segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O Globo - Por virada, Haddad quer reajustar a Bolsa Família



SÉRGIO ROXO sergio.roxo@sp.oglobo.com.br SÃO LUÍS (MA)
Na reta final da eleição, Fernando Haddad promete 20% de reajuste no Bolsa Família. Impacto seria de R$ 5,5 bilhões.

Com seis dias para tentar tirar uma vantagem de 18 pontos percentuais do seu rival, segundo o último Datafolha, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, vai apostar no eleitorado mais pobre nesta última semana de campanha. Numa amostra do tom que deve adotar nessa reta final, o petista anunciou ontem, em São Luís (MA), duas promessas de impacto direto no bolso do eleitor: reajustar em 20% o valor do Bolsa Família e impor um teto de R$ 49 para o preço do botijão de gás.

Ao lado dos ataques que visam desconstruir o líder das pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), o PT deve dar destaque a essas propostas nos últimos dias de horário eleitoral para tentar uma virada, inédita desde a redemocratização.

O candidato do PSL já havia feito movimento semelhante na semana passada, ao prometer o pagamento de um 13º salário para os beneficiários do Bolsa Família. Com o fracasso da tentativa de formar uma frente democrática, dirigentes do PT definiram que a única chance de vencer é atrair os eleitores de baixa renda, mais identificados com o ex-presidente Lula.

Coordenadores da candidatura avaliam que, apesar de Haddad liderar a intenção de voto neste grupo, Bolsonaro tem angariado simpatizantes nessa parcela da população.
No último Datafolha, Haddad aparece com 44% da preferência dos que ganham até dois salários mínimos, enquanto Bolsonaro tem 39%. Na pesquisa feita pelo instituto em 22 de agosto, última em que Lula figurou como candidato, o petista tinha 49% nessa faixa do eleitorado, contra 11% do capitão reformado.

O teto para o botijão de gás e o aumento do Bolsa Família já vinham sendo estudados, mas Haddad escolheu o momento mais estratégico para anunciá-los: um comício no bairro do Anil, uma região de casas de tijolo aparente e vielas estreitas com esgoto a céu aberto na periferia de São Luís. Do palanque, o petista perguntou quanto custava o gás na região. Ouviu que o preço estava em R$ 75.

— Então, quero dizer que, em 1° de janeiro, nós vamos tomar uma medida, e em nenhum lugar do país o gás vai poder custar mais de R$ 49.

O presidenciável revelou que foi influenciado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que diz ter ouvido a cobrança sobre o preço do gás de eleitores. O público também festejou quando o petista prometeu o reajuste do Bolsa Família:
— A inflação no bolso do trabalhador está muito mais alta do que no bolso do empresário —discursou.

Mais tarde, Haddad explicou que é possível remanejar contas internas da Petrobras para fixar o valor do botijão. Embora a medida possa desagradar ao mercado, o candidato descartou impacto na saúde financeira da estatal, como ocorreu quando Dilma Rousseff represou reajustes dos combustíveis.

— Ninguém quer tratar a Petrobras com uma empresa que não deva satisfação a seus acionistas. Mas o poder de monopólio que ela tem precisa ser considerado numa política pública.

Já o aumento do Bolsa Família deve custar R$ 5,5 bilhões, segundo Haddad. Ele acredita que parte dessa quantia pode ser recuperada com arrecadação de impostos com o reaquecimento da economia. O governo federal estima, para 2019, um déficit de R$ 139 bilhões nas contas públicas.

“Em 1° de janeiro, vamos tomar uma medida e, em nenhum lugar do país, o gás vai poder custar mais de _ R$ 49” Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência