Páginas

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Por Renan Calheiros, PMDB negocia outros cargos no Senado

    Em 2007, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) renunciou ao cargo de presidente da Câmara como estratégia para evitar que diversas denúncias surgidas contra ele levassem à cassação de seu mandato. Cinco anos depois, Renan trabalha intensamente nos bastidores para retornar ao posto do qual renunciou. Sabendo que seu nome ainda se reveste de polêmica, os aliados de Renan tratam de garantir que ele não tenha adversários na disputa. Assim, estão sendo negociados “pacotes” que abriguem em cargos estratégicos do comando do Senado eventuais nomes que pudessem se apresentar como alternativa à candidatura de Renan.
   Assim, enquanto os deputados já deram início ao processo para escolher o novo presidente da Câmara, os senadores estão em compasso de espera. Enquanto acerta as condições para voltar à presidência do Senado sem maiores riscos, Renan adia a oficialização da sua candidatura. Os dois principais nomes que ele tenta tirar do seu caminho, negociando compensações, são os senadores Luiz Henrique (PMDB-SC) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Entraram no jogo a negociação em torno das presidências da principal comissão permanente do Senado e também da Comissão Mista de Orçamento.
    Por conta da polêmica em torno do nome de Renan, Luiz Henrique faz correr em Santa Catarina a versão de que poderia vir a se candidatar caso tivesse o apoio do Palácio do Planalto. Assim, a primeira negociação gira em torno de compensar o senador catarinense para que não entre na disputa com Renan. E essa compensação pode ser dar-lhe a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada a mais importante do Senado. Integrante da cúpula do PMDB e aliado de Renan, o atual presidente da CCJ assumiria a liderança do partido, que é hoje exercida pelo próprio Renan.
Outro nome que se apresenta como possível candidato, Ricardo Ferraço seria compensado com a presidência da Comissão de Orçamento.
    Essas não são as únicas articulações de bastidores que de desenvolvem no partido. Renan até agora não tratou disso publicamente. Com a volta de Valdir Raupp (PMDB-RO) ao Senado nesta semana, a expectativa é que o processo saia dos bastidores e seja iniciado. Presidente nacional do PMDB, ele estava afastado do cargo para coordenar as eleições municipais. A decisão sobre a candidatura à presidência cabe aos senadores, mas a presença de Raupp conta nas articulações.
    Além de Luiz Henrique e Ferraço, há outros nomes que precisam ser abrigados. O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPI do Cachoeira, também ambiciona a principal cadeira do Senado. Seu nome também foi colocado como possível para presidir a CCJ. Outro que se movimenta é Romero Jucá (PMDB-RR). Alijado da liderança do governo pela presidenta Dilma Rousseff, atualmente ele é o relator geral do Orçamento 2013.
    Esse é o ponto que preocupa outros partidos no Senado. Os senadores do PT, por exemplo, temem que o PMDB possa tentar invadir outros espaços para abrigar outras compensações para abrir caminho à candidatura de Renan. Espaços que hoje são do PT, como a primeira vice-presidência do Senado (que hoje está com o senador petista Aníbal Diniz, do Acre) e a Comissão de Assuntos Econômicos (comandada atualmente pelo petista Delcídio Amaral, do Mato Grosso do Sul).
Governo
    Renan renunciou à presidência do Senado em 2007 na esteira do escândalo Mônica Veloso. Na época, a jornalista Mônica Veloso revelou que tivera com Renan uma filha fora do seu casamento. Para fazer o pagamento da pensão alimentícia à filha e de outras despesas pessoais de Mônica, Renan valia-se da ajuda de um lobista seu amigo, Cláudio Gontijo, ligado à empreiteira Mendes Júnior. Várias denúncias começaram a surgir contra Renan após o caso. Pressionado, ele deixou, então, a presidência do Senado. O caso foi parar no Conselho de Ética do Senado, que recomendou a sua cassação. Levado, porém, ao plenário, Renan acabou absolvido.
    Apesar do desfecho favorável, Renan não conseguiu mais recuperar o prestígio e o poder que tinha antes do caso vir à tona. Seu nome ainda é sinônimo de polêmica, e é por isso que ele não é o candidato dos sonhos do Palácio do Planalto, que preferia uma alternativa. A presidenta Dilma Rousseff, porém, não quer se envolver diretamente na disputa, pois sabe que Renan ainda tem poder no PMDB e teme, por essa razão, que uma ação contra ele acabe produzindo sequelas.
    Havia a expectativa entre a alta cúpula do governo que Edson Lobão reassumisse o mandato e disputasse a sucessão do atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Porém, é pouco provável que ele saia do Ministério das Minas e Energia. Especialmente após ficar internado por duas semanas no Hospital Israelita Albert Eistein, em São Paulo, para tratamento de uma infecção.
Trunfo
Renan tem um trunfo estratégico. Definido que a presidência do Senado ficará com o PMDB, é Renan quem, como líder da bancada, dá início ao processo de discussão interna para a escolha do nome. É, portanto, Renan quem dita o ritmo da sucessão de Sarney. Além disso, mesmo com toda a polêmica em torno do seu nome, ele ainda tem, afirmam os senadores peemeebistas, comando suficiente para impedir que outros se atrevam a disputar a indicação com ele e vencer.
    Senadores ouvidos pelo Congresso em Foco, sob a condição do anonimato, comentam que apenas Renan pode tirar a presidência dele mesmo. Não existe na Casa adversário capaz de vencê-lo na disputa. Muito pelo trânsito que possui entre parlamentares da base e também da oposição. No entanto, dizem que a demora em ele admitir a candidatura é a possibilidade de passar os próximos dois anos como alvo da imprensa e até de colegas oposicionistas. Um parlamentar relatou que o “rescaldo de 2007” pesa na decisão.
    A avaliação que o peemedebista faz neste momento é se vale a pena ser eleito presidente do Senado e correr o risco de passar o mandato “sangrando”. Além de voltarem à tona as denúncias que o fizeram renunciar em 2007, de ter a vida vasculhada. “Não existe nenhum fato novo contra o senador Renan. Ele foi julgado e absolvido pelos seus pares”, disse o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), atual presidente da CCJ do Senado.