quarta-feira, 10 de outubro de 2018

As dinastias políticas derrotadas pelas urnas

MARIA LIMA marlima@bsb.oglobo.com.br BRASÍLIA
Pela primeira vez em décadas, a família Sarney está quase toda afastada pelas urnas da política nacional e local. A derrota na disputa para o governo do Maranhão para Flávio Dino (PCdoB) já havia acontecido em 2014, mas agora se repetiu com um agravante. Além de Roseana, filha do ex-presidente, ex-governador e ex-senador por cinco mandatos, José Sarney (MDB), na disputa pelo Executivo estadual, fracassaram também seu irmão, Zequinha Sarney (PV) e o histórico aliado e ex-ministro Edison Lobão (MDB), terceiro e quarto colocados para o Senado.

Desde domingo, quando uma enxurrada de votos em políticos rivais soterrou as famílias Sarney, Lobão e Murad nas eleições, os dias têm sido dedicados a digerir a estrondosa derrota.

Não apenas no clã Sarney, mas também para outros grupos familiares que sobreviveram à sombra das denúncias de corrupção em outros estados. A família de Jorge Picciani, que saiu da cadeia para prisão domiciliar, não conseguiu reeleger o ministro do Esporte Leonardo Picciani (MDB-RJ), também investigado na Operação Lava-Jato. Aliado dos Picciani, o filho do ex-governador Sérgio Cabral, Marco Antônio Cabral (MDB), foi vencido na disputa por mais um mandato de deputado federal. A derrota também tirou da Câmara a deputada Cristiane Brasil (PTB), filha do presidente do partido, Roberto Jefferson.

NÃO DESISTEM
No clã Sarney, o único sobrevivente é o neto Adriano, filho de Zequinha, eleito deputado estadual. O grupo se reúne nos próximos dias para entender o que aconteceu, já que as pesquisas indicavam a eleição de Lobão e Zequinha para o Senado.

Uma coisa é certa, anuncia o senador João Alberto de Souza (MDB-MA), eterno comandante do Conselho de Ética do Senado e integrante da dinastia: o grupo de Sarney não desistirá da política. Ele culpa o governador Flávio Dino (PCdoB) pela desgraça da oligarquia. Dino não só derrotou Roseana no primeiro turno, como elegeu no lugar de Lobão e Zequinha os aliados Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS).

No Acre, com o desgaste do PT, depois de 16 anos no poder o eleitor afastou os irmãos Jorge Viana, ex-vice presidente do Senado, e Tião Viana, governador que não conseguiu eleger seu sucessor.

—Jorge e Tião nunca formaram um grupo. São muito diferentes e nunca seguiram o mesmo caminho. Para o eleitor, entretanto, são um só grupo. É verdade. Por este motivo o Jorge não foi eleito —avalia o ex-governador Binho Marques.

Se por um lado os Sarney, Cabral, Picciani, e Viana sofreram um duro golpe nas eleições, outros clãs se fortaleceram, mesmo se equilibrando em pesadas denúncias de corrupção. É o caso do senador Renan Calheiros (MDBAL) e de Renan Filho, eleitos para novos mandatos; e do senador Jader Barbalho (MDB-PA). Além de renovar seu mandato, Jader pode eleger o filho ministro Helder Barbalho para o governo do Pará no 2º turno. Do clã dos Barbalho ainda foram eleitos para a Câmara a ex-mulher Elcione Barbalho (MDB) e o sobrinho José Priante (MDB).

O cientista político da FGV Jairo Pimentel avalia que as dinastias políticas que sobreviveram, como a de Renan, estão mais próximas do ex-presidente Lula. Jairo diz que o que abateu as outras famílias foi o esgotamento desse tipo de grupo político. Mas alerta que o que se observa é uma renovação de clãs na política, lembrando que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), elegeu os filhos Flávio, para o Senado, e Eduardo, para a Câmara.

—A tendência é por uma renovação. Não necessariamente uma mudança na prática do domínio das famílias na política. O que vemos é uma mudança de atores, uma mudança de dinastias —diz Pimentel.

O presidente do Senado Eunício de Oliveira (MDBCE) não concorda que integre um clã político, nem que isso tenha determinado sua derrota para um novo mandato neste domingo.

—Aqui foi traição do prefeito da capital e de duas cidades da região metropolitana. Das 184 cidades eu ganhei em 168 —diz Eunício.