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domingo, 31 de março de 2024

Sebo Brandão resistiu à Amazon, mas se despede de Salvador por falta de herdeiro

 


Aberto em 1969, sebo criado por pernambucano virou símbolo na cidade e tem história digna de prateleiras



Na calçada e acima da porta de entrada do Sebo Brandão Bahia, dois banners simbolizam o ponto final de uma história de 55 anos. “Descontos imperdíveis”, anunciam as placas, feitas há menos de um mês a pedido de um dos herdeiros do maior templo de livros de Salvador.

“Até junho, julho no máximo, fecharemos as portas”, projeta Eurico Brandão Junior, 66 anos, entre as prateleiras fartas de títulos, enquanto se inteira dos últimos capítulos do negócio.

Desde 1969, o Sebo Brandão ocupa a casa de número 15 da Rua Ruy Barbosa, conhecida no Centro como o endereço dos antiquários.

O criador do espaço, o pernambucano Eurico Bezerra Brandão, 95, reivindica o título de sebo mais antigo e até tentou patentear o uso comercial do nome “sebo”, que remete a venda, compra e troca de livros usados. Não conseguiu.

Mas o sebo teve mais êxitos que derrotas: entrou na rota de intelectuais e de trabalhadores em geral, montou a biblioteca de milhares de baianos, e passou a compor o panteão de símbolos da vida intelectual soteropolitana.

A notícia do fechamento do sebo, especulada no boca a boca desde o início de março, provocou uma corrida de antigos frequentadores até lá. Principalmente porque ela veio seguida de um anúncio: os 100 mil livros disponíveis nas estantes serão vendidos por até 50% de desconto. No pix ou no dinheiro, nada de cartão.

“Nós fazemos parte da cultura baiana. Agora vamos ajudar, retribuir, incentivando mais gente a comprar bons livros por preços promocionais”, avalia Brandão Júnior, que toca a filial do Sebo Brandão em São Paulo, aberta nos anos 70, e veio para Salvador para os acertos finais.

O motivo do fechamento é familiar. Vera Brandão, que ajudava o pai, Eurico, a tocar o negócio, faleceu no fim de fevereiro, depois de uma síndrome respiratória. Pelas limitações físicas da idade, Eurico, que voltou para Recife depois da morte da filha, sabe não poder conduzir as coisas sozinho.

Como Eurico filho já toca os negócios da família na capital paulista e a outra herdeira vive em Recife, não há um novo administrador possível. 

Na última década, o sebo também sentiu o peso da soberania do varejo online, em especial da Amazon. O Brandão Bahia aderiu à venda online em 2007. “Mas a venda é fria, aqui há uma venda quente. O livro te chama”, diferencia Brandão Júnior.

No tête-à-tête com os funcionários, ou com os frequentadores atentos às manhas da compra de livros usados, como a arte da pechincha, tudo pode acontecer.

Por exemplo, conhecer novos títulos, se deparar com livros do século 18, ou encontrar um gerente de projetos com um saco cheio de camarão e pescada branca em busca de livros de Henry Miller,

Rosalvo Neto, 28, só tinha o volume "Nexus", da trilogia Crucificação Rosada do norte-americano. Faltava "Sexus" e "Plexus", que comprou por R$ 40. No site da Companhia das Letras, editora que publicou a obra, eles custam R$180, mas estão indisponíveis.

“É um choque saber que vai fechar. É uma era que se acaba”, lamenta ele, frequentador do sebo desde os 13. Quando estudava em uma escola próxima, perdeu as contas de quantas aulas matou para se perder no garimpo de livros. “É um mundo diferente, não existe pressa".

Até a decisão do fechamento, o Brandão Bahia, esse universo onde não há tempo, viveu uma história digna de prateleira, com sucesso, reconhecimento e brigas pelo caminho.

O convite de Luís Vianna trouxe o sebo

O sebo Brandão nasceu do atrevimento de um pernambucano com visão de negócio. Nascido em um distrito de Tauapiranga, no sertão de Pernambuco, Eurico Brandão se mudou para a capital Recife em busca de um emprego que valesse a pena.

Ele sonhava em ser médico, mas as obrigações familiares — ele já era casado e pai — e a condição financeira não permitiam.

A Medicina passou a ocupar outro espaço na vida dele, e seria decisiva para o futuro do sebo. O jovem Eurico encontrou emprego como gerente em uma editora de livros médicos no centro e observou uma zanga que se repetia.

Os jovens clientes reclamavam dos gastos frequentes com os livros, trocados a cada semestre da faculdade.

“Então ele foi observando aquilo, foi comprando e revendendo livros. Aí deu um problema e ele montou seu sebo”, conta o filho. Como qualquer bom empreendedor, foi chamado de louco, e insistiu na loucura.

Primeiro, Eurico abriu a filial do centro do Recife. O irmão mais novo dele, João Brandão, se tornou seu parceiro na empreitada. Aos 84 anos, o caçula lembra que foi Luís Vianna Filho, governador da Bahia entre 1967 e 1971, quem convidou os dois a abrir uma sede em Salvador. O político, quando ia para Recife, gostava de passar pelo sebo dos Brandão.

Com um apadrinhamento desses, não teve como fugir. O Sebo Brandão chegou a Salvador em 1969, onde os irmãos fixariam residência nos anos seguintes. O primeiro e único endereço foi a Rua Ruy Barbosa, por onde passavam todo tipo de freguês.

político Roberto Santos e o escritor João Ubaldo Ribeiro eram frequentadores assíduos, segundo João. Já Jorge Amado, se alguém esperava por isso, não dava as caras. "Ele só entrava na Livraria Civilização Brasileira, na Rua Chile", conta João.

Turistas estrangeiros também batiam ponto por lá, interessados pelas raridades, que incluem títulos de boa parte do mundo e vão da medicina popular aos clássicos e edições únicas de escritores que ninguém sabe bem o nome.

A versatilidade dos produtos e do perfil dos clientes perdurou. Em uma manhã no Sebo Brandão, é possível encontrar funcionários públicos, historiadores, técnicos, intelectuais desempregados e gente que entrou por acaso.

Nos primeiros anos do sebo em Salvador, João ficou mais próximo aos negócios, já que o irmão, Eurico, logo expandiu a empresa para São Paulo. Na capital paulista, a filial está localizada na Rua Conde do Pinhal, número 42, e permanecerá aberta.

A escritora, diretora e dramaturga Aninha Franco conheceu o Sebo Brandão na estreia dele na capital baiana. A cidade era quatro vezes menor (tinha 869 mil habitantes), e quem gostava de livros estava sempre de olho no que surgia de novidade pelas ruas.

Na época, ela tinha 16 anos e era estudante do Colégio Central. Vivia as descobertas da juventude em um dos períodos mais repressivos da Ditadura Militar.

Poucos meses antes de o Sebo Brandão abrir, os ditadores decretaram o AI-5, ato que apertou a perseguição política e a censura. O negócio literário, no entanto, atravessou essa época sem fechar as portas.

Foi o período, na verdade, em que o velho Eurico contava ter comprado o maior número de livros, em um comércio paralelo que o regime de repressão não alcançou.

Antes de deixarem o país, como exilados, baianos davam um jeito de passar pelo sebo. Mas, lá dentro, ninguém falava sobre o que se passava no país. "O AI-5 era mortal. Continuávamos frequentando as livrarias, os sebos, mas certos assuntos, só na intimidade", afirma Aninha, que começou a montar, a partir dali, a sua biblioteca.

O início do fim do sebo 

"Tenho 17 mil e 42 livros. Deles, uns cinco mil eu comprei no Sebo Brandão", estima ela. A Coleção Brasiliana, composta por 415 livros publicados pela Companhia Editora Nacional entre 1931 a 1993, foi quase toda comprada lá. "Foram milhares de momentos marcantes", completa. Alguns deles são as brigas homéricas com João Brandão.

