Poetas de SP propuseram que a poesia fosse feita segundo equações, o que nos pareceu sem propósito
Creio não haver dúvida da importância que tem o movimento neoconcreto na história recente da arte brasileira. Por isso mesmo, como um dos fundadores desse movimento, sinto-me na obrigação de esclarecer certos pontos que ajudam na compreensão de como ele surgiu, como se desenvolveu e se diversificou.
Costuma-se afirmar que o movimento neoconcreto nasceu da ruptura minha com o grupo concretista paulista, o que não é verdade. Essa ruptura se deu em meados de 1957, e o manifesto neoconcreto, por mim redigido, que dá nome à nova tendência, é de começos de 1959, quase dois anos depois.
Na verdade, a ideia de caracterizar o grupo de artistas do Rio, até então considerados concretistas, como neoconcretos nasceu da constatação de que o que faziam diferia muito do que se considerava arte concreta. Não foi uma invenção minha, e sim uma constatação.
Na verdade, desde as primeiras manifestações concretistas, nos primeiros anos da década de 1950, o grupo paulista, liderado por Waldemar Cordeiro, mostrava-se mais teórico e racionalista na concepção da obra do que o carioca, mais intuitivo. Essa mesma diferença se daria, mais tarde, entre os poetas concretos das duas cidades, o que levou à ruptura.
Como se sabe, os poetas de São Paulo propuseram que a poesia fosse feita segundo equações matemáticas, o que nos pareceu sem propósito e irrealizável. A ruptura se deu por essa razão, entre os poetas.
Sem dúvida alguma, essas duas maneiras distintas de ver a criação artística determinariam as diferenças que marcavam os dois grupos e que foram se acentuando a cada dia, até me levar à constatação do novo rumo que tomavam os trabalhos dos artistas plásticos e dos poetas do grupo carioca.
A ideia de atribuir um nome novo a essas experiências não teve nada a ver com a rivalidade entre mim e os poetas concretistas paulistas. Foi, sem dúvida, a constatação de que alguma coisa nova surgira e começava a tomar corpo. Dar a ela um novo nome e tentar entender o que se passava só nos fez tomar consciência do caminho novo que se abria e, a partir daí, explorá-lo, ampliá-lo, enriquecê-lo.
E isso ocorreu não porque teria eu inventado o neoconcretismo, mas sim porque ele já nascera antes que lhe desse um nome, mesmo porque, em arte, não é a teoria que cria a obra, e sim o contrário.
Não pretendo afirmar que a criação artística se dá às cegas, por mera intuição. Digo é que a criação intuitiva vem primeiro e, então, nasce o diálogo entre a teoria e a prática, uma fecundando a outra.
No caso neoconcreto, houve uma interatividade entre os poetas e os artistas plásticos, uma vez que, com a poesia concreta, o fator visual -a construção gráfica do poema- ganhou um peso que não tinha na poesia até então. Além do mais, os poetas neoconcretos foram além da exploração gráfica, tornando o poema um objeto manuseável, como nos "livros-poema", "poemas espaciais" e "poema enterrado".
Essa participação corporal, que ganharia mais amplas dimensões nas obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica, tornou-se uma das principais contribuições daquele movimento.
Não obstante, a contribuição neoconcreta não se limita a isso. Pelo fato mesmo de que, em nosso grupo, não imperava a teoria, mas a criatividade e a intuição de cada um, há que ressaltar o que havia de original e próprio nos trabalhos de Amílcar de Castro e Franz Weissmann, por exemplo, que, diferentemente de Lygia e Hélio, não fizeram da participação corporal o fator de sua linguagem.
Amílcar concebia a placa bidimensional como o elemento primeiro da escultura e, a partir desse elemento essencial, sem fazer concessões à linguagem tradicional da escultura, criava a tridimensionalidade, o volume virtual. Já Weissmann aliava ao rigor formal a intuição da forma e do espaço, inventando, com ajuda da cor, uma nova poética para a escultura.
Costuma-se afirmar que o movimento neoconcreto nasceu da ruptura minha com o grupo concretista paulista, o que não é verdade. Essa ruptura se deu em meados de 1957, e o manifesto neoconcreto, por mim redigido, que dá nome à nova tendência, é de começos de 1959, quase dois anos depois.
Na verdade, a ideia de caracterizar o grupo de artistas do Rio, até então considerados concretistas, como neoconcretos nasceu da constatação de que o que faziam diferia muito do que se considerava arte concreta. Não foi uma invenção minha, e sim uma constatação.
Na verdade, desde as primeiras manifestações concretistas, nos primeiros anos da década de 1950, o grupo paulista, liderado por Waldemar Cordeiro, mostrava-se mais teórico e racionalista na concepção da obra do que o carioca, mais intuitivo. Essa mesma diferença se daria, mais tarde, entre os poetas concretos das duas cidades, o que levou à ruptura.
Como se sabe, os poetas de São Paulo propuseram que a poesia fosse feita segundo equações matemáticas, o que nos pareceu sem propósito e irrealizável. A ruptura se deu por essa razão, entre os poetas.
Sem dúvida alguma, essas duas maneiras distintas de ver a criação artística determinariam as diferenças que marcavam os dois grupos e que foram se acentuando a cada dia, até me levar à constatação do novo rumo que tomavam os trabalhos dos artistas plásticos e dos poetas do grupo carioca.
A ideia de atribuir um nome novo a essas experiências não teve nada a ver com a rivalidade entre mim e os poetas concretistas paulistas. Foi, sem dúvida, a constatação de que alguma coisa nova surgira e começava a tomar corpo. Dar a ela um novo nome e tentar entender o que se passava só nos fez tomar consciência do caminho novo que se abria e, a partir daí, explorá-lo, ampliá-lo, enriquecê-lo.
E isso ocorreu não porque teria eu inventado o neoconcretismo, mas sim porque ele já nascera antes que lhe desse um nome, mesmo porque, em arte, não é a teoria que cria a obra, e sim o contrário.
Não pretendo afirmar que a criação artística se dá às cegas, por mera intuição. Digo é que a criação intuitiva vem primeiro e, então, nasce o diálogo entre a teoria e a prática, uma fecundando a outra.
No caso neoconcreto, houve uma interatividade entre os poetas e os artistas plásticos, uma vez que, com a poesia concreta, o fator visual -a construção gráfica do poema- ganhou um peso que não tinha na poesia até então. Além do mais, os poetas neoconcretos foram além da exploração gráfica, tornando o poema um objeto manuseável, como nos "livros-poema", "poemas espaciais" e "poema enterrado".
Essa participação corporal, que ganharia mais amplas dimensões nas obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica, tornou-se uma das principais contribuições daquele movimento.
Não obstante, a contribuição neoconcreta não se limita a isso. Pelo fato mesmo de que, em nosso grupo, não imperava a teoria, mas a criatividade e a intuição de cada um, há que ressaltar o que havia de original e próprio nos trabalhos de Amílcar de Castro e Franz Weissmann, por exemplo, que, diferentemente de Lygia e Hélio, não fizeram da participação corporal o fator de sua linguagem.
Amílcar concebia a placa bidimensional como o elemento primeiro da escultura e, a partir desse elemento essencial, sem fazer concessões à linguagem tradicional da escultura, criava a tridimensionalidade, o volume virtual. Já Weissmann aliava ao rigor formal a intuição da forma e do espaço, inventando, com ajuda da cor, uma nova poética para a escultura.
Finalmente, devo esclarecer que não me afastei da arte neoconcreta por ter rompido com ela e com meus companheiros. Nada disso. Simplesmente, considerei ter esgotado aquele caminho, ter perdido o entusiasmo com que o percorria. Caí no vazio. O engajamento político, que ocorreu em seguida, veio preencher aquele vazio. Minha experiência neoconcreta se esgotara, mas minha vida, não.
Da Folha de S. Paulo