JOÃO BOSCO RABELLO - O Estado de S.Paulo
Em meio ao caos que precede e permeia todo fim de ciclo histórico, de que é cenário hoje a política nacional, uma placa teutônica se desloca longe dos olhos da maioria, mantendo distante o que parece o fim do mais longevo feudo patrimonialista brasileiro - o clã Sarney no Maranhão, não por acaso, onde se registram os piores índices de vida do País há décadas.
Os ventos de mudança que impõem a transformação dos costumes políticos decadentes, herdados do colonialismo português , parecem ter alcançado a ilha de resistência mais notória desse processo, segundo as pesquisas à sucessão da governadora Roseana Sarney.
Pela primeira vez, a oposição larga na frente na disputa eleitoral no Estado - e com uma vantagem até recentemente impensável de 45% sobre o segundo colocado. O presidente da Embratur, Flávio Dino (PC do B), lidera a corrida em todos os cenários, sendo o mais expressivo o que o coloca com 60% da preferência contra 15% de Luis Fernando (PMDB), apoiado pelo clã Sarney.
Cenário que se mantém quando Fernando é substituído pelo aliado histórico de Sarney, o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, dono do maior índice de rejeição (39%).
A pesquisa indica também a vitória da oposição na disputa pelo Senado contra qualquer um dos pré-candidato da família Sarney. Na disputa com Roseana, o vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha (PSB), tem 43,69% contra 35,38% da governadora.
Com mandatos ininterruptos desde 1955 (salvo breves sete meses entre a saída da Presidência e março de 1990), o senador José Sarney está diretamente ligado aos índices negativos do Estado. O mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), refletido na maior taxa de mortalidade infantil do País (28 por mil habitantes), na maior pobreza extrema e no menor número de médicos por habitante.
Significa dizer que no Estado comandado hoje por Roseana e os irmãos Murad - Jorge e Ricardo (este, secretário de Saúde, pasta com 50% do orçamento) -, 22% da população sobrevivem com R$ 2,20 por dia e só metade mora em casas com água e banheiro. Em contraste com a riqueza natural materializada no gás, petróleo, soja e indústrias e com o poder político nacional que fez do chefe do clã presidente da República e quatro vezes do Senado Federal.
Por vezes, essa supremacia estadual de Sarney foi ameaçada, mas jamais abalada. Porém, foi seguramente a aliança com o PT que lhe garantiu fôlego na última década, em que se impôs regionalmente, como demonstra a censura do presidente Rui Falcão à propaganda regional do partido, com críticas ao IDH do Estado, a pedido de Sarney.