terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ao ano velho - citando Carlos Drummond de Andrade

Ao ano velho e caduco,
que se despede cansado,
daqui de São Luís
venho dizer:obrigado!

Pelo que deste e não deste
(nem tudo se logra obter)
pela franja azul-celeste
que aina se pode ver;

pela brisa da Ponta D´Areia
com cheiro de sal e viagens:
por esse ou aquele poema
e sua ronda de imagens;

pelo pouco de água clara
que o prefeito nos mandou
e pela delícia rara
com que a rua o festejou;

pelo riso das meninas
a passear de bicicleta;
pelos doces, pelas finas
emoções da tarde quieta;

pela santa luminosa
que em carro de outro sorria
e, qual fantástica rosa,
transformava a noite em dia;

pela vista do neto,
que veio e que voltará;
pela corrente de afeto
que a vida sempre nos dá;

por tudo que o acaso trouxe,
ou melhor, o coração,
de puro, tranquilo e doce,
e que não cabe na mão;
pela mensagem de Iolanda,
Marlene, Vanda e seus dois
irmão - da minha varanda
aqui te agradeço, pois

a graça do sentimento
ilumina este momento.

ANO 2013 - Secretário de Desportos e Lazer precisa se matricular em escola de natação


No PAINEL da Folha de S. Paulo


Charge do dia - Angeli


Lutadores e prostitutas - HÉLIO SCHWARTSMAN


SÃO PAULO - O que lutadores de MMA e prostitutas têm em comum? Ambas as categorias se tornaram alvo de gente que acha que sabe melhor do que os próprios envolvidos como eles devem viver suas vidas.

    No Brasil, o terrível acidente com Anderson Silva inflou o coro dos que querem negar ao MMA o estatuto de esporte e até o dos que pretendem proibir a transmissão de lutas pela TV. Enquanto isso, na França, berço das liberdades individuais, o governo flerta com a ideia de tornar ilegal comprar os serviços de uma prostituta, mas não vendê-los. Segue os passos dos suecos, que adotaram medida semelhante. Não chega a ser a proibição da profissão mais antiga do mundo --a única sociedade industrializada que foi tão longe são os EUA--, mas configura um forte golpe contra as profissionais do sexo.
    A lógica que alimenta esses raciocínios é a mesma: tanto os lutadores como as meretrizes são vítimas da sociedade. Trata-se, afinal, de pessoas oriundas de classes desfavorecidas que, por não ter como resistir às pressões econômicas, acabam concordando em fazer aquilo que não fariam se tivessem escolha.
    Em muitos casos, mulheres caem na vida por falta de opção, não por entusiasmo com a carreira. Creio que isso é mais raro no MMA, mas admitamos que isso possa ocorrer. O problema com esse argumento é que ele é forte demais. Se generalizarmos o raciocínio, teríamos de proibir outras profissões pouco nobres, como a de limpa-fossas, que só existem porque algumas pessoas têm poucas escolhas. Ao fim e ao cabo, teríamos de, como Karl Marx, condenar todo trabalho assalariado não criativo.
    No mais, não estou tão certo de que não haja lutadores e prostitutas que gostem do que fazem ou, ao menos, achem que a relação custo-benefício lhes é favorável. Para afirmar o contrário, seria necessário impor a todos um conjunto de valores morais inegociáveis, o que seria algo bem estúpido de fazer.

MANCHETES DOS JORNAIS

Estado
O Estado do MA:Maranhão garante R$ 400 mi em 2014
Região
Jornal do Commercio:IPVA vai ficar 4,62% mais barato em 2014
Meio-Norte:BRs do Piauí tiveram 86 acidentes em 10 dias
O Povo:Retrospectiva - O ano que desenha o futuro
Nacional
Correio:Qualificação é o desafio do trabalhador para 2014
Estadão:Aécio diz que Dilma vê País como ‘ilha da fantasia'
Estado de Minas2013 Um ano explosivo
Folha:Novo ataque amplia para 34 as mortes na Rússia
Globo:Ônibus vão à justiça por reajuste cancelado 
Zero Hora:Negócio de futuro - Plano gaúcho para criar polo de inovação

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Na Coluna do João Bosco Rabello

Sarney lamenta violência nos presídios
Do ex-presidente da República e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), recebi correspondência em que contesta a interpretação de declaração sua a respeito das denúncias relativas ao presídio de Pedrinhas, no Maranhão, amplamente divulgadas na última semana.
Como se sabe, documento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) relata gravíssimos casos de desrespeito aos direitos humanos naquela Casa de Detenção – desde violência física em proporções  dramáticas até abusos sexuais contra famílias de detentos submetidos ao comando do crime na cadeia.
Na coluna dominical no jornal O Estado de S.Paulo,   abordei o caso sob a ótica da reação do senador em entrevista a emissora de rádio local, lamentando o reducionismo que o levou a valorizar o fato de a violência do presídio não ter chegado às ruas.
Em sua correspondência, Sarney afirma ter dito mais que isso e lamentado que ainda se registrem episódios do gênero no atual estágio da humanidade. Como me ative a trecho parcial da entrevista – ainda que o mais significativo -, reproduzo aqui a resposta do senador.
Prezado João Bosco
 Com o grande respeito que sempre tive a você, tomo a liberdade de esclarecer-lhe que jamais justifiquei as cruéis e  hediondas mortes ocorridas no Presídio de Pedrinhas no Maranhão, pelo fato de terem sido restritas àquela Casa de Detenção, mas ao contrário manifestei minha revolta e condenação pela humanidade ainda ser capaz de procedimento tão cruel.
Limitei-me a dar uma noticia transmitida por fonte do comando policial, de que esse confronto de quadrilhas, pela ação do serviço de inteligência da PM e outras medidas,teve outras ações abortadas, que representariam o desdobramento da violência ,como ocorreu em outros estados, fora das prisões.
Minha vida toda tem sido de uma conduta pacifista, contra a violência,como provam os discursos que proferi no Congresso sobre o tema, o último deles, longo e detalhado, mostrando minha indignação por ser o Brasil o primeiro País do mundo em número de homicídios.
Com meu abraço, 
José Sarney

