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segunda-feira, 14 de maio de 2012

A REDE GLOBO CHEGA AO PANTANAL MARANHENSE

Raimundo Nonato Martins Cutrim* 
    Foi em abril de 1992 que o repórter Alberto Gaspar e o cinegrafista Francisco Mafezzoli Junior do Programa Globo Rural, chegaram ao Maranhão, para fazerem uma reportagem sobre a Baixada Ocidental Maranhense. Quando estava no Rio de Janeiro, escrevi para a direção do programa em São Paulo, dizendo que nasci em uma das mais belas regiões do país, e que era pouco conhecida. Enviei a eles um trabalho científico denominado “Animais Malacófagos da Baixada Maranhense” da minha autoria. Em poucos dias eles me ligaram, dizendo que tinham interesse de fazer uma reportagem sobre a região, mas só chegaram depois de cinco anos, quando eu já estava envolvido em uma candidatura política para a Prefeitura de São João Batista.
    Chegaram em um domingo, dia de feira na cidade. Filmaram as pessoas chegando da zona rural, em búfalos e cavalos, e houve a apresentação do bumba-meu-boi e do tambor de crioula do município. Filmaram o mercado municipal e a venda de pequenos peixes. Depois se dirigiram para as áreas mais altas, e mostraram as péssimas condições de moradia do povo, morando em casas de palha com paredes de barro e chão batido, sem água, e sem saneamento. Entrevistaram os moradores, com suas roças de tôco e o trabalho duro e pouco rentável nas casas de forno onde é produzida a farinha de mandioca. Depois se dirigiram aos campos alagados e entrevistaram pescadores e criadores de búfalos. Os pescadores falando que os búfalos destroem a vegetação aquática e as suas redes e a água se torna turva pelo pisoteio, impedindo a criação de peixes. E os criadores dizem que quem destrói os peixes  são os pescadores com suas redes de malha miúda. Em seguida filmaram a caça predatória da Jaçanã. Eles dizem que só vão aos campos caçar porque não tem outra alternativa, pois o trabalho é duro, principalmente para quem vai empurrando a canoa. O repórter mostra um “uruá” para o caçador e ele responde que é muito perigoso para quem vai andando nos campos porque “a boca do bicho só revela pá riba do pé da gente, e aí o gorpe é medonho”.
    A última parte do programa foi sobre esquistossomose, doença endêmica grave, que acomete grande parte da população da Baixada Ocidental Maranhense.
    O programa foi apresentado em 1993 e reapresentado em 1994 como um dos melhores do ano.
    Algumas lideranças políticas da região não gostaram do programa, alegando que só mostraram o lado negativo. Eu expliquei que se a região tivesse uma agricultura mecanizada, indústrias para empregar a população da região para que não necessitassem de ir aos campos, certamente a Rede Globo teria mostrado. Mas o que se viu e ainda se vê é que após vinte anos que foi realizada a reportagem quase nada mudou.
    A região tem o município mais pobre do país – São Vicente Ferrer, e os demais seguem o mesmo caminho de extrema pobreza. Escrevi um artigo com o título São Vicente Ferrer, o município mais pobre do país e dei sugestões para melhorá-lo. Espero que os governantes tirem algum proveito do que escrevi.
    Foi uma alegria muito grande, quando o principal canal de televisão do país, enviou para o mundo inteiro a reportagem sobre uma das mais belas regiões do país, a Baixada Ocidental Maranhense. Ela encerra o programa com as frases: Que a região é rica do ponto de vista biológico e muito pobre socialmente e que a pobreza do homem, é uma perigosa arma para o meio ambiente e que o semblante das pessoas é um misto de cansaço e falta de esperança.

*Médico sanitarista, Professor da UFMA e Doutor em Doenças Tropicais.
rncutrim@gmail.com