Aninha define o livro como sua "droga" e conta que, quando chegava ao sebo em abstinência, com o dinheiro da mesada todo gasto, encontrava problemas. "Ele sabia que eu desejava loucamente aquilo e disparava o preço", lembra, com bom humor. A fama de ser um sebo "careiro", como definem Aninha e outros frequentadores, continuou.

Mas nada que abalasse a amizade ou afugentasse ela, e demais clientes, de lá. "Aninha é uma amiga querida, eu adoro ela, mas é 'chorona' [pessoa que gosta de pechinchar], é natural!", defende-se, também boa praça, João.

Eurico Júnior disse não poder informar qual é o livro mais valioso do sebo, pois está na fase de levantamento do arquivo. Frequentadores garantem que as obras mais raras podem custar mais de R$ 1 mil.

"Trabalhei muitos anos da minha vida para sustentar o sebo", brinca Aninha, que quando soube do fechamento dele correu para lá.

Duas semanas antes de Vera falecer, Aninha tinha estado no sebo. As duas conversaram, sem poder imaginar que o faziam, sobre o futuro do espaço. Vera, perfilada como uma senhora alegre que fumava duas carteiras de cigarro por dia, sempre conversava com os clientes, sugeria livros e fazia graça.

Em certo ponto do papo, Aninha falou: "Nossa, esse lugar é tão deslumbrante". A sebista assentiu. "Tirando meus pais e os funcionários, venderia por R$ 5 milhões", brincou.

Foi a última vez que elas se viram e o início do fim do sebo. Depois do encerramento dele, a casa de 362m2 estará à venda. Ela está no miolo de um perímetro disputado por investidores: a 200 metros dos dois hotéis mais luxuosos da cidade, o Fera Palace e o Fasano.

O recomeço possível para o Sebo Brandão

Os irmãos Brandão romperam a parceria há 14 anos. Na versão de João, os dois passaram a discordar mais que concordar. O caçula, então, abriu o próprio sebo. É o João Brandão quase em frente ao Brandão Bahia. "É um templo histórico que fecha as portas. Um lugar fantástico", elogia, apesar das desavenças familiares.

A reportagem não conseguiu falar com Eurico, um autodidata que se educou pelos livros, e sabe ler de tudo um pouco, do russo ao alemão,

Nos últimos anos, por restrições na locomoção para subir ou descer escadas, Eurico trabalhava no subsolo do sebo. Os clientes que queriam vê-lo entravam pela porta dos fundos, acessada pela Rua do Curriachito. Ou desciam até lá pelas escadas laterais do primeiro piso, aonde também se chega depois de alguns degraus

O Brandão Bahia fecha em um momento em que livrarias e, talvez mais ainda, os sebos penam para encontrar um modelo de negócio possível para sobreviver à Amazon. A empresa norte-americana consegue comprar por preços menores livros em editoras, por isso revende a preços mais baixos, e revolucionou os prazos de entrega.

Na plataforma de vendas online, acha-se de agulha a livros. "De agulhas a aviões", prefere dizer João, ironicamente. "Não temos como competir com isso", assume

Na Bahia, existem ao menos 15 sebos, segundo a Associaçao Nacional de Livrarias (ANL). Nas cinco regiões brasileiras, há 105. João reconhece que o fim também será o mais provável destino do seu negócio.

"Serei sebista até o fim da vida. Mas com a decadência cultural que vivemos, é difícil", confessa João, pai de três filhos que seguiram outras profissões.

Para o historiador e funcionário público Marcos Roberto Santos, que reconhece as facilidades da compra digital, nem tudo está perdido. "Há mais de 10 anos venho ao Sebo Brandão. Em um sebo, encontro diversos livros que eu não teria conhecimento", comparou, depois de encontrar dois livros raros — a primeira edição de Recordações Históricas, de Braz do Amaral, e A primeira médica do Brasil, de Alberto Silva.