Do Estadão

MANCHETES DOS JORNAIS

Estado
O Estado do MA:PM traça plano de segurança para sistema prisional
Região
Jornal do Commercio:Minha Casa agora para a classe média
Meio-Norte:Empresário e criança morrem na barragem
O Povo:Ninguém controla a qualidade do ar no Ceará
Nacional
Brasil Econômico:"A Fifa não é uma OTAN. Não tem esta força"
Correio:A gastança sem freio da Câmara Legislativa
Estadão:Na TV, Dilma diz que ‘guerra psicológica’ inibe investimentos
Folha:Dilma afirma que governo sofre 'guerra psicológica'
Globo:Desembargadores receberam acima do teto em 23 estados
Zero Hora:11 cidades e um mesmo problema - Calor, falta d’água e indignação

domingo, 29 de dezembro de 2013

O ano dos espantos - Miriam Leitão

    E papa renuncia? A pergunta feita por Érica, a arrumadeira, foi o grande momento de espanto do ano. Ele mostrou aos jornalistas que fazer plantão é preciso e que o inesperado sempre acontece, inclusive o improvável em hora imprópria. Segunda-feira de carnaval só tem carnaval, correto? Não. Foi o que o ano de 2013 e a renúncia de Bento XVI provaram.

    Depois de vários dias mergulhada no mato, tentando entender o mundo Awá e as ameaças vividas pelos índios no Maranhão, peguei a estrada de volta. Na aldeia, a comunicação era difícil, quase impossível.
    Foi assim que cheguei a Zé Doca sem saber de nada do que se passava no Brasil. Era junho. Paramos para comer, e as cenas de guerra de rua convocaram todos para perto da televisão. Repórteres apanhando foi a primeira cena que vimos. E o jornalista falava: no quarto dia de manifestações...
    Quarto? Só alguns dias na floresta e já se perde o fio da meada deste país. Consegui acessar as mensagens e a do Alvaro Gribel era seca: “Volte”. Voltei já escrevendo no caminho, “Melhor ouvi-los”, sugeri. O fenômeno está até hoje não inteiramente entendido. Junho foi o mais complexo dos meses. Houve cenas novas no país do futebol: dentro do Maracanã, o Brasil ganhava a Copa das Confederações; fora do Maracanã, a população enfrentava a polícia em protestos eloquentes.
    Não dá para imaginar 2013 sem as manifestações de junho. Houve revelações importantes: a população é capaz de se mobilizar, parecemos com os outros países, a polícia passou mal no teste, houve excessos, a imprensa precisa entender melhor como cobrir esses eventos, os jornalistas viraram duplo alvo, a resposta do governo foi pífia. Num primeiro momento, congelamento de tarifas de transportes. Num segundo momento, a presidente Dilma propôs cinco pactos, que foram, noves fora, zero.
    Em pleno feriado de 15 de novembro, outro ineditismo. Era evento já esperado, mas muita gente duvidava que poderosos pudessem ir para a prisão. Choro, ranger de dentes contra o STF e braços levantados não mudaram o fato de que o Brasil passou a pôr na cadeia, por corrupção, condestáveis do grupo que está no poder.
    “O novo papa é argentino”, dizia o torpedo que recebi a caminho do trabalho. E o Brasil adorou. Brasil e mundo, católicos ou não, foram gostando cada vez mais do Papa Francisco. Ele é pop, surpreende, dá entrevista, admite fraquezas, virou a pessoa do ano da “Time” e personalidade de 2013 mundo afora.
    Mandela estava no fim, já se sabia, mas o aperto de mão entre Obama e Raul Castro foi surpresa. Que os EUA espionam todo mundo a gente já sabia, mas bisbilhotar assuntos privados de Dilma e Merkel em nome “de um mundo mais seguro” é bem estranho. Edward Snowden, e seus arquivos vazados em Hong Kong, a caminho de Moscou, para um jornalista americano morador da Gávea, no Rio, foi espanto e tanto.
    Um diplomata rebelar-se, pegar seu asilado esquecido na embaixada, embarcá-lo numa longa viagem Bolívia adentro e aparecer no Brasil não é coisa que se espere.
    A queda de Eike Batista não surpreendeu quem via com atenção sua maneira de inflar o valor dos ativos, mas o tamanho do tombo pegou muita gente de surpresa. O governo finge espanto, mas colocou dinheiro no grupo quando plataformas e navios já afundavam.
    Política é sempre a mesmice, mas a novidade foi o movimento da Marina. Batida pela não aprovação do seu partido, ela conseguiu a atenção da imprensa quando fez o movimento de abrigar-se no partido de Eduardo Campos.
    De uma profissão que vive do novo e do inesperado, os jornalistas terminam o ano exaustos, mas sem motivos de queixa. Houve muita matéria-prima em 2013.

