviou, via assessoria de imprensa, o pedido de desculpas. "Não me lembrava de ter dado entrevista alguma a Paulo Cesar Araújo, biógrafo de Roberto Carlos. Agora fico sabendo que sim, dei-lhe uma entrevista em 1992 [...] Errei e por isso lhe peço desculpas", escreveu.
Mas fez uma ressalva, argumentando que apenas uma das perguntas foi sobre sua relação com Roberto Carlos: "Pelo que ele diz, foi uma entrevista de quatro horas onde falamos sobre censura, interrogatórios, diversas fases e canções da minha carreira. Ainda segundo ele, uma das suas perguntas foi sobre a minha relação com Roberto Carlos nos anos 60. No meio de uma entrevista de quatro horas, vinte anos atrás, uma pergunta sobre Roberto Carlos talvez fosse pouco para me lembrar que contribuí para sua biografia".
Chico Buarque (esq.) com o escritor Paulo César de Araújo, em entrevista em 1992 |
ÚLTIMA HORA
Araújo também se manifestara sobre outra acusação de Chico Buarque feita no texto para "O Globo". Segundo Chico, Araújo teria usado no livro "Eu Não Sou Cachorro Não" uma declaração falsa do cantor publicada no jornal "Última Hora" nos anos 1970.
O cantor diz no texto, sobre a declaração, que seria "impossível, em pleno governo Médici" ter feito uma declaração que denegrisse o Brasil, e que tal informação deveria ter sido vista "com alguma reserva pelo biógrafo e pesquisador".
Segundo Araújo, a declaração, tal como reproduzida no livro, não trazia nenhuma crítica nacionalista. "O jornal 'Última Hora' trazia uma crítica de Chico ao fato de Caetano e Gil usarem a imagem de exilados para tentar fazer sucesso no exterior, não uma crítica ao país".
Araújo diz que chegou a procurar o autor da reportagem no "Última Hora" depois que Chico o questionou a respeito, por ocasião da publicação de "Eu Não Sou Cachorro Não", mas que o jornalista já tinha morrido. E que, além disso, não houve nenhum questionamento do cantor ao "Última Hora" por ocasião da entrevista, nos anos 1970.
Na nota enviada nesta quinta-feira, Chico mantém o que disse sobre o "Última Hora": "Eu não falaria com a Última Hora (de São Paulo) de 1970, que era um jornal policial, supostamente ligado a esquadrões da morte. Eu não daria entrevista a um jornal desses, muito menos para criticar a postura política de Caetano e Gil, que estavam no exílio. Mas o biógrafo não hesitou em reproduzi-la em seu livro, sem se dar o trabalho de conferi-la comigo", escreveu.
Leia abaixo a íntegra da nota:
"Eu não me lembrava de ter dado entrevista alguma a Paulo Cesar Araújo, biógrafo de Roberto Carlos. Agora fico sabendo que sim, dei-lhe uma entrevista em 1992. Pelo que ele diz, foi uma entrevista de quatro horas onde falamos sobre censura, interrogatórios, diversas fases e canções da minha carreira. Ainda segundo ele, uma das suas perguntas foi sobre a minha relação com Roberto Carlos nos anos 60. No meio de uma entrevista de quatro horas, vinte anos atrás, uma pergunta sobre Roberto Carlos talvez fosse pouco para me lembrar que contribuí para sua biografia. De qualquer modo, errei e por isto lhe peço desculpas.
Quanto à matéria da Última Hora, mantenho o que disse. Eu não falaria com a Última Hora de 1970, que era um jornal policial, supostamente ligado a esquadrões da morte. Eu não daria entrevista a um jornal desses, muito menos para criticar a postura política de Caetano e Gil, que estavam no exílio. Mas o biógrafo não hesitou em reproduzi-la em seu livro, sem se dar o trabalho de conferi-la comigo. Só se interessou em me ouvir a fim de divulgar o lançamento do seu livro. Não, Paulo Cesar Araújo, eu não falava com repórteres da Última Hora em 1970. Para sua informação, a entrevista que dei ao Mario Prata em 1974 foi para a Última Hora de Samuel Wainer, então diretor de redação, que evidentemente nada tinha a ver com a Última Hora de 1970, que você tem como fonte."