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domingo, 7 de julho de 2013

Henrique e Renan não me representam - RUTH DE AQUINO

Sugestão para um plebiscito simples: os presidentes da Câmara e do Senado devem renunciar? Sim ou não?
    Sugestão para um plebiscito simples e objetivo: os presidentes da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devem renunciar? Sim ou não? Henrique e Renan agora querem ouvir a voz das ruas, embora tenham sido eleitos em voto secreto por seus companheiros. Que tal perguntar ao povo se Renan & Henrique têm estofo ético para presidir o Legislativo e conduzir a moralização?
    Os dois usaram jatos da FAB para lazer pessoal e da família em fins de semana. Henrique foi de Natal ao Rio de Janeiro com filho, noiva, cunhado, concunhada e enteados para assistir à final Brasil x Espanha no Maracanã. Quanta generosidade com a verba alheia. Num Brasil já conflagrado por protestos, Renan foi com a mulher, no dia 15 de junho, de Maceió a Trancoso, na Bahia, para o casamento da filha do amigo Eduar­do Braga (PMDB-AM), líder do governo no Senado.
    São os aviões da alegria, transportando com nosso dinheiro políticos profissionais que vivem em outro mundo, dissociados da realidade, divorciados da moralidade, alheios ao anseio popular. A casta superior do País Partido.
    E as desculpas? Henrique tinha um “encontro oficial” na casa do prefeito do Rio, Eduardo Paes, no sábado, véspera da final da Copa das Confederações: “Não era turismo”. Renan disse que o casamento na Bahia foi um “compromisso de representação”. “Sou um presidente de Poder”, disse Renan, “na lei não há nada que diga que só posso usar avião da FAB a serviço.”
    Seu padrinho e mentor se chama José Sarney. Em agosto de 2011, Roseana Sarney cedeu um helicóptero da PM para levar o pai a sua ilha particular de Curupu. Ministros do STF desaprovaram como “desvio de finalidade” o uso pessoal de aeronave destinada à segurança e à saúde do povo. Lembremos a resposta de Sarney: “Tenho direito a transporte de representação, e não somente a serviço. É chefe de Poder”. Renan só deu um “copia e cola”.
    Um decreto presidencial de 2002 restringe o uso a “segurança e emergência médica; viagens a serviço; e deslocamentos para o local de residência permanente”. Henrique pediu desculpas pelo “equívoco” de ter dado carona. Prometeu devolver R$ 9.700 aos cofres públicos. O jornal Folha de S.Paulo fez cotação com as empresas TAM e Líder Aviação, que fazem frete particular. Nas mesmas datas, trechos e passageiros, o valor mais baixo foi de R$ 158 mil. Renan achou – e continua achando – que pode usar aviões da FAB para ir a casamento na Bahia. Só depois do barulho e da pressão, ele disse que devolveria R$ 32 mil aos cofres públicos.
    Em 2004, o filho do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Luís Cláudio Lula da Silva, usou um avião da FAB para uma excursão de amigos ao Palácio da Alvorada. No governo Fernando Henrique Cardoso, seis ministros usaram a FAB para ir com as famílias a Fernando de Noronha e foram condenados a ressarcir os gastos.
    Deveríamos encher um Boeing com esses políticos profissionais e mandá-los a uma reeducação intensiva. Um reformatório da vida real, onde pegassem ônibus e trem, usassem o SUS, matriculassem filhos na escola pública.
    Não precisamos desmoralizar os políticos. Eles desmoralizam a si próprios em golpes contra a cidadania. Alguém lembra o escândalo dos cartões corporativos em 2008? A ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, foi demitida por gastar R$ 175 mil só com aluguel de carros. O ministro do Esporte, Orlando Silva, usou cartão corporativo, com brasão da República, para levar a família a um hotel de luxo em Copacabana... e até para comprar uma tapioca recheada de queijo coalho e manteiga da terra.
    E os gastos de Rosemary Noronha com cartão corporativo? O jornal O Globo pede há seis meses acesso ao extrato da ex-servidora e secretária de Lula em São Paulo. A Presidência da República não vai liberar. Os gastos foram classificados como “reservados”.
    Esta é a verdadeira reforma política: a reforma da cabeça de quem habita o Palácio do Planalto e o Congresso. A maioria tem ensino superior, mas não aprendeu o bê-á-bá: distinguir o público do privado.
    Só um país da carochinha admite que Henrique e Renan elaborem sugestões para um plebiscito. Em janeiro, ÉPOCA revelou que, de acordo com a Polícia Federal, o empreiteiro da construtora Gautama pagou propina a assessores de Renan e Henrique por um contrato de R$ 77 milhões para construir uma barragem em Alagoas. Uma obra que recebeu R$ 30 milhões e parou. Renan amargou neste ano um repúdio inédito: 1,5 milhão de assinaturas de brasileiros exigiram sua saída da presidência do Senado.
    Não é pelos 20 centavos, nem pela tapioca, nem pelos jatos da FAB. É pela transparência e decência. Não, Renan e Henrique, os senhores não me representam. Precisa explicar ou tem de desenhar?
Da REVISTA ÉPOCA