Estaleiro Escola do Sítio Tamancão e ruínas da casa de Ana Jansen são exemplos do abandono do governo do estado e Iphan

 
Cais de atracação do Estaleiro Escola do Sítio Tamancão: em ruínas
    O Estaleiro Escola do Sítio Tamancão caminha para o abandono. Restaurado para funcionar como um centro vocacional tecnológico, o estaleiro situado no bairro do Alto da Esperança. na região do Itaqui-Bacanga em São Luís(MA), apresenta sinais de deterioração desde o cais de atracação.
Local da prática do Curso de construção naval: esvaziamento
    Como escola, o estaleiro tem disseminado o desânimo entre os mestres carpinteiros navais contratados pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, órgão responsável pelo pólo tecnológico. O carpinteiro naval Zequinha Castro, 63 anos,teve uma breve e desalentada passagem pela escola como instrutor do curso de construção naval. Desligado da escola estaleiro do Sítio Tamancão, Zequinha retornou ao Estaleiro Alencar, no bairro Campina, em São José de Ribamar, decidido a esquecer a experiência.
Novas instalações da antiga fábrica de beneficiamento de arroz do século XIX
    Funcionando nas antigas instalações de uma fábrica de beneficiamento de arroz, o estaleiro está separado por cercas de arame enfarpado das ruínas de uma das moradias da mitológica Ana Jansen. Em franca deterioração a construção do século XIX ainda dá mostrar da suntuosidade que a dona de escravos se cercava. São colunas colossais e paredes idem que permanecem erguidas pela simples resistência do material. Ali, não há qualquer ação ou fiscalização da Superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histório e Artístico Nacional, IPHAN. A omissão do órgão faz com que surjam ocupações de casebres na área das ruínas que ofuscam mais um monumento histórico de São Luís.

Ruínas da casa de Ana Jansen no Tamancão: fora do roteiro do IPHAN

A república do despudor - EDITORIAL O ESTADÃO

    Hábito ancestral e nefasto que só piora com os exemplos que vêm de cima, o despudor das autoridades brasileiras no trato da coisa pública afronta diariamente uma sociedade que só não reage com a indignação cabível porque - é a triste realidade - de algum modo ela se mostra desgastada pela deterioração dos valores morais e éticos que devem presidir a convivência social civilizada. Só isso pode explicar o fato de o presidente do Senado e do Congresso Nacional, o notório Renan Calheiros, permanecer no comando de um dos Poderes da República depois de ter convocado cadeia nacional de rádio e televisão, no último dia 23, para, entre outros floreios, vangloriar-se de austeridade nos gastos públicos, poucas horas após ter reincidido na requisição irregular de um jato da FAB, desta vez para viajar de Brasília ao Recife a fim de se submeter a urgentíssimo implante capilar. Tanto com a intervenção cirúrgica a que se submeteu quanto com o teor do pronunciamento que fez poucas horas depois à Nação, o senador alagoano revela-se extremamente fiel a um princípio que orienta a carreira dos políticos bem-sucedidos "da hora": salvar sempre as aparências.
    Mal o verdadeiro objetivo da viagem "oficial" do presidente do Senado ao Recife veio a público, o próprio apressou-se em anunciar que consultaria a FAB para saber se podia ou não ter requisitado o avião e que, se fosse o caso, faria o devido reembolso aos cofres públicos. Por inverossímil e absurdo que pareça, é isso mesmo: o chefe de um dos Poderes da República, reincidente específico em casos dessa natureza, que certamente dispõe de especialistas em qualquer assunto legal nos quadros de sua ampla assessoria, achou que precisava perguntar à Aeronáutica se podia ou não podia ter usado uma aeronave oficial para melhorar sua aparência, inclusive com um retoque nas pálpebras ligeiramente caídas. Seria uma piada de mau gosto, se não fosse um escárnio à Nação que paga impostos e respeita as leis.
    Renan Calheiros tem um retrospecto de conflito com o artigo 37 da Constituição, segundo o qual a administração pública "obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência". Em julho último, já tinha ido de jatinho da FAB a Trancoso, na Bahia, para a festa de casamento da filha de um colega do PMDB. Quando a imprensa denunciou o abuso, mais do que depressa Calheiros reembolsou a FAB em R$ 32 mil, antes mesmo de qualquer manifestação das autoridades aeronáuticas. Mas parece não ter aprendido muito com a experiência.
    Muito pior do que essas lambanças aéreas, no entanto, foi o senador alagoano ter sido forçado, em 2007, a renunciar à mesma presidência do Senado que hoje ocupa, por causa das várias denúncias de corrupção de que era alvo e que resultaram na apresentação, por seus pares, de seis representações ao Conselho de Ética da Casa pedindo a cassação de seu mandato. Renunciando à presidência da Casa, mas não ao mandato de senador, Calheiros acabou sendo absolvido por seus pares de todas as acusações que lhe eram feitas, inclusive a de que uma empreiteira pagava polpuda pensão para o sustento de filho havido fora do matrimônio.
    Mas, como já dissemos, o despudor é generalizado nos quadros da administração pública e o exemplo vem de cima. Quando a presidente Dilma Rousseff, movida pela ambição de permanecer no cargo e pela enorme pressão de Lula e do PT, abandona a rotina de uma governança que não tem enfrentado poucos problemas para atropelar o calendário e se concentrar numa intensa agenda estritamente eleitoral, não só dá um péssimo exemplo, como sinaliza que não há limites - nem os da lei eleitoral - para os detentores do poder. O argumento para justificar a multiplicação das viagens presidenciais por todo o País, com objetivos inegavelmente eleitorais, foi dado recentemente pela ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, Gleisi Hoffmann: depois de quase três anos de operosa gestão, chegou a hora de o governo "entregar" suas realizações à população. O despudor, como se vê, não é monopólio de Renan Calheiros.

