terça-feira, 16 de maio de 2017

O Globo - Para a vaga de Janot, Temer não garante primeiro da lista

Nomes do Ministério Público Federal serão indicados até o fim de junho

-BRASÍLIA- Faltando um pouco mais de um mês para a eleição interna que apontará os nomes indicados pelo Ministério Público Federal ao cargo de procurador-geral da República, o presidente Michel Temer afirmou que respeitará a lista tríplice, mas não se comprometeu em escolher o mais votado. A escolha do primeiro da lista ocorre desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
AILTON DE FREITAS/19-4-2017Sem mais. Rodrigo Janot não demonstra interesse em assumir terceiro mandato à frente da Procuradoria-Geral
— Eu vou examinar a lista, acompanho a lista — disse o presidente ao ser perguntado sobre a forma de escolha do próximo procurador-geral, durante entrevista concedida ao GLOBO, na semana passada, antes de ser questionado novamente se indicaria o mais votado: — Não, não sei. Acompanho a lista.
As próximas eleições internas são consideradas as mais importantes da História da instituição. O pleito deve ocorrer entre 26 e 20 de junho. Mais do que a escolha de um chefe de uma instituição, o resultado da disputa interna terá peso decisivo no destino da Operação Lava-Jato e, por tabela, na definição dos rumos das eleições presidenciais de 2018.
Pelo ritmo de trabalho na Lava-Jato, caberá ao próximo procurador-geral decidir se pede ou não abertura de processos contra deputados, senadores e ministros alvos de inquéritos abertos a partir das delações da Odebrecht. Entre os investigados estão boa parte dos mais influentes políticos do país, entre eles potenciais candidatos a presidente da República.
RESISTÊNCIA A PREFERIDO Até o momento, seis subprocuradores manifestaram interesse em se candidatar ao cargo de procurador-geral. São eles: Nicolao Dino, Ela Wiecko, Mário Bonsaglia, Raquel Dodge, Carlos Frederico e Sandra Cureau. As inscrições para o cargo foram abertas ontem e se encerram na sexta-feira. Janot, que venceu com folga as duas últimas eleições, disse a interlocutores que não tem interesse em tentar um terceiro mandato.
Caso mantenha a decisão, Janot deverá apoiar Nicolao Dino, antigo colega de Associação Nacional dos Procuradores da República, com quem mantém estreitos vínculos de amizade. Janot considera Dino com experiência e estatura para manter a máquina da Lava-Jato nos trilhos, embora tenha perfil mais tímido.
Dino também é respeitado pela base do Ministério Público. Mas tem que lutar contra o fantasma de que, por ser irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), terá o nome vetado pelo grupo do ex-presidente José Sarney (PMDB-MA), além de outros influentes políticos ligados a Temer.
Janot também chegou a manifestar simpatia pelo atual vice-procurador-geral José Bonifácio de Andrada. Eles têm visões políticas diferentes, quase opostas, mas Andrada e Janot são amigos de longa data. Ele tem a simpatia de adversários de Janot, o que, a esta altura, seria um importante diferencial em relação a outros candidatos de oposição.
Andrada tem resistido, no entanto, a entrar na disputa. Ele passou uma longa temporada fora do Ministério Público e sabe que, mesmo sem arestas, teria dificuldade de conquistar uma expressiva quantidade de votos. Entre os candidatos de oposição, Ela Wiecko, Raquel e Bonsaglia já tiveram boas votações em pleitos anteriores e não seria surpresa se estiverem entre os primeiros colocados.
Entre os três, Raquel Dodge aparece na bolsa de apostas internas como a favorita. Ela vem articulando a candidatura desde as eleições passadas e, mais recentemente, estaria se aproximando do PMDB de Sarney, do senador Renan Calheiros (AL) e do ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PR). Trata-se do grupo com significativo número de investigados na Lava-Jato. Mas também do núcleo político mais influente no governo Temer.
Mário Bonsaglia teve uma boa votação nas eleições passadas, mas ainda não se sabe se terá fôlego para repetir o desempenho passado. O subprocurador tem boa desenvoltura no corpo-a-corpo interno, mas, segundo colegas, não tem pontes com o meio político, o que enfraqueceria sua candidatura. Carlos Frederico e Sandra Cureau, os mais renhidos opositores de Janot, são considerados com poucas chances de chegar entre os três primeiros colocados.
Depois das eleições, o interessado no cargo de procurador geral terá que receber a indicação do presidente da República e passar por uma sabatina no Senado. O mandato de Janot termina em 17 de setembro.