Animal de 160 milhões de anos media 1 metro e tinha focinho comprido
Bicho é primeiro vertebrado da mais famosa Era dos Dinossauros achado no país, à exceção de peixes
Nas rochas do interior do Maranhão, pesquisadores da USP de Ribeirão Preto desencavaram fósseis de um dos mais antigos membros do grupo ao qual pertencem os jacarés e crocodilos de hoje.
Com cerca de 160 milhões de anos, o bicho, batizado de Batrachomimus pastosbonensis, também é importante por ser o primeiro vertebrado do país (à exceção de peixes) com restos que datam do período Jurássico, a mais famosa fase da Era dos Dinossauros, contou à Folha o coordenador da pesquisa, o paleontólogo Max Langer.
Fatores climáticos e geológicos fazem com que fósseis jurássicos sejam raros no país. Tanto é assim que, quando toparam com o crânio da criatura em maio do ano passado, Langer e seus ex-alunos Felipe Montefeltro e Marco Aurélio de França acharam que se tratava de um anfíbio dos grandes.
Explica-se: na região também há camadas geológicas de um período mais remoto, o Permiano, que terminou há 250 milhões de anos. Nessa época, anfíbios com estrutura corporal parecida com a dos jacarés atuais patrulhavam os rios maranhenses.
Desfeito o engano, os cientistas homenagearam a confusão ao batizar a espécie --Batrachomimus quer dizer "imitador de sapo", enquanto pastosbonensis se refere ao município de Pastos Bons, onde o bicho foi encontrado.
Além do crânio, os paleontólogos acharam cacos das patas e da armadura óssea do bicho. Era um animal pequeno --cerca de 1 m de comprimento-- e de focinho comprido e fino, lembrando os gaviais, bichos modernos nativos da Índia. A dentição deixa clara a predileção da criatura por uma dieta de peixes.
FAMÍLIA COMPLICADA
Isso não parece surpreendente, a não ser pelo fato de que, nessa época, os parentes remotos dos crocodilos eram, em sua maioria, bichos terrestres de pernas relativamente compridas, alguns até comendo plantas ou insetos.
O esqueleto do B. pastosbonensis, por outro lado, indica que ele não era membro dessas linhagens extintas esquisitonas (do ponto de vista moderno), mas sim do grupo dos Neosuchia, aquele ao qual pertencem os jacarés modernos. Dentro desse subgrupo, o fóssil maranhense é um dos mais antigos.
A análise feita pelos cientistas da USP sugere um parentesco com bichos que viveram na China, na Mongólia e no Uzbequistão.
É possível que os ancestrais de todos esses bichos já tivessem se dispersado pelo planeta quando havia um único supercontinente na Terra, seguindo trajetórias evolutivas separadas.
Os paleontólogos propõem outra ideia para explicar a semelhança desses protojacarés com os anfíbios grandalhões. Segundo eles, é possível que a extinção de tais anfíbios tenha deixado aberta a porteira para novos predadores semiaquáticos, o que levou alguns membros do grupo dos crocodilos a adotar a vida dentro d'água.
A descrição do bicho está na revista "Naturwissenschaften". O estudo teve apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq.