Páginas

sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Festa no Covil" e o lado mais assustador do narcotráfico

   
"Festa no Covil"(Companhia das Letras), de Juan Pablo Villalobos, é um romance experimental da pulp da narcoliteratura, com seus disparos de tiros, traficantes e toda gama deste universo nefasto e patética, sem evidenciar as características marcantes deste gênero. É o primeiro romance do escritor mexicano, lançado originalmente na Espanha. A edição britânica foi selecionada pelo jornal The Guardian entre os cinco finalistas do First Book Award. 
    "Festa no Covil"  faz parte da variedade de gêneros pulp que emergiu na literatura latino-americana pós experimentalismos de Gabriel García Márquez e da contemporânea de Roberto Bolaño, Ricardo Piglia, Rodrigo Fresán e outros. A narcoliteratura trata do lado asqueroso do mundo dos chefões do tráfico. No pequeno romance de Juan Pablo Villalobos - de 88 páginas - as contradições desta realidade 
    A tradução de Andreia Morone foi respaldada pelo Programa de Apoio à Tradução de Obras Mexicanas para Línguas Estrangeiras (Protrad), mantido pelas instituições culturais mexicanas. Daí expressões como "passou a perna" , "cacetada de problemas", entre outras da língua portuguesa, terem respaldo do autor, que  revisou a tradução.
    A história de um chefão do tráfico e seu séquito de psicopatas violentos através dos olhos do príncipe herdeiro, uma criança de sentimentos mórbidos. É a "Festa no Covil" de Yolcault (serpente-cascavel), contada por Tochtli ("coelho", na língua asteca). O vocabulário de Tochtli conduz a narrativa do romance de Villalobos. No posfácio, Adam Thirlwell define a personalidade do narrados Tochli, uma criança confinada num universo sórdido como uma Alice às avessas, com manias de colecionar palavras e objetos insólitos, como hipopótamos anões da Libéria: "Uma pessoa não é só um acúmulo das manias das quais têm consciência; as pessoas são dominadas pelas manias que não sabem que têm". 
    Ao mesmo tempo inocente e cruel, Tochtli exemplifica a infância incompreendida. Imerso nestas circunstâncias o narrador subverte a literatura, revisando conceitos primários do conhecimento prezado pela escrita à confirmar que "os cultos sabem muito sobre os livros, mas não sabem nada da vida". Apartado da educação formal, Tochtli recomenda ao seu preceptor uma literatura ideal "com livros que dissessem o que está acontecendo no momento, enquanto você lê" para enfim constatar a inexistência destes por "ser mais difícil de escrever que os livros futuristas que advinham o futuro". Enfim, "um poderoso romance sobre inocência e bestialidade", como o definiu o crítico do The Telegraph.