Alquimia na quitanda - FERREIRA GULLAR

     

A realidade é impermeável, enquanto a outra, feita de palavras, amolda-se a nossa insatisfação com o real
    Pode ser que, no final das contas, isso que vou dizer aqui não interesse a ninguém, mas é que, numa crônica em que falava das poucas coisas que lembro, esqueci de mencionar uma das que mais me lembro: as bananas que, às vezes, ficavam sem vender e apodreciam na quitanda de meu pai.
    Aliás, se bem me lembro, não era na quitanda dele e, sim, na de uma mulata gorda e simpática que, na rua de trás, vendia frutas: bananas, goiabas, tamarindo, atas, bagos de jaca e manga-rosa. Mas o que é verdade ou não, neste caso, pouco importa, porque o que vale é o momento lembrado (ou inventado) em que as bananas apodrecem. E mais que as bananas, o que importava mesmo era seu apodrecer, talvez porque o que conta, de fato, é que ele se torna poesia.
    Essas bananas me vieram à lembrança quando escrevi o "Poema Sujo". Jamais havia pensado nelas ao longo daqueles últimos 30 anos. Mas, de repente, ao falar da quitanda de meu pai, me vieram à lembrança as bananas que, certo dia, vi dentro de um cesto, sobre o qual voejavam moscas varejeiras, zunindo.
    Haverá coisa mais banal que bananas apodrecendo dentro de um cesto, certa tarde, na rua das Hortas, em São Luís do Maranhão? Pois é, não obstante entrei naquele barato e vi aquelas frutas enegrecidas pelo apodrecer, um fato fulgurante, quase cósmico, se se compara o chorume que pingava das frutas podres ao processo geral que muda as coisas, que faz da vida morte e vice-versa.
    E essas bananas outras --não as da quitanda, mas as do poema-- inseriram-se em mim, integraram-se em minha memória, em minha carne, de tal modo que são agora parte do que sou.
    Agora, se tivesse de dizer quem sou eu, diria que uma parte de mim são agora essas bananas que, no podre dourado da fantasia, me iluminaram, naquela tarde em Buenos Aires, inesperadamente, tornando-me dourados os olhos, as mãos, a pele de meu braço.
Entenderam agora por que costumo dizer que a arte não revela a realidade e, sim, a inventa? Pois é, as bananas de dona Margarida, apodrecendo num cesto, numa quitanda em São Luís --e que ela depois, se não as vendesse, as jogaria no lixo--, ganharam outra dimensão, outro significado nas palavras do poema e na existência do seu autor. Porque a banana real é pouca, já que a gente a torna mais rica de significados e beleza.
    Veja bem, não é que a banana real não tenha ela mesma seu mistério, sua insondável significação. Tem, mas, embora tendo, não nos basta, porque nós, seres humanos, queremos sempre mais. Ou seria esse um modo de escapar da realidade inexplicável?
Se pensamos bem, a banana inventada pertence ao mundo humano, é mais nós do que a banana real. E não só isso: a realidade mesma é impermeável, enquanto a outra, feita de palavras, amolda-se a nossa irreparável insatisfação com o real.
    Depois que as bananas podres surgiram no "Poema Sujo", numa situação de fato inventada por mim, e mais verdadeira que a verdadeira, incorporaram-se à memória do vivido, de modo que, mais tarde, elas voltaram, não como invenção poética, mas como parte da vida efetivamente vivida por mim.
    Sim, porque criar um poema é viver e viver mais intensamente que no correr dos dias. Por isso, como se tornaram vida vivida, me fizeram escrever outros poemas, já que a memória inventada se junta à experiência real, quando novos momentos também se tornarão memória. Até esgotarem-se, e se esgotam.
    Do mesmo modo que não sei explicar como a lembrança das bananas apodrecidas na rua das Hortas voltou inesperadamente naquela dia em Buenos Aires, nem por que, depois de cinco reincidências, a lembrança das bananas cessou, apagou-se, nenhum poema mais nasceu daquela experiência banal, vivida por um menino de uns dez anos de idade sob o calor do versão maranhense.
    Foi o que pensei, mas o assunto não morrera. Ao ver uma folha de jornal suja de tinta, onde limpava os pincéis, pareceu-me ser a mesma cor das bananas podres. Recortei o papel em forma de bananas e fiz uma colagem. Logo me veio a ideia de fazer outras para ilustrar os poemas sobre elas. E disso resultou um livro de colagens, com os poemas que preferi escrever a mão.

