sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Memória do Carnaval de São Luís: Maria Aragão foi samba-enredo da Favela do Samba em 1989

   

    Em 1988 havia uma desilusão com os rumos da Turma do Quinto, uma escola que representava o sentimento anti-Sarney, aglutinando militantes da esquerda no Maranhão. Renato Dionísio recém-eleito para presidir a Favela do Samba percebeu isso e atraiu os dissidentes do Quinto. Desse grupo estava o professor da Universidade Federal do Maranhão Euclides Moreira Neto. Foi ele que sugeriu o enredo o enredo sobre Maria Aragão. Alas inteiras se transferiram  para a escola do Sacavém. Eugênio Araújo, ainda estudante do curso de Educação Artística da UFMA integrava este grupo. Ele conta a história em sua dissertação de mestrado "Não deixe o samba morrer" (Edufma - 2001).


Samba-enredo da Favela de 1989



"A peleja contra os dragões da maldade: o sonho de Maria Aragão"

Autores: Escrete e José Raimundo Gonçalves

Nas flores do jardim de margaridas
Maria-esperança nasceu
quebrando os espinhos da vida
menina-Maria cresceu
oh! que noite escura!
de um Natal sem lampião
e os pastores da noite anunciaram
a esperança de nova geração

E lá vou eu meu amor
marmitando o coração
de quem me dá o que comer
por querer
boca livre também sonha
com o direito de viver

Vai! candoreira do ideal
segue o sonho socialista
na luta do bem e contra o mal
vai brilhar todas as noites
vai luzir contra os açotres
de uma nova inquisição
de bufões fantasiados
saltimbancos coroados
trapezistas de plantão

Deixa a banda, deixa a banda
deixa a banda general
que essa banda é do meu povo
e o meu povo é carnaval!



    Em 1993, uma foto da militante comunista Maria Aragão (de Ivanildo Ewerton) em carro alegórico ilustrava a capa do LP do "Samba de Enredo do Carnaval Maranhense", lançado pela jbg. A contracapa trazia uma foto da bateria da Favela, sem autor identificado.

    O disco registra oito sambas-enredo de escolas de samba de São Luís. Duas delas não mais existem: Água do Samba e São Cristóvão.
    Com produção executiva de José Raimundo Rodrigues, arranjo e regência de Maestro Nonato e J. Gomes, a gravação do disco foi no Estúdio Sonato (16 canais) e no Estúdio R & A, neste com direção musical de Marcelo Carvalho, representante da Flor do Samba. 
    O mestre Júlio da Favela coordenou a bateria na gravação, mas foi utilizada uma Bateria R-8 programada por J. Gomes com acréscimo da percussão de Josemar e Peixinho, da Turma do Quinto, e repique de Reinaldo da Favela. No cavaco solo o maestro J. Gomes acompanhado pelos cavacos base de Raul do Cavalo e Cleto Jr.;  Nonato Silva tocou violão de sete corda e no teclado Murilo Rêgo. Gari do Cavaco, da escola da Madre Deus tocou cavaquinho.




* Maria José Aragão nasceu em 10 de fevereiro de 1910 em Engenho central (Pindaré Mirim)