domingo, 27 de abril de 2014

Arte de enganar pobres - FERREIRA GULLAR

    A esse populismo que surgiu na América Latina há alguns anos, entendi de chamá-lo de outro de neopopulismo para distingui-lo do outro, de décadas atrás, originário da direita, como a de Perón, na Argentina, e a de Getúlio Vargas, no Brasil, o atual que Hugo Chávez intitulou de socialismo bolivariano, como o nome está dizendo, quer ser socialismo, isto é, de esquerda.
    De fato, não é nem socialismo nem de esquerda, mas sim uma contrafação do projeto revolucionário que, em nosso continente, após o fim da União Soviética, ficou num beco sem saída: não podia insistir na pregação de uma ideologia que fracassara nem converter-se ao capitalismo, conta o qual pregara.
    Por algum tempo, o PT ainda teimou em sua pregação esquerdista, mas, em face das sucessivas derrotas de Lula como candidato à Presidência da República, teve que mudar o discurso e, ao chegar ao governo, seguir as determinações do regime capitalista. Mas teve a esperteza de usar o poder para ampliar ao máximo o assistencialismo, em suas diversas formas, desde o Bolsa Família até medidas econômicas para ampliar o consumo por parte das camadas mais pobres.
    A preocupação, não era e nem é, governar visando o bem-estar da nação como um todo, mas, sim, usar a máquina do Estado para crescer politicamente. O neopopulismo é isso: distribuir benesses às camadas mais pobres da população para ganhar-se os votos e manter-se indefinidamente no poder.
    Não resta dúvida de que reduzir a miséria, melhorar as condições de vida dos mais necessitados, está coreto. O que está errado é valer-se politicamente de suas carências, para apoderar-se do governo, da máquina oficial, dos recursos públicos e usá-los em benefício próprio, sem se importar com as consequências que decorreriam disso.
    È nas consequências que está a questão. a desigualdade social é inaceitável, e o objetivo de um governo efetivamente democrático é enfrentar esse problema e fazer o possível para resolvê-lo; como não é fácil resolvê-lo, deve, pelo menos, tomar as medidas certas nessa direção. Mas é mais fácil fingir que o resolve.
    Foi Marx que disse que só se muda o que se conhece. Noutras palavras, para resolver um problema como da desigualdade social , há que reconhecer-lhe as causas e as dificuldades para superá-las. É uma ilusão pensar que ele só existe porque os governantes nunca pensaram em resolvê-lo. Isso, em muitos casos, será verdade, mas não basta querer. Pior ainda é fingir que o está resolvendo, lançando mão do assistencialismo demagógico do populismo.
    É fácil assumir o governo e passar a dar comida, casa e dinheiro a milhões de pessoas; dinheiro esse que deveria ir para a educação, para o saneamento,  para resolver os problemas da infraestrutura; os seja para dar melhores condições profissionais ao trabalhador e possibilitar o crescimento econômico. Esse é o caminho certo, que nenhum governante desconhece e, se não o segue, é porque não quer. O resultado é que não se formam profissionais e torna-se inviável o produto exportável, fonte de recursos para o crescimento econômico.
    As consequências inevitáveis desse procedimento são, por um lado, induzir milhões de pessoas a não trabalharem e, por outro, inibir o crescimento econômico, enquanto aumento os gastos públicos.
    O neopopulismo, fingindo opor-se à desigualdade social, na verdade induz os beneficiados ao Bolsa Família  a só aceitarem emprego se o patrão não assinar a carteira de trabalho, o que constitui uma conquista do trabalhador brasileiro. E foi o governo do Partido dos Trabalhadores que os levou a esse retrocesso. Pode? Não por acaso, o Brasil é hoje um dos países onde se pagam mais impostos no mundo, enquanto o número dos que vivem do dinheiro público aumenta todos os dias. Fazer filho, tornou-se fonte de renda.
    Assim, é o populismo de hoje, que vei para supostamente reduzir a pobreza, quando se sabe que uma família, por receber mensalmente menos de um salário mínimo, não deixa de ser pobre. claro, não passa fome, mas jamais saírá do nível de carência, a que se conformou, subornada pelo assistencialismo governamental. Esse é o verdadeiro mensalão, que compra o voto de milhões de eleitores com o nosso dinheiro.