Na Coluna do CLAUDIO HUMBERTO


NOVA ONDA

Inspirado na filiação da ministra Eliana Calmon ao PSB, o presidente do SDD-MA, Simplício Araújo, convidou o juiz Márlon Reis, criador da lei da Ficha Limpa, para disputar ao Senado pela sigla em 2014.

MANCHETES DOS JORNAIS

Estado
Jornal Pequeno:"Visita íntima" ocorre diante de todos em presídio no MA, diz CNJ
O Estado do MA:Presídios - Burocracia impediu o repasse de R$ 22 mi
O Imparcial: Recursos para presídios foi cancelado, diz governo
Região
Jornal do Commercio:Câmara do Recife fica só na promessa
Meio-Norte:Wilson:meu legado é planejamento e metas
O Povo:Para se reinventar em 2014
Nacional
Correio:Como esticar o seu dinheiro em 2014
Estadão:Gasto com servidor cresce mais que receita em Estados
Estado de Minas:Sofrimento recorde
Folha:Servidor resiste a novo fundo de previdência
Globo:Cem mil casas em favelas serão regularizadas
Zero Hora:Pedágio privado 15 anos de tarifa polêmica e poucas obras

No PAINEL da Folha de S. Paulo

tiroteio
"A rebelião na Assembleia Legislativa do Maranhão copia a do presídio de Pedrinhas. O governo não controla nem um, nem outro."

DO DEPUTADO FEDERAL DOMINGOS DUTRA (SDD-MA), sobre a pressão de deputados estaduais por emendas, que quase travou a votação do Orçamento.

sábado, 28 de dezembro de 2013

LACEM recomenda todas as praias de São Luís para banho


Som do universo - "Where are we now?" com David Bowie

Relatos do horror - LEONARDO CAVALCANTI

Um trecho do livro policial Filhos da noite, o mais novo romance do escritor norte-americano Dennis Lehane, expõe a diferença entre amadores e profissionais. Trata-se da epifania de um dos personagens: “Sabe os nossos clientes? Eles visitam a noite. Nós não, nós vivemos da noite. Eles alugam o que nos pertence. Isso significa que, quando eles vêm brincar no nosso quintal, nós lucramos com cada operação”. Tal constatação vale para todo tipo de coisa: de bares a operadoras de mergulho, sempre há alguém disposto a pagar para sentir o gosto, mesmo que superficial, de uma aventura.

Na vida real, porém, há lugares que nem mesmo os mais destemidos são capazes de entrar. É o caso das prisões brasileiras, onde existe um inferno invisível e onde não há lugar para amadores. Um universo impenetrável para uns e simplesmente ignorado por outros. Mesmo com a repercussão das prisões dos mensaleiros, a realidade do sistema penitenciário está longe de ser revelada. Uma pista do descalabro foi dada nesta semana pelo juiz Douglas Martins, auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Conivência de políticos e crueldade, quando unidos, expõem o pior de um país.
Estupros
O horror está em Pedrinhas, bairro de São Luís, no Maranhão, um estado ruim de índices positivos, onde há a maior mortalidade infantil do país e a menor proporção de lixo coletado. Ao sair da penitenciária de Pedrinhas, Martins cobrou do governo maranhense o fim da violência contra parentes de presos. A partir do relato do magistrado, é possível saber que mulheres e irmãs de presos são obrigadas a manter relações sexuais com líderes de facções. Ao não permitirem o estupro, os detentos passam a integrar uma lista de marcados para morrer. Pelo depoimento do juiz, há total desorganização no sistema, sem controle da segurança pública. E tudo na capital do estado, do lado dos palácios.

As informações de Douglas foram anexadas a um relatório que seria entregue ao presidente do CNJ, Joaquim Barbosa. “As parentes de presos sem poder dentro da prisão estão pagando esse preço para que eles não sejam assassinados. É uma grave violação de direitos humanos”, disse em nota o juiz nesta semana. Até agora, 58 presos foram mortos apenas este ano em Pedrinhas.

Os estupros ocorreriam por causa da superlotação nos pavilhões e da falta de uma área específica para as visitas íntimas. “Por exigência dos líderes de facções, a direção da casa autorizou que as visitas íntimas acontecessem no meio das celas”, garantiu Douglas. Não é de hoje que representantes do CNJ pedem atenção do Estado ao Complexo Penitenciário de Pedrinhas, lembrado por assassinatos como os ocorridos no último mês de outubro, quando nove presos foram mortos durante uma rebelião.

Os desmandos expostos no sistema carcerário não são exclusividade do Maranhão. Em setembro do ano passado, no Pará, uma menina de 14 anos passou cinco dias sendo abusada sexualmente e espancada por detentos da Colônia Agrícola Heleno Fragoso, uma unidade penal de regime semiaberto, em Santa Isabel do Pará, a 50km de Belém. A violência só foi interrompida quando a garota conseguiu fugir à noite e encontrou uma patrulha da Polícia Militar às margens da BR-316. Na sequência, a menina foi levada ao Conselho Tutelar de Belém e à Delegacia de Atendimento ao Adolescente. A barbárie está longe de acabar no Brasil. Por aqui, não precisamos de livros de ficção policial. A violência mora ao lado.

