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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Pesquisa - O sotaque nordestino em Libras

    A língua de sinais praticada no Nordeste brasileiro, assim como na língua falada, tem particularidades e expressões regionais que agora estão devidamente catalogadas. Em pesquisa inédita realizada no Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP), a especialista em Libras Janice Temoteo, cearense, percorreu os nove estados nordestinos e documentou mais de 4.200 sinais originais. “Trata-se da região com o maior índice de surdos proporcional à população do Brasil”, diz a pesquisadora. O estudo também traz uma inovação metodológica, com a produção de vídeos que facilitaram a catalogação dos novos sinais.
    A tese Lexicografia da língua de sinais brasileira do nordeste, além de representar grande contribuição na divulgação dos sinais em âmbito nacional, possui um grande potencial de integração a partir de elementos próprios da cultura regional nordestina. O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Neurolinguística Cognitiva Experimental (Lance), do IP, sob orientação do professor Fernando Capovilla. A pesquisa seguiu o padrão de registro dos sinais do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira (Deit-Libras), cuja autoria é do próprio Capovilla e da professora Walkiria Duarte Raphael, também do IP. A obra teve a primeira versão lançada em 2001, e em 2009 foi ampliada com mais sinais, chamando-se Novo Deit-Libras.
    Como um dicionário de língua oral, as obras Deit-Libras contêm verbetes de “A a Z”, com o significado de cada expressão, além de apresentarem explicações e ilustrações de como cada um dos sinais deve ser realizado. Não se trata, portanto, apenas de um manual, mas uma obra de referência para todos aqueles que se comunicam em Libras.
Verbetes nordestinos
    O projeto original do Dicionário foi desenvolvido a partir do contato com os próprios surdos. Consultados pelos professores, eles indicavam quais eram os sinais para cada palavra ou expressão. Por uma questão de logística, a primeira versão da obra, desenvolvida no Lance, valeu-se apenas da colaboração de surdos da região de São Paulo, mais acessíveis aos pesquisadores da USP.
    "Como cearense, nordestina, apesar de admirar muito a qualidade do Deit-Libras, senti falta da representação do Nordeste no livro”, explica Janice. A especialista procurou então, com orientação do professor Capovilla, documentar e criar verbetes próprios do Nordeste brasileiro, como “Farol da Barra” (na Bahia) e “baião de dois”, entre outros. Ela contou com a cooperação de 32 surdos espalhados em 15 cidades dos nove estados da região. Ao todo foram captados mais de 10 mil sinais do Nordeste, mas apenas 4.287 foram registrados como exclusivos da região.
    Todo o trabalho foi dividido segundo 25 categorias semânticas determinadas por Janice, como “culinária”, “cultura nordestina”, ou “religião”. A partir destas categorias eram reunidos surdos mais familiarizados com certos universos, de maneira a extrair fielmente, da própria experiência de cada um deles, os sinais de cada uma das expressões regionais.

Entenda a notícia:
A pesquisadora esteve em 15 cidades dos nove estados do Nordeste. Colheu expressões com 32 colaboradores surdos. Somou mais de 10 mil sinais, mas registrou 4.287. Dividiu o trabalho em 25 categorias semânticas 
Veja como o poeta Patativa do Assaré é identificado em Libras: 
Nas ilustrações acima, mãos horizontais fechadas, palma a palma, dedos indicadores e polegares distendidos e curvados, acima da cabeça. Baixar a mão e tocar as laterais da cabeça. Em seguida, mão vertical fechada, palma para a esquerda, dedos indicador e polegar distendidos e curvados, tocando ao redor do olho. Olhos quase fechados e sobrancelhas franzidas; Abaixo, o nome letra a letra.
De O Povo