RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA) |
O tornado Joaquim só espalha o que todo mundo diz. Que os partidos são “de mentirinha”. Que “o grosso dos brasileiros não vê consistência ideológica e programática em nenhum dos partidos”. Que “os partidos e seus líderes não têm interesse em ter consistência” e “querem o poder pelo poder”. E que o Congresso prima pela ineficiência e submissão ao Executivo.
Joaquim falou como professor, em palestra no Instituto de Educação Superior de Brasília. Não é desculpa. Ele pode ser tudo, menos ingênuo. Sabe que qualquer coisa que fale, ainda mais espinafrando, tem hoje o peso da toga e da posição no STF. O juiz supremo recebeu bordoada de todo lado. O presidente da Câmara, Henrique Alves, disse que “uma declaração desrespeitosa como essa não contribui para a harmonia constitucional”. O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que a declaração não ajuda “o fortalecimento das instituições”.
Joaquim – é pelo primeiro nome que o povo o conhece e o aplaude nas ruas – não negou nem voltou atrás, apenas afirmou ter falado como acadêmico em recinto fechado. Ora, ministro, paredes não resistem a tornados. Joaquim acha mesmo tudo o que disse. Na concepção de Alves e Renan, temos então no STF um golpista, um revolucionário, um juiz que joga contra a democracia e quer ver o circo pegar fogo. Menos, menos.
O roteiro da costura de alianças para 2014 é pior que na última novela da Globo, Salve Jorge. Estamos assistindo a “Salve-se quem puder”. É constrangedor acompanhar as cambalhotas de PT, PMDB, PSDB e PSB em busca de votos e palanques. Todas as declarações para a imprensa têm um quê de ameaça, chantagem, destempero, falsos beijos e tapinhas nas costas. Os slogans são pífios, os discursos são gritados. Como seria bom mandar todos os candidatos para a Capadócia, dar um tempo no noticiário político. Há uma imensa carência de ideias e programas. Capítulo após capítulo, vemos uma guerrinha de personalidades, saias justas, jantares conspiratórios.
Acompanhamos boquiabertos a manipulação de estatísticas jogadas para baixo – como os índices de inflação e o total de miseráveis. No fundo, a realidade dos políticos é rasa. A governadora Roseana Sarney só pressiona por mais uma ajudinha de R$ 1,5 bilhão para o Maranhão, o Estado que desmoraliza o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Pensando bem, o pedido de Roseana não é nada para um governo federal que gasta com 39 ministérios, em 17 prédios, a fortuna anual de R$ 58 bilhões, mais que o dobro do Bolsa Família. Falar contra esse escândalo do toma lá dá cá também atenta contra a democracia? Essa gastança é imposta a todos nós, que já sentimos a inflação pesar a cada visita ao supermercado. Não dá para enganar todos o tempo inteiro.
Será que o comportamento errático do Congresso e de nossos partidos colabora para “o fortalecimento das instituições”? Esqueçam Joaquim e olhem para seu próprio umbigo. Ah, a Justiça também tem sua parcela de culpa. Várias decisões do STF nos últimos anos contribuíram para tornar os partidos pouco representativos. As falhas do Judiciário não desmerecem, porém, o discurso de Joaquim por um Legislativo mais eficaz. Com objetivos mais nobres, que honrem o espírito público. É só ter mais coerência e princípios. Mentir menos. Tudo isso ajudaria, sim, na democracia. Ajudaria a votar com gosto e convicção.
As críticas de Joaquim aos partidos encontram um eco poderoso no mais novo indicado ao STF: o advogado Luís Roberto Barroso. Ele sempre defendeu uma reforma política abrangente, “que desça à raiz do problema” e combata “a corrupção e o fisiologismo”. Barroso critica Fernando Henrique Cardoso e Lula: “Nem FHC nem Lula tentaram mudar o modo como se faz política no Brasil. (...) Eles aderiram a esse modelo de presidencialismo sem base ideológica, com eleições em que se vota em candidatos, e não em partidos”. Traduzindo para o português corrente: nossos partidos são de mentirinha.
O tornado é um intenso redemoinho de vento que ocorre quando uma nuvem em movimento alcança a terra. No Brasil, esse fenômeno costuma ocorrer quando se dá o microfone a Joaquim.
Acompanhamos boquiabertos a manipulação de estatísticas jogadas para baixo – como os índices de inflação e o total de miseráveis. No fundo, a realidade dos políticos é rasa. A governadora Roseana Sarney só pressiona por mais uma ajudinha de R$ 1,5 bilhão para o Maranhão, o Estado que desmoraliza o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Pensando bem, o pedido de Roseana não é nada para um governo federal que gasta com 39 ministérios, em 17 prédios, a fortuna anual de R$ 58 bilhões, mais que o dobro do Bolsa Família. Falar contra esse escândalo do toma lá dá cá também atenta contra a democracia? Essa gastança é imposta a todos nós, que já sentimos a inflação pesar a cada visita ao supermercado. Não dá para enganar todos o tempo inteiro.
Será que o comportamento errático do Congresso e de nossos partidos colabora para “o fortalecimento das instituições”? Esqueçam Joaquim e olhem para seu próprio umbigo. Ah, a Justiça também tem sua parcela de culpa. Várias decisões do STF nos últimos anos contribuíram para tornar os partidos pouco representativos. As falhas do Judiciário não desmerecem, porém, o discurso de Joaquim por um Legislativo mais eficaz. Com objetivos mais nobres, que honrem o espírito público. É só ter mais coerência e princípios. Mentir menos. Tudo isso ajudaria, sim, na democracia. Ajudaria a votar com gosto e convicção.
As críticas de Joaquim aos partidos encontram um eco poderoso no mais novo indicado ao STF: o advogado Luís Roberto Barroso. Ele sempre defendeu uma reforma política abrangente, “que desça à raiz do problema” e combata “a corrupção e o fisiologismo”. Barroso critica Fernando Henrique Cardoso e Lula: “Nem FHC nem Lula tentaram mudar o modo como se faz política no Brasil. (...) Eles aderiram a esse modelo de presidencialismo sem base ideológica, com eleições em que se vota em candidatos, e não em partidos”. Traduzindo para o português corrente: nossos partidos são de mentirinha.
O tornado é um intenso redemoinho de vento que ocorre quando uma nuvem em movimento alcança a terra. No Brasil, esse fenômeno costuma ocorrer quando se dá o microfone a Joaquim.
Da Revista Época