A tragédia das tragédias - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

    Atrás da tragédia das chuvas reside outra tragédia. Trata-se da calamidade administrativa. A violência das águas desaloja, desabriga, rouba saúde, vidas e esperanças. Apesar de certas como o suceder dos dias e das noites, das fases da Lua e das estações do ano, as tempestades parecem surpreender prefeitos, governadores e a presidente da República.Ano após ano, as autoridades de plantão anunciam as medidas emergenciais para evitar a ampliação do mal. Sobrevoar as áreas atingidas é parte do script. A população faz campanha para arrecadar alimentos, vestuários, colchões, lençóis e cobertores para amenizar a dor de adultos e crianças. Escolas, igrejas, estádios abrem as portas para receber os sem-teto.
    O triste espetáculo, monotonamente reprisado, impõe pergunta cuja resposta não causa espanto. Por que não se tomam medidas aptas a prevenir a desgraça anunciada? Não há necessidade de criar nada. A ciência aponta os caminhos a serem seguidos. O país conta com especialistas - tanto teóricos quanto práticos - capazes de traçar planos de curto, médio e longo prazo a fim de remediar danos passados e prevenir futuros.
    Escassez de recursos é parte da resposta. Segundo levantamento da ONG Contas Abertas, em 2013 o governo federal destinou ao Espírito Santo, estado até o momento mais castigado pela catástrofe, 0,41% da verba prevista para prevenção e recuperação de áreas atingidas por desastres naturais. São R$ 13,6 milhões do total de R$ 3,3 bilhões.
    Não só. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), o governo tem reduzido investimentos em ações da espécie. Ao longo de 2013, só 15,5% do previsto foram aplicados em obras de contenção de encostas, drenagem e manejo de águas pluviais. Em 2012, além de R$ 1 bilhão a mais do previsto para 2013, a União aplicou R$ 500 milhões adicionais.
    A liberação dos recursos obedece a rito baseado em planejamento de responsabilidade de estados e municípios. O Ministério da Integração Nacional centraliza as ações de resposta e prevenção a desastres. Mas faltam projetos. Sem corpo técnico para traçar os rumos exigidos pela burocracia, os entes federados não conseguem pôr a mão na verba. O despreparo vem de longe. Mas, mesmo diante do alto preço que cobra, nada se faz para enfrentá-lo.
    Em ação de emergência, a presidente Dilma Rousseff tirou o sofá da sala: publicou medida provisória que facilita o repasse do dinheiro sem a aprovação prévia de projeto das obras. Entende-se o ato humanitário, mas teme-se que a incompetência se alie à corrupção e faça a festa com o dinheiro público. Impõe-se, para minimizar o risco, que o ritmo da liberação corresponda ao da fiscalização. Em português claro: passou da hora de jogar para a plateia. O marketing, além de agravar os problemas que tenta escamotear, torna o governante cúmplice da tragédia do ano seguinte.

A impunidade nocauteada - EDITORIAL ZERO HORA


    Ninguém acreditava, nem os próprios condenados, mas o processo judicial conhecido como mensalão resultou na prisão de personagens importantes da vida nacional, entre os quais um ex-ministro, vários parlamentares, empresários e banqueiros. Reconhecido como um dos maiores escândalos de corrupção da história do país, a compra de apoio parlamentar pelo governo demorou mais de oito anos para ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal, mas acabou se transformando num golpe real na impunidade: dos 38 investigados pelo caso, 25 foram condenados em dezembro de 2012 e nove tiveram seus últimos recursos avaliados pela Corte em novembro último. Até a metade de dezembro, 17 condenados já estavam na cadeia e um, foragido no Exterior.

    O julgamento ainda suscita controvérsias, especialmente por parte de dirigentes e militantes do Partido dos Trabalhadores, que sofreu um abalo na sua reputação em decorrência do envolvimento de figuras proeminentes da agremiação no pagamento de propinas a políticos. Mas a maioria da população brasileira apoiou integralmente a decisão colegiada da Suprema Corte, composta por 11 ministros, oito deles indicados por governantes petistas.
    Apesar do inconformismo dos militantes do PT, os réus tiveram amplo direito de defesa e o julgamento não poderia ter sido mais transparente, pois todas as sessões da Corte tiveram cobertura permanente da imprensa. Durante várias semanas, o país acompanhou atento os debates entre os magistrados, as acusações do procurador-gera da República e as defesas dos advogados. Nesse período, entraram para o vocabulário nacional termos jurídicos como a Teoria do Domínio do Fato _ pela qual é considerado autor de um crime a pessoa que, mesmo não tendo participado diretamente do ato infracional, decidiu, ordenou ou facilitou a sua efetivação _ e embargos infringentes, que são recursos cabíveis contra decisões não unânimes de segunda instância, desfavoráveis aos réus. O julgamento também transformou em celebridade o relator do processo e atual presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, que se mostrou inflexível nas condenações.
    Habituada a ver delinquentes poderosos escaparem impunes, parcela expressiva da população brasileira celebrou no último dia 15 de novembro, quando o Supremo decretou a prisão imediata de 12 réus condenados no processo. É exagero dizer que o desfecho da Ação Penal 470 assinala o fim da impunidade no país, até mesmo porque há processos semelhantes inconclusos, entre os quais o chamado mensalão tucano, que envolve um ex-governador mineiro. Mas não há dúvida de que foi o fato mais marcante de 2013 e tende a se transformar numa referência de moralidade para a política brasileira.
    Ainda é cedo para se saber se a condenação dos réus do mensalão realmente inaugurará um novo tempo e contribuirá efetivamente para reduzir os casos de corrupção na administração pública do país. Porém, a partir da ampla exposição do episódio, já se percebe um significativo resgate da confiança dos brasileiros nas instituições democráticas e no poder dos cidadãos para exigir honestidade e integridade de seus representantes.

