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segunda-feira, 26 de março de 2012

O "Não" a João do Vale

Escola pra todo mundo matricular
o seu filho sem precisar pistolão
(João do Vale)
    Foi exatamente naquela segunda-feira, dia 03 de dezembro de 2001, que sai da minha residência para um programa que normalmente não faz parte da minha rotina: ir até à Câmara Municipal de Pedreiras. Naquela noite, entrava em votação o projeto que mudaria o nome da Avenida Rio Branco para Avenida João do Vale. No caminho da Câmara Municipal resolvi fazer uma pequena parada no "Bar do Índio" e bater um dedo de prosa com o Índio, o Didi e também o Vicente. A noite estava nublada e de repente faltou energia, apesar da minha tristeza ainda sorri bastante com os "causos "do meu velho amigo Chaponas. Mesmo em energia elétrica, refleti bastante em relação às muitas coisas da vida. Pensei muito no amor de João do Vale por Pedreiras. Ah! como João amou esta terra! Os meus passos foram ficando lentos, e a noite escura era iluminada timidademente por uma estrela que talvez fosse a "Estrela Miúda". Uma chuva fina começou a cair. Pensei comigo mesmo:será que o João que chora de tristeza porque já sabe que vai ser mais uma vez discriminado na sua própria terra?Quando cheguei à Câmara, encontrei-me com a Gracinha, que é funcionária da Casa (Poder Legislativo). Perguntei se a sessão seria adiada, em decorrência da falta de corrente elétrica. Mal fechei a boca, a energia voltou novamente e a cidade ficou iluminada. Eram quase 21h00, mesmo assim, o presidente da Câmara ordenou o início da sessão.
    Vários projetos foram votados e aprovados, inclusive o projeto do Conselho da Criança e do Adolescente onde é discutido o teto salarial do Conselho Tutelar. Foi então aprovado somente com um salário mínimo. Que vergonha! Conheço Municípios menores do que Pedreiras, que o salário do Conselho Tutelar é bem melhor.
   A maior surpresa foi quando aprovaram um Título de Cidadão Pedreiriense para o Gerente de Segurança Pública e Cidadania do Estado do Maranhão, o Senhor Raimundo Cutrim, e somente dois Vereadores náo votaram a  favor, mas a maior decepção foi ver o voto de um parlamentar que, na legislatura passada, fora acusado injustamente de um crime, depois de um acidente automobilístico que culminou na morte de um amigo seu. Este cidadão que hoje é cidadão Pedreirense, e com o seu voto, Vereador. naquela época ele mandou fazer a exumação do cadáver, tentando colocar a culpa exclusivamente em você. E, tem mais: ainda com o apoio de quem dá sustentação política em troco de nada! Não deu para entender esse voto. Bem, mas vamos ao que interessa. Na galeria da Câmara Municipal, poucas pessoas assistiam àquela sessão. Lembro-me muito bem do Poeta Wesley Brito, do Barrêto, a Jane Glêb, Ildeth, Áurea, Vasconcelos e a Luzia (dona do restaurante João do Vale, na vizinha cidade de Trizidela do Vale-Ma) e outras pessoas das quais não recordo os nomes. Aconteceu uma coisa bastante curiosa, porque durante a leitura dos outros projetos, os Vereadordss conversavam em pequenos grupos divididos, sem dar muita atenção para a leitura de cada projeto apresentado naquele momento. "Submeto à apreciação". Depois falava, "Sumeto à aprovação". "Se aprovarem, continuem sentados". Todos ficavam sentados. Mas quando foi a vez do projeto que muraria o nome da Avenida Rio Branco para Avenida João do Vale, a coisa foi bem diferente: os parlamentares ficaram todos atentos, e quando o Presidente sumeteu o projeto à apreciação e à aprovação somente três votaram a favor: Eliud Santos, Otacílio Fernandes e o Dinart, que na última hora, resolveu votar a favor da arte. Foi duro acreditar, mas era a pura verade. Os outros que votaram contra a aprovação do projeto "Avenida João do Vale" , eu prefiro nem citá-los. Mas todos sabem em Pedreiras que na legislatura de 1997 a 2000, havia uma parlamentar que defendia esse mesmo projeto. O estranho é que agora ela mudou de posição; não deu para entender Vereadora, afinal isso não é posição política, é o grande poeta do povo! Exatamente na semana do aniversário de sua morte, os Vereadores da nossa terra, mataram-no mais uma vez... 


*Do livro "A Rua da Golada e sua Identidade", de Samuel Barrêto, Prêmio Gonçalves Dias de Literatura (São Luís - MA, 2009)