sábado, 17 de janeiro de 2015

Sobre Baratos Afins e Sucuri - Vide bula

    




  
Loja Baratos Afins
    O fundador do comercial, editora e produtora de discos Baratos Afins, Luiz Calanca, tem consciência do sepultamento da crítica musical mais abalizada no Brasil. Calanca não enxerga lampejo de luz no fim do túnel, diante da falta de compromisso da mídia com a exegese ou algo que se proponha a ser isso ou aquilo. O proprietário da loja de discos, elogiado a viva voz pelo papel que desempenha há 30 anos como divulgador da produção musical brasileiro e do mundo, está à beira da desolação.
Corredor da Galeria do Rock, avenida São João (S. Paulo)

    Neste sábado, 17, Calanca estava no balcão da loja , na Galeria do Rock, trocando ideias com um jovem líder de uma banda (que depois soube se chamar Heitor Caldas e a banda Baby Lixo, de Salvador,BA), que buscava espaço no espaço da avenida São João, centro velho de São Paulo, para divulgar o trabalho.
    Baratos Afins é uma loja de discos raros e fora de catálogos – atualmente quase todos estão – nacionais e internacionais. Os preços de capa, porém, azedam qualquer gosto musical, os refinados ou sem depuramento algum. A galeria é frequentado por roqueiros, amantes musicais, descolados, lunáticos e afins.
    Calanca acha que falta substância à crítica que se realiza nas redes sociais, assim como nas divulgadas pelos jornais, revistas, e outras formas impressas, diante das tiragens em queda livre e a pouco influência que exercem nos gostos gerais. Às dos meios virtuais, credita um descrédito congênito e intransponível.
    Em determinado ponto, o timoneiro da Baratos Afins nivela espíritos provincianos e ao ambiente das megalópoles como São Paulo. Acredita que ali como lá acolá, criticar termina por despertar animosidades antes inconfessáveis entre artistas, produtores e jornalistas que se habilitam – com o devido ou sem conhecimento algum, de história ou teoria – a comentar o trabalho musical apresentado ao público.
    O elogio aos que vão aonde o povo toca ou se apresenta é rasgado por parte do dono de uma das lojas de discos mais famosa do país. Cita até nome – que omito por questões de notoriedade – de quem se embrenha pelo universo paralelo ao mainstream. “Fulano vai nos buracos mais distantes conferir novos sons”, delata Calanca.
    Ninguém tem dúvidas de que com a mudança no consumo de música, houve modificação do papel antes exercido pelos críticos. Nomes como Zuza Homem de Melo, José Ramos Tinhorão são peças dinossáuricas, ainda mais anônimos que antes do grande público consumidor de música.
    No final da conversa, Calanca orienta o músico a deixar em local estratégico do estabelecimento seu pretenso material de divulgação.
    Espantosamente, o tal dito material – em nada semelhante às ferramentas contemporâneas das quais lançam mão produtores, artistas e alhures - se resumia a um pequeno papel com formato aparente de bula dobrada com uma saudação: Olá, formiguinha... que se desdobra na expressão em latim Infitus est numerus stultorum...
    No verso da dobra lê-se uma indagação: - Por acaso já sentiu seu corpo estilhaçar. E a, consequente, resposta aliviada: Não. Oh...que bom...durma bem.
    O conteúdo do release do EP bon apetit, sucuri, EP do Baby Lixo conduz o leitor a um sítio onde é possível manter contato com o universo sonoro da banda.
    Penso então: Eis aí a nova Esfinge musical, desafiadora da crítica rasa ou escafandrista.
Confira abaixo material de divulgação da baby lixo:

 
Ouça "Bon apetit, sucuri" aqui