MANCHETES DOS JORNAIS

Estado
O Estado do MA:Pescadores de Raposa desaparecem em alto mar
Região
Jornal do Commercio:Volta pra casa de algemas
Meio-Norte:"Minha Casa" já usa energia solar no PI
O Povo:17 armas apreendidas por dia no Ceará
Nacional
Correio:Prepare o bolso e a paciência para viajar
Estadão:Com deságio recorde, fundos de pensão e OAS levam BR-040
Estado de MinasIPTU e ITBI mais caros
Folha:Governo sobe imposto para gasto de turista no exterior
Globo:Governo eleva imposto para gasto de turista no exterior
Zero Hora:Em plenas férias de verão – Gastar nas viagens ao Exterior fica mais caro

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Candidatos do PSOL no Maranhão ganham projeção com caos no sistema penintenciário do Estado

    Filiado ao PSOL, o advogado Rafael Silva surfa na exposição que o caos no Sistema Penitenciário do Estado do Maranhão permite. Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil- secção do Maranhão, Rafael Silva revesa  com o presidente da comissão, Antonio Pedrosa, espaços na mídia local e nacional desde que na Penitenciária de Pedrinhas o horror se instaurou com cenas de decapitação e assassinatos em série.
     Pedrosa é correligionário de Rafael Silva na legenda projetada no país por figuras como o deputado federal Jean Wyllys, ex-BBB da Globo, e o senador Rodolfe Rodrigues, presidenciável do PSOL. Pedrosa será candidato ao governo do estado pelo PSOL nas eleições de 2004. Sua escolha prematura se deu pela cúpula estadual da legenda comandada por Haroldo Saboia.
    Enquanto que Rafael Silva deve disputar uma vaga na Câmara Federal. Pelas projeções extremamente otimistas do comando do PSOL no Maranhão, Silva tem tudo para se transformar em um novo Jean Wyllys, com as devidas ressalvas.


Sinproesemma vai à justiça contra desconto ilegal ao Sintsep

    Os contracheques dos trabalhadores em educação da rede estadual do Maranhão estão apresentando descontos retroativos aos anos de 2011 a 2013 para o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Maranhão (Sintsep). Diante do fato, a direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública (SIinproesemma) esclarece que o recolhimento para o Sintsep é indevido e adianta que está recorrendo à Justiça para devolução dos valores.
    O presidente do Sinproesemma, Júlio Pinheiro, explica que o recolhimento do Imposto Sindical, correspondente a um dia de trabalho remunerado durante um ano, só pode ser efetuado em favor da entidade que representa determinado segmento frente ao Poder Público. “Esses descontos não têm nenhuma validade e são totalmente indevidos, pois o SINTSEP não tem legitimidade de representar os trabalhadores em educação pública do Maranhão”, enfatiza.
    A Assessoria Jurídica do Simproesemma tomou conhecimento que o desconto realizado no mês de dezembro foi motivado por uma ação judicial que tramita na 1ª Vara da Fazenda Pública, de autoria do Sintsep, onde requer o imposto sindical de todos os servidores públicos do Estado do Maranhão, incluindo professores, especialistas e funcionários de escola. “Vamos ajuizar um mandado de segurança para devolver todas as quantias aos trabalhadores em educação que tiveram os descontos”, assegura Júlio Pinheiro.

Prognósticos do passado - RENATO FERRAZ

    Sabe o que mudará na sua vida caso você se vista de branco no réveillon? Provavelmente, nada. E azul? Também. E rosa? Nadinha de nada. Sério: como fazemos nossas próprias crenças, precisamos brincar disso - e com isso, claro. Que tal, então, fazer prognósticos e não listinha de resoluções para serem ignoradas logo em janeiro? Como serão as décadas, os anos, os meses vindouros?
    Fábio Gandour, diretor brasileiro de uma importante empresa de tecnologia, acha, por exemplo, que a escassez de água no planeta será o maior problema da humanidade. Seu cenário é montado sobre o átomo, cujo número é constante. Como a população segue aumentando, vai diminuir a quantidade de átomos por habitante. E quais átomos vão faltar primeiro? Hidrogênio e oxigênio conectados numa molécula chamada água, defende ele. A Ásia, conta Gandour, será o primeiro continente a sentir a falta dela. "Isso não é uma especulação. É aritmética", garante o pesquisador.

