quarta-feira, 5 de novembro de 2014

8ª FeliS - Pedro Bandeira desafia e critica papel da escola na formação de leitores


Por Henrique Bóis
“Nossa responsabilidade de construir um novo Brasil é estupenda”, desafiou o escritor Pedro Bandeira no encerramento da palestra “Como conquistar quem não gosta de ler, que encerrou o terceiro dia da 8ª Feira do Livro de São Luís, FeliS, na noite desta segunda-feira,3, na sede da Fundação da Memória Republicana do Brasil. A feira promovida pela Prefeitura de São Luís por meio da Fundação Municipal de Cultura, Func, e Secretaria Municipal de Educação, Semed, se estende até o próximo domingo, 9, em vários espaços do bairro do Desterro. O evento é patrocinado pela Vale.

Durante 1 hora e vinte minutos, Pedro Bandeia encantou a plateia que ocupou o Espaço Café Literário Odylo Costa, filho, no Convento das Mercês, um dos espaços onde acontece a 8ª FeliS. A palestra teve como mediadora a bibliotecária Aline Azevedo, da Biblioteca Pública Benedito Leite. “Pedro Bandeira é autor de livros que povoam o universo dos jovens e das crianças do Brasil”, destacou Aline Azevedo na apresentação do autor à plateia ruidosa na abertura da palestra.

Bandeira é um dos autores mais lidos no país e uma referência incontestável da literatura infanto-juvenil, tema da feira este ano. O autor possui uma bibliografia de mais de 100 títulos, alguns deles com vendas extraordinárias, como “O fantástico mistério de Feiurinha” e “A droga da obediência”, com quase 2 milhões de exemplares vendidos.

São mais de 22 milhões de livros vendidos, prêmios de grandes reputação como o Jabuti, conferido pela câmara Brasileira de Livros; e títulos altamente recomendado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.  Além de escritor, Pedro Bandeira trabalhou como jornalista, homem de teatro, publicitário e professor.

O escritor iniciou a palestra remontando as origens da formação do povo brasileiro, comparando-a com a colonização da América do Norte. De maneira descontraída, fez um corte na história das duas nações. “Não descendemos culturalmente de ninguém”, afirmou Bandeira.

Ele citou o papel que a Bíblia exerceu como iniciação à leitura e trampolim para o hábito de ler, e, consequentemente, o desenvolvimento de nações como Alemanha, Inglaterra e os Estados Unidos das Américas. Resgatou a importância que os africanos de diferentes etnias que trazidos escravizados para o Brasil terminaram por disseminar a língua portuguesa entre os próprios portugueses que aqui adotaram o nhengatu, um idioma comum e útil para dialogar com os nativos.

“Nós nunca tivemos escolas. A escola brasileira sempre foi da elite. Fomos treinados para excluir. Isso também se passa na sala de aula”, criticou o escritor. Lembrou à plateia a exclusão promovida pelo Exame de Admissão, seleção que vigorou até a década de 70 no ensino público para ingresso no curso ginasial, correspondente ao atual Ensino Fundamental 2.  

No entendimento de Pedro Bandeira, o país ingressou em uma nova fase a partir da conquista da liberdade. “O problema é que não tivemos liberdade. Sempre estivemos sob autoritarismo e ditadura, da descoberta do Brasil até o Getulismo. Depois de 21 anos de ditadura temos hoje a mais recente democracia do mundo”, enfatizou o escritor.
Bandeira atribui aos períodos de ditadura a desvalorização dos professores.  Credita aos militares pós-64, o emagrecimento dos salários dos professores. “Só depois da redemocratização o Brasil descobriu que toda criança tem direito à escola. O Brasil está se reconstruindo. O livro ainda não faz parte da vida da população”, afirmou
Para o escritor o Brasil de 1990 para cá é um outro país. “Já tá mudando. Tá indo. Demora, talvez uma geração, mas vai”. Pedro Bandeira exaltou o conhecimento como fonte de riqueza. “Bill Gates, o homem mais rico do mundo, vende conhecimento, vende ideias. Essa é a verdadeira fortuna”, disse o autor de “A marca de uma lágrima”.
O escritor recomendou aos professores, estudantes, escritores e interessados que assistiram à palestra que procurem não rotularem as crianças. “Temos que ter cuidados com o que se fala com o aluno. Só use palavras que o leve para frente”, aconselhou. Sobre como fazer com quem não gosta de ler, ensinou Bandeira: só se aprender a ler, lendo. 

Alguns títulos de Pedro Bandeira:
O fantástico mistério de Feiurinha
O primeiro amor de Laurinha
Fábulas palpitadas – encantados em verso e comentários
Malasaventuras, Safadezas de Malasartes
O Patinho Feio
Droga Americana!
Os karas – A droga da amizade
A marca de uma lágrima
Pânico na Escola
*Todos os títulos acima estão disponível no estande da Editora Moderna, montado na área externa do Conventos Das Mercês – Fundação da Memória Republicana Brasil (rua da Palma -Desterro)