A família estava dividida. Metade achava que o primo Osvaldo estava fazendo um
papelão, concorrendo a vereador com aquele slogan, "Osvaldo baixa o pau", e
aparecendo na televisão com cara de mau. Logo o Osvaldo da tia Margarida, um
doce de pessoa.
- Vexame - era a opinião de alguns.
Já outros achavam que o Osvaldo tinha todo o direito de entrar na política e se apresentar daquele jeito. Cara de mau, braços cruzados, dizendo "Comigo corrupto vai se dar mal, Osvaldo baixa o pau". Atraía voto.
- É ridículo.
- Então democracia é ridícula?
- E isso é democracia?
- É.
Os que achavam que o Osvaldo estava envergonhando a família argumentavam que ele, inclusive, estava mentindo. Nunca fora de briga. Nunca baixara o pau em ninguém. Era um doce de pessoa.
- E vocês queriam que o slogan dele fosse esse, "Osvaldo, um doce de pessoa"?
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Um dia o Marcelinho chegou da escola eufórico. Tinha se transformado num herói da turma, depois da descoberta de que era parente do Osvaldo. Ficara encarregado de pedir autógrafos do Osvaldo para todo o mundo. De preferência santinhos do Osvaldo de braços cruzados e cara de mau autografados.
Marcelinho se esforçava para promover a imagem do primo. Ele era mesmo de baixar o pau?
- Uma fera - confirmava o Marcelinho.
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As discussões sobre o Osvaldo eram intermináveis.
- Esses candidatos folclóricos, sem nenhuma condição para serem políticos, desmoralizam a democracia, isto sim.
- Vocês é que são elitistas. Não querem democracia, querem ser governados por uma aristocracia. Têm horror do povão.
- E desde quando o Osvaldo é povão? Vive da pensão da tia Margarida. Nunca fez nada na vida.
- E quem garante que a vocação dele não é para a política? Pode ser uma revelação.
- Então vocês acreditam que ele vai baixar o pau como diz?
- Quem sabe? Quem sabe?
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Faltava o velho Tobias dar a sua opinião. O patriarca raramente se manifestava, à mesa. Mas desta vez falou. Lembrou que o Osvaldo, mesmo que não combatesse os corruptos, poderia ajudar a família. Como vereador, depois - quem sabe? - como deputado, poderia dar uma mãozinha na questão daquele terreno contestado cujo processo se arrastava por tantos anos. Influenciando autoridades e, em vez de baixando o pau, mexendo os pauzinhos certos. De qualquer maneira, seria bom ter um político representando os interesses da família.
- Afinal - disse o velho Tobias -, democracia é isso.
- Vexame - era a opinião de alguns.
Já outros achavam que o Osvaldo tinha todo o direito de entrar na política e se apresentar daquele jeito. Cara de mau, braços cruzados, dizendo "Comigo corrupto vai se dar mal, Osvaldo baixa o pau". Atraía voto.
- É ridículo.
- Então democracia é ridícula?
- E isso é democracia?
- É.
Os que achavam que o Osvaldo estava envergonhando a família argumentavam que ele, inclusive, estava mentindo. Nunca fora de briga. Nunca baixara o pau em ninguém. Era um doce de pessoa.
- E vocês queriam que o slogan dele fosse esse, "Osvaldo, um doce de pessoa"?
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Um dia o Marcelinho chegou da escola eufórico. Tinha se transformado num herói da turma, depois da descoberta de que era parente do Osvaldo. Ficara encarregado de pedir autógrafos do Osvaldo para todo o mundo. De preferência santinhos do Osvaldo de braços cruzados e cara de mau autografados.
Marcelinho se esforçava para promover a imagem do primo. Ele era mesmo de baixar o pau?
- Uma fera - confirmava o Marcelinho.
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As discussões sobre o Osvaldo eram intermináveis.
- Esses candidatos folclóricos, sem nenhuma condição para serem políticos, desmoralizam a democracia, isto sim.
- Vocês é que são elitistas. Não querem democracia, querem ser governados por uma aristocracia. Têm horror do povão.
- E desde quando o Osvaldo é povão? Vive da pensão da tia Margarida. Nunca fez nada na vida.
- E quem garante que a vocação dele não é para a política? Pode ser uma revelação.
- Então vocês acreditam que ele vai baixar o pau como diz?
- Quem sabe? Quem sabe?
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Faltava o velho Tobias dar a sua opinião. O patriarca raramente se manifestava, à mesa. Mas desta vez falou. Lembrou que o Osvaldo, mesmo que não combatesse os corruptos, poderia ajudar a família. Como vereador, depois - quem sabe? - como deputado, poderia dar uma mãozinha na questão daquele terreno contestado cujo processo se arrastava por tantos anos. Influenciando autoridades e, em vez de baixando o pau, mexendo os pauzinhos certos. De qualquer maneira, seria bom ter um político representando os interesses da família.
- Afinal - disse o velho Tobias -, democracia é isso.