Em entrevistas anteriores, Brandão pai reconheceu que seu antigo lema, "saber comprar para ter sucesso", não era o suficiente para alcançar a prosperidade. Os tempos eram outros e começaram a pesar.

O primeiro Sebo Brandão a deixar órfãos foi de Recife, em 2018. Em Salvador, quando o Brandão Bahia fechar as portas, Vitor Silva, 27, único funcionário do local, pretende continuar o legado do espaço em um sebo próprio.

O sebista, antes de seguir essa carreira, nunca pensou em trabalhar com livros, queria mesmo era montar uma assistência técnica. Sem encontrar emprego na área, ouviu de um cunhado, em 2015, a sugestão de que mudasse de ares.

Aí foi picado pelo tal do "bichinho do sebo", como Eurico Júnior chama o momento inesperado que captura alguém para o universo dos sebos.

Enquanto dá volume à própria biblioteca, ele define os detalhes burocráticos do seu futuro negócio. Ele já tem o endereço: o bairro do Garcia, onde mora. Mas ainda falta escolher o nome, o local exato da sede e a data de abertura. “Estou terminado tudo”.

Eurico Júnior garante que o ajudará a seguir no ramo, com a doação de livros para o novo acervo. “Muitos livreiros também aprenderam com a gente, farei essa doação para contribuir.[...] [O fechamento] É uma pena, mas não há jeito”, afirma ele. De um jeito ou de outro, o Brandão Bahia continua, e será reencontrado pelas estantes por aí.

Design de políticas públicas e o direito de acesso à cultura

Por MARIA HELENA JAPIASSU MARINHO DE MACEDO e JOÃO PAULO MEHL

É dever constitucional do Estado garantir o acesso à cultaura (Arts. 215 e 216), por meio de políticas públicas que assegurem aos cidadãos participar e usufruir das fontes da cultura nacional, de seus bens e serviços. Este direito refere-se também ao acesso à política pública cultural, que serve de instrumento tanto para a livre criação quanto para a fruição.

O Brasil permanece constante em elevados índices de desigualdades econômicas e sociais, como demonstram os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNADC/IBGE) [1]. O Gini, um dos índices de análise da PNADC, aponta que, em 2022, entre 0 (igualdade absoluta) e 100 (desigualdade absoluta), as condições de desigualdades econômicas no Brasil foram de 0,518. No que diz respeito ao acesso à educação, a pesquisa informa que 5,6% da população com 15 anos ou mais, não sabe ler ou escrever, o que representa 9,6 milhões de pessoas.

A desigualdade se acentua se levarmos em consideração a interseccionalidade, que compreende a permeabilidade ou sobreposição de camadas de opressões e discriminações sociais. Assim, fatores como região geográfica, raça e gênero, por exemplo, repercutem na análise da vulnerabilidade subjetiva.

Pensar em como garantir o acesso à cultura no Brasil, um país rico em diversidade, e em contexto de grandes desigualdades, é, portanto, um desafio que enseja criatividade e inovação. A esse respeito, estão sendo desenvolvidas, sobretudo em âmbito federal, estratégias de democratização da acessibilidade das políticas públicas culturais. Uma dessas estratégias é o chamado “design de políticas públicas”, que se aproxima do conceito de “legal design” e de “design thinking”, utilizados no âmbito jurídico e corporativo contemporaneamente.

Mas o que significa “design de políticas públicas” e no que ele se constitui? Conforme estudo do Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (IPEA) [2], trata-se de uma “abordagem prática que, em sua essência, reconhece as incertezas e a complexidade dos desafios públicos, trazendo para o contexto da política pública uma visão centrada no ser humano.” Isto significa uma estratégia que, ao agregar o pensamento analítico ao criativo, busca fornecer uma abordagem mais humana no processo de formulação de políticas públicas, aproximando os cidadãos da burocracia.

