Em
2010, na disputa pelo governo do Maranhão, o jornal Vias de Fato
não apoiou nenhuma candidatura. Na ocasião, deixamos clara nossa opção de
esquerda e, por isso mesmo, nossa oposição intransigente ao projeto de
“reeleição” de Roseana. Em São Luís, nesta eleição de 2012 (assim como em
2010), não existe apenas uma opção de esquerda ou de oposição. Enquanto a
direita - com João Castelo e os candidatos de Sarney - continua muito bem
representada. Diante deste quadro, seguiremos sem apoiar uma candidatura.
É
comum jornais ou revistas declararem votos num candidato. Nossa opção atual se
dá por conta das circunstâncias e não por achar que uma publicação não possa
apoiar quem quer que seja. Um apoio, dentro de um ambiente democrático, é
natural. Porém, no caso de São Luís, nossa decisão, nesta conjuntura, é de não
apoiar um nome ou partido. Seguiremos ao lado da agenda e das demandas da
sociedade, incluindo aí o dramático problema da falta de água e de tratamento de
esgoto, da ausência de mobilidade urbana e de um transporte público de
qualidade, por uma educação e saúde decentes, na defesa permanente dos direitos
humanos e do meio ambiente, da luta por moradia digna e regularização fundiária,
contra os despejos, entre outras questões graves e urgentes.
Como
dissemos em nossa edição de setembro de 2011, São Luís fará 400 anos, com mil
problemas e alguns presentes de grego, caso da termelétrica a carvão de Eike
Batista e de uma avenida (a Via Expressa) feita para aproximar shoppings,
passando por cima de uma imensa área verde e de uma importante comunidade
tradicional, o Vinhais Velho. Não estamos omissos! Diante destes problemas nossa
posição é clara! Estamos ao lado da luta referente a questões que foram tratadas
por nós ao longo de quase três anos e que seguirão conosco, não apenas nesta
campanha, mas, também, depois dela. Até porque, a ação cotidiana do Vias
de Fato não está - nem nunca esteve - associada à mera (e às vezes
ridícula) cata de eleitores...
Queremos
também deixar claro que reconhecemos a importância do processo eleitoral. Antes
de tudo, o voto é uma conquista da sociedade brasileira. Num passado recente,
muitos morreram, foram perseguidos ou torturados, para que hoje se possa votar.
Não estamos, nem de longe, pregando voto nulo ou coisa que o valha. Mas, ao
falar na conjuntura e seus problemas, é da nossa responsabilidade dizer que,
hoje, as eleições no Brasil estão muito longe de dar todas as respostas
políticas que o nosso país precisa.
No
Maranhão, então, a situação é ainda pior. Aqui, o nosso processo eleitoral está
degenerado! O financiamento de campanha é ainda mais criminoso, a esquerda segue
espremida, dividida e dialogando pouco, o oportunismo não escolhe partido, a
compra de votos se sofistica a cada pleito e o abuso de poder econômico já virou
regra. Mensalão, por essas bandas, é brincadeira de criança. No caso de São
Luís, não é a toa que as primeiras pesquisas têm dado João Castelo em primeiro
lugar, apesar da rejeição e de uma administração, evidentemente, muito ruim.
Neste cenário ultra-atrasado, em uma terra controlada por máfia, a intenção de
votos é proporcional ao dinheiro gasto na campanha, sem falar nas fraudes e dos
vários golpes pela via judiciária.
Então,
caros leitores, sem descartar (ou desrespeitar) as organizações partidárias e as
diferentes opções de muitos e valorosos companheiros e companheiras,
consideramos que, neste Maranhão-2012, diante dessa realidade, é fundamental
continuar resistindo e denunciando (sem meias palavras) o crime organizado e
estimulando a sociedade a participar do processo político. Estas são nossas
prioridades! Resistir, abrir o verbo contra os principais opressores deste
estado e incentivar esta participação, para além do voto, estimular o
protagonismo e o diálogo das organizações populares (urbanas e rurais), de
diferentes entidades da sociedade civil, do meio universitário, dos professores,
dos estudantes, do meio cultural e sindical.
Aqui,
mais do que qualquer outro lugar do Brasil, é impossível falar em mudança sem
organização, mobilização, educação popular e um profundo (profundo!) debate
político. Sem isso, não teremos saída, muito menos um arremedo de democracia.
Sem isso, cada eleição seguirá se repetindo como farsa! Com o voto de opinião
perdendo cada vez mais espaço e os agiotas, os quadrilheiros e os tribunais, com
mais força no jogo, do que qualquer organização social e/ou política.
*Editorial
da 35º edição do jornal Vias de Fato
(agosto de 2012).
Publicado no www.viasdefato.jor.br