    Esse tipo de análise é assustador. No entanto, o que mais mete medo é o fato de governantes serem extremamente lenientes com essas previsões. Em relação a Brasília, por exemplo, vale questionar: em qual futuro desembocará a nefasta soma de vias e mais vias asfálticas com mais prédios e uma crescente e quase enlouquecida venda de carros? Em mais engarrafamentos, mais estresse, mais acidentes. Sim, obviamente, essa é a análise do pessimista, mas está baseada em percepções relevantes, em avaliações históricas, no simples olhar ao lado.
    Mas como acredito mais em cientistas do que em políticos, volto aos primeiros: as cidades vão se adaptar à população, garantem alguns deles. A defesa da tese não é tão aritmética assim, mas esse mistério será desvendado. Já há lugares não mais combatendo, mas se adaptando ao horário de rush, às idiossincrasias do tempo, aos nossos anseios. Vamos ser, em 2014 ou 2020, bem mais prefeitos: "mandando" tapar buracos logo ao vê-los ou melhorando o ridículo sistema meteorológico que hoje avisa aos moradores de um morro, mediante uma lúgubre sirene, algo do tipo: "Fujam, vocês vão morrer"

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

MANCHETES DOS JORNAIS

Estado
Aqui-MA:Moradores incendeiam boca de fumo
O Estado do MA:Mais de 1.100 policiais farão a segurança da capital no Réveillon
O Imparcial: Dez presídios em seis meses
Região
Meio-Norte:Corrupção já causou 4.300 demissões
O Povo: Polícia vai investigar obra que deixou cidade sem água
Nacional
Brasil Econômico:Abertura no México vai traçar novo mapa do petróleo
Correio:Deu zebra...
Estadão:Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam
Folha:Após acordo, OGX, de Eike, é entregue aos credores
Globo:Só 28% de verbas contra enchentes foram usados
Zero Hora:Sete meses depois: Até 18 anos de pena por fraude no leite

"ES EM CENA" abre programação teatral de 2014 em São Luís

Cena de "O Pastelão e a Torta"

O projeto "ES EM CENA", abre a programação teatral de 2014 em São Luís. A programação de espetáculos capixabas, com participação de artistas em debates, acontece entre 8 e 12 de janeiro no Teatro Alcione Nazaré com entrada gratuita.
O festival estreou em outubro do ano passado em Salvador e inclui cinco capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília. Por meio de uma série de espetáculos teatrais, o projeto tem por objetivo principal difundir as iniciativas culturais de artistas do estado do Espírito Santo em âmbito nacional. 
Os espetáculos integrantes do projeto foram selecionados através de uma curadoria, estabelecida em uma parceria da Secult (Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo) com a WB Produções. Foram contemplados, para a 1ª edição do projeto, 5 espetáculos, de companhias teatrais diferentes
A mostra "ES EM CENA" conta com os benefícios da Lei Federal de Incentivo à Cultura e realização da WB Produções.

Programação
08 de janeiro de 2014 - (Quarta-feira) – 20h
  • Grupo Folgazões
Espetáculo: O Pastelão e a Torta
A peça, uma farsa medieval encenada utilizando-se da linguagem de commedia dell'arte, traz no elenco os atores Wyller Villaças, Vanessa Darmani, Duílio Kuster e Foca Magalhães. A obra adaptada é dirigida coletivamente pelos integrantes, com enredo que narra as aventuras e desventuras de dois mendigos, Julião e Balandrot, em busca de um suculento pastel e de uma apetitosa torta que são vistos na janela do casal de pasteleiros Joaquim e Marieta. Esteticamente, o espetáculo é fruto de uma fusão de várias linguagens que estão presentes no processo de pesquisa e treinamento permanente do grupo, como a comicidade, a música e o teatro popular. Esta montagem já foi encenada em festivais nacionais e internacionais. Em agosto deste ano, representou o Brasil em dois festivais latino-americanos de teatro realizados na Colômbia.
09 de janeiro de 2014 - (Quinta-feira) – 20h
  • Grupo Z
Espetáculo: Insone
Em Insone, o Grupo Z de Teatro dá prosseguimento às suas investigações acerca dos três eixos que norteiam seu trabalho: o desenvolvimento de dramaturgia própria, o corpo como instrumento de criação, o uso de espaços diversos. O espetáculo, que se utiliza da linguagem da dança-teatro, não tem uma narrativa linear, não conta uma história. Antes, debruça-se sobre os estados de sono e vigília, os sonhos, pesadelos e a insônia, mostrando o homem contemporâneo entre a sua necessidade de descanso e repouso e as exigências de um mundo cada vez mais veloz, vertiginoso.

10 de janeiro de 2014 - (Sexta-feira) – 20h
  • Grupo Gota, pó e Poeira
Espetáculo: Estórias de um povo de lá
Livremente inspirado nos contos de Guimarães Rosa, o espetáculo retrata histórias de pessoas que podem estar aqui e lá em seus anseios, obstáculos, religiosidade e esperanças. "Estórias de um povo de lá" apresenta logo em sua abertura um prólogo com fragmentos de textos que contemplam o universo de Guimarães Rosa, seguindo depois para três pequenas histórias. A primeira narrativa é centrada na viagem de avião de  um menino ao interior onde se construía uma grande cidade;  lá ele se encanta pela natureza e pela figura de um peru, conhecendo também duros aspectos da realidade. A segunda trata da história de uma menina isolada em seu mundo e que de repente  consegue materializar todos os seus desejos, a maioria coisas simples e comuns, o que a faz diferente na visão da família e parentes. A terceira narrativa mostra a partida de um pai que vai habitar o rio, dentro de uma canoa, criando várias versões para sua partida. A família, composta pela mãe, dois meninos e uma menina, busca explicações para aquela atitude. A montagem reúne literatura, teatro e música, e os atores se revezam em diversos personagens.

11 de janeiro de 2014 - (Sábado) – 19h
  • Cia Repertório
Espetