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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sobre o legado de Décio Sá e as carpideiras do jornalismo

O assassinato do jornalista Décio Sá trouxe à luz um debate sobre a ética posta em prática no jornalismo do Maranhão. Embora perpassado por passionalidades, frivolidades e sentimentalismos até justificáveis pelas circunstâncias da morte de Sá, a discussão que emergiu do fato tende a se distanciar dos temas relevantes suscitados por tal particularidade.
Um dos pioneiros na utilização do diário on-line no Maranhão, Décio Sá se projetou como repórter full time, sempre atento aquilo ou àqueles que rendiam audiência. Sempre ferino em relação aos algozes da oligarquia carcomida, ao mesmo tempo complacente com os desvios de conduta dos atores do grupo político hegemônico, coincidentemente seus patrões, nem por isso seu trabalho deixava ou deixou de ter importância no campo do jornalismo.
No exercício da profissão o jornalista do Sistema Mirante buscava sempre evadir-se dos assuntos incômodos aos ditos patrões, coincidentemente timoneiros da vida política e condutores da administração pública no estado há gerações a fio.
Não se trata de, nesse momento delicado de dor lancinante entre familiares, amigos e colegas, promover um julgamento sobre individualidades que povoam a categoria.
O poeta e jornalista Roberto Kenard, que reputo como de estatura intelectual inigualável nesse meio repleto de falseadores, tem sacado as análises mais racionais sobre a tragédia e o legado do homem Décio Sá, cuja profissão em vida foi a de repórter.  Alinho-me a boa parte do pensamento do autor de “Do lado esquerdo do peito”, para quem as coisas do coração são do coração.
O papel do dinheiro no andamento da profissão de jornalista nauseia aos de estômago sensível tanto quanto excita os contumazes oportunistas de toda ordem. A busca por uma vida faustosa não é incompatível ao exercício pleno da profissão. Indissociável é, sobretudo, em um estado despótico como é o Maranhão. Muitos profissionais da área não enxergam isso por opção, oportunismo ou mera ignorância. Daí se flagrar com freqüência no meio os “negociantes de frases”, “espadachins das ideais e das reputações”, no melhor clichê das “Ilusões perdidas”, de Honoré de Balzac. Pode até soar soberbo, mas a isso devemos nos ater para o exercício mais coerente da profissão.
Crucificar aos que não prantearam o legado do repórter covardemente assassinado é mero exercício de oportunismo. São esses mesmos que clamam por justiça, os que dia a dia orvalham os campos das injustiças perpetuados nesse estado de exceção de direitos do cidadão. São os mesmos que silenciam à morte de um Raimundo Cabeça nesse mundo vasto de domínio oligárquico. Afinal, quem é mesmo esse Cabeça?!