terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Impunidade incentiva selvageria em estádios - EDITORIAL O GLOBO


É crucial punir arruaceiros e banir dos estádios as gangues disfarçadas de torcida. A barbárie de Joinville requer resposta imediata de CBF, Justiça, clubes e poder público

    A partida de anteontem entre Vasco e Atlético Paranaense, em Joinville, foi uma tragédia anunciada. E não se pode atribuir ao lamentável desfecho, com torcidas organizadas dos dois times promovendo cenas de selvageria nas arquibancadas do estádio, influência circunstancial de uma tabela que programou para a última rodada do Campeonato Brasileiro um jogo entre uma equipe que lutava para não ser rebaixada e outra que brigava por uma vaga na Libertadores.
    Essa carga de drama também esteve presente em outros confrontos da rodada, disputados sem quaisquer sinais de violência extracampo. Antes, deve-se identificar em que nível de decisões do poder público do Paraná efetivamente começou a cadeia de leniência e medidas irresponsáveis da qual resultou a estapafúrdia ordem de desprover o estádio de policiamento adequado. Neste sentido, é no mínimo risível o argumento de que o jogo se tratava de um “evento privado”.
    Ora, também passeatas, por exemplo, podem ser classificadas como tal, e nem por isso as autoridades deixam de guarnecê-las com agentes públicos de segurança. Jogos de futebol têm o potencial de afetar a segurança pública e de colocar em risco multidões, como aconteceu em Joinville. Precisam ter aparato policial à altura.
    Este é o viés pontual do problema — mas não o único a exigir providências exemplares. Outro, ainda mais grave, é o crescimento exponencial da violência nos estádios e seu entorno. Enquanto do ponto de vista administrativo o futebol brasileiro faz um louvável esforço para melhorar sua gestão (equacionamento do calendário, ações que buscam o saneamento financeiro dos clubes, modernização das arenas etc.), a questão da segurança dos torcedores continua sendo tratada sem que medidas para banir a violência nos jogos sejam efetivamente adotadas. O Estatuto do Torcedor, por exemplo, não vem sendo aplicado como deve, salvo exceções, como o Rio de Janeiro.
    Diante de um quadro que se deteriora de forma cada vez mais perigosa, é irrecorrível que poder público e entidades tomem atitudes drásticas contra marginais que, travestidos de torcedores, entram nos estádios não com o propósito de acompanhar uma partida, mas de promover barbáries como a de domingo. A mais imediata é acabar com a praga das torcidas organizadas, protagonistas desde sempre de atos de selvageria.
    Cenas de violência como as de Joinville são condenáveis em quaisquer circunstâncias. E a essa barbárie acresce-se a preocupação com a proximidade da Copa. O que implica, da parte de CBF, clubes, Justiça desportiva e poder público, resposta rápida e eficiente: julgamento e punição de arruaceiros, banimento dos brigões dos estádios, como já acontece na Europa, sem prejuízo das medidas penais, e punição de clubes cujas torcidas se envolvam em atos de violência (jogar com portões fechados e, no extremo, perda de pontos e desclassificação das competições). É crucial desestimular as gangues disfarçadas de torcedores.