segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Vargem Grande festeja São Raimundo dos Mulundus

   


    Mundo, mundo, vasto mundo. Se me chamasse Raimundo...Raimundo Nonato, vaqueiro, nascido em Vargem Grande (Maranhão), encontrado morto e exalando perfume na Fazenda Mulundus, seria reverenciado como santo e teria um rosário de devotos, todos os anos no mês de agosto, exatamente entre 22 e 31 de agosto,  em pleno sertão. Seria São Raimundo dos Mulundus, santo protetor do vaqueiros do Maranhão.

    Na paisagem agreste, às vezes do periodo mais seco e ensolarado do ano, que antecede os chamados meses brós (setembro, outubro, novembro e dezembro), acontecem os festejos de São Raimundo dos Mulundus, um dos maiores eventos religiosos do estado.

    O nome Mulundus advém do nome de uma dança de raízes negras denominada lundu. Tanto a fazenda como a dança desapareceram na poera do tempo no mapa maranhense. Ainda subsiste no vizinho estado do Pará.

    Os festejos têm hora marcada para começar. Às cinco hora da manhã do dia 22 de agosto, os sinos dobram na igreja de são Sebastião, padroeiro religioso oficial de Vargem Grande, convocando os  diés a seguir em procissão até a Paulica. A pronúncia do lugar confunte o au com ó aberto. A procisão tem percurso de pouco mais de seis quilômetros, a partir das escadarias até a igreja em Paulica.
     A aurora no sertão improme suas cores no céu e no chão. E das ruas de traçado retilíneo de Vargem grande surgem gente aos montes. Logo se ouve os primeiros galopes dos vaqueiros quebrando o silêncio do dia clareando. Os vaqueiros adentram a igreja de jibão, reverencialmente com os chapéus de couro na mão.
    A imagem do santo é então carregada pelos fiéis. Fica um pouco mais à frente do altar de São Sebastião. Flores nas cores branca e vermelha enfeitam o andor. São as cores de São Raimundo vaqueiro.
    Ás seis horas o andor inicia a caminhada na direção da BR-222. Pagadores de promessas se vestem com mantos predominantemente brancos, vermelhos, verde e ocre. Jibão, perneira, peitoral, mocó e chapéus têm a cor da terra esturricada. Imitam nas vestes São Francisco de Assis e outros perfis de santos Muitos dos vaqueiros aproveitam a ocasião para estrear roupa nova. Há vaqueiros vestidos para um dia e noite de gala. Anjos também existem.

Imagens
    Contam as pessoas da terra que a imagem de São Raimundo dos Mulundus foi trazida da Espanha. Daí a falta de semelhança com os traços fisicos dos nativos. Uma primeira imagem feita em Portugal teria sido enviada à Roma para que aprovação do Vaticano. Em 1981 uma dessas imagens foi capturada de dentro da igreja de São Sebastião por ladrões. Dias depois foi achada perambulando pelo estado do Pernambuco.
    Numa incursão pela vegetação formada sobretudo por carnaubeiras, o vaqueiro Raimundo foi atingido mortalmente. Segundo dizem, após sua morte no local foram operados vários milagres. Nascia então a legião de devotos. O vaqueiro é homem, gênero único na tradição.

    Após três horas de lenta caminhada os romeiros chegam a Paulica. São recebidos por salva de palmas, foguetório, vivas. Há música e alvoroço no ar. O andor é colocado em frente à capela. È celebrada então a primeira missa campal do dia.   Tudo isso envolto em uma fina poera revelada pela intensa luz do sol.
    Ao redor da capela se vende de tudo. O cardápio é essencialmente nordestino. 
    Acima de todos estã uma iagem confecionada em argila. O trabalho é da artista plástica vargengrandense Diane Mota, fruto de promessa ao santo.

    Depois de um dia inteiro de comilança, compras de variedade inimaginável em shoppings da vida, dança regada a cerveja gelada e quente, o público empreende a viagem de volta. Os vaqueiros entoam os aboios no diapasão etílico permitido,

    No retorno à cidade as duas imagens se encontram próximo ao portal de entrada: São Raimundo dos Mulundus e São Sebastião. Juntos seguem até às escadarias do Santuário de São Sebastião para a segunda missa campal. Está então cumprido o primeiro dia dos festejos de São Raimundo dos Mulundus.