Pode-se dizer, em outras palavras, que o design de políticas públicas tem como um de seus objetivos oferecer uma tradução cultural da linguagem burocrática da Administração Pública, por meio da recursos visuais e didáticos, a fim de torná-la mais compreensível aos cidadãos, considerados em seus contextos plurais. Exemplos dessa prática podem ser observados nas novas linguagens do Ministério da Cultura na promoção de suas ações, como a possibilidade de envio de projetos orais pelos proponentes, a promoção de editais com elementos visuais e sistema de perguntas e respostas que auxiliam na sua compreensão. Este processo é acompanhado de uma nova cultura digital e uma maior interação com o público, com a utilização de redes sociais para as relações públicas do órgão de governo.

A metodologia, neste sentido, não apenas democratiza o acesso à cultura, mas também eleva a participação social a um patamar diferenciado de efetividade e significados. Estando o cidadão no centro do processo de desenvolvimento de políticas públicas, cria-se um ambiente em que a participação não é apenas simbólica, mas fundamental na sua formulação. Esta abordagem visa a garantir que as políticas não só atendam às necessidades reais da população, mas também fortaleçam o vínculo entre o governo e os cidadãos, transformando-os de meros espectadores em cocriadores das políticas que afetam suas vidas.

Esta é uma preocupação que o Laboratório de Cultura Digital da Universidade Federal do Paraná (LAB/UFPR) também tem buscado alcançar, na compreensão de que os cidadãos, ao terem a sua participação social reconhecida, suas vozes e contribuições valorizadas no processo de formulação de políticas, tendem a tornar-se mais engajados e comprometidos com os resultados. Com base nesta expectativa de ampliação da participação cidadã, o LAB/UFPR incentiva a inovação e a criatividade, abrindo espaço para soluções que reflitam a diversidade e complexidade da sociedade brasileira, buscando integrar a cultura digital na transversalidade da construção de políticas públicas.

Ao utilizar ferramentas digitais e estratégias de design de políticas públicas, o LAB/UFPR facilita a participação dos cidadãos e explora formas inovadoras de engajamento e cocriação, apontando para um futuro em que a formulação de políticas seja uma jornada compartilhada entre governo e cidadãos. Este exemplo evidencia como a integração da cultura digital no design de políticas públicas pode ser um poderoso instrumento para a inovação na participação social, abrindo caminho para experiências que ampliem a democracia e a eficácia das políticas públicas no Brasil.

Embora não seja uma estratégia exclusiva do Ministério da Cultura e dos projetos a que se dedica o LAB/UFPR, o uso dessas estratégias tem sido inovador e vem ao encontro da norma constitucional que prevê o dever do Estado de democratizar a participação e o acesso à cultura, em todas as suas dimensões.

 

Maria Helena Japiassu Marinho de Macedo, advogada preventiva nas áreas de Artes, Cultura e Propriedade Intelectual.

João Paulo Mehl, coordenador do Comitê de Cultura do Paraná e é um dos idealizadores do Laboratório de Cultura Digital da UFPR.

 

Notas:

[1] IBGE. PNAD Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. In: IBGE. Janeiro 2024. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/2511-np-pnad-continua/30980-pnadc-divulgacao-pnadc4.html Acesso em: 20 mar 2024.

[2] CAVALCANTE, P; MENDONÇA, L; BRANDALISE, I. Capítulo 1. Políticas públicas e design thinking: interações para enfrentar desafios contemporâneos. In: INOVAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS: SUPERANDO O MITO DA IDEIA. CAVALCANTI, P. (Org). Brasília: IPEA, 2019. Disponível em: Políticas públicas e design.pdf (ipea.gov.br)

Memória de Marielle vive por Marinete Silva

 

Marinete e Antonio, pais de Marielle Franco — Foto: Leo Martins / Agencia O Globo

O assassinato de minha filha no dia 14 de março de 2018 foi o episódio mais difícil da minha vida. Perdi a Mari de forma violenta, cruel e inesperada. Foram 2.202 dias sem respostas, com vazamentos de informações sensíveis, tapinhas nas costas que não nos traziam nenhum conforto, até chegarmos ao último domingo, dia que entrou para a História do Brasil

Foi num Domingo de Ramos, data cristã que simboliza justiça, renovação e fé, que recebemos a informação da prisão provisória dos dois supostos mandantes e de um idealizador do assassinato de Marielle. Infelizmente, autoridades que, num primeiro momento, nos acolheram enquanto sofríamos e chorávamos a morte dela e de Anderson participaram do plano que tirou a vida da minha filha. Nos prometeram justiça, mas tramaram contra a vida dela. Não realizaram as diligências necessárias, sabotaram o processo, foram muitas idas e vindas, saídas de promotores e ameaças, e hoje tudo faz sentido.

Agora, nesta nova etapa em que os mandantes foram identificados, revivo tudo o que passei nos meses e eleições que se seguiram à morte da minha filha. Vejo, mais uma vez, pessoas de todos os campos políticos tentando se promover em cima da memória da Mari, com uma investida de várias partes, tentando ganhar notoriedade e se apropriar politicamente do caso, que agora entra numa nova fase. Como mãe, sinto um misto de tristeza e revolta com toda essa repercussão negativa e tentativa de apagar ou reduzir a memória da minha filha.

O oportunismo de uns e outros é uma situação que abomino, principalmente se for sobre a dor da nossa família, que sempre esteve ao lado da Justiça, e sempre por caminhos corretos, desde o ativismo de Marielle enquanto defensora dos direitos humanos até os dias de hoje, quando queremos que a justiça seja feita em seu nome. Não podemos esquecer o que Marielle exercia enquanto cidadã, seja no Parlamento, nas ruas, ou na sua vida pessoal, como filha, mãe, irmã, esposa e amiga, sempre teve uma postura alinhada à justiça e ao combate a qualquer opressão.

O caso de minha filha é uma mancha da democracia do nosso país e, como sempre falamos, nossa democracia só voltará a viver tempos verdadeiramente melhores quando tivermos respostas e justiça. Nesse caso, a justiça que queremos vai além da responsabilização dos executores e dos mandantes desse crime político. O que eu e minha família buscamos é uma justiça que responsabilize os autores do crime, com reparação para nós, e garanta a não repetição, ou seja, previna que outras mulheres negras e pessoas LGBTQIA+ vivenciem a terrível violência que minha filha passou. E garantam que nenhuma outra vida seja interrompida.

Por isso mais uma vez enfatizo que é inadmissível o posicionamento de pessoas falando do processo como se fossem do sangue da Marielle ou sofressem as dores das famílias que passaram por isso. Sobrevivemos por longos seis anos sem nenhuma resposta concreta ou que trouxesse luz e esperança para nós. Mas sobrevivemos por ela, por esse ser humano que gerei e só nos dá orgulho, que veio ao mundo para encantar, florescer, ser uma semente viva e mudar as estruturas deste país e também do mundo.

Por aqui, seguiremos com toda a sociedade brasileira fazendo a política no dia a dia e em todos dias, fazendo política ao me manter viva e de pé, com afeto e compromisso com as vidas de todas as mulheres negras, desenhando e construindo a transformação do nosso Estado. Como Marielle fez, e como hoje Anielle também faz, com muito respeito pela história da nossa família e por todas as mães que perderam seus filhos e filhas pela violência do Estado.

*Marinete Silva é mãe de Marielle Fran

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sábado, 30 de março de 2024

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sexta-feira, 29 de março de 2024

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quarta-feira, 27 de março de 2024

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terça-feira, 26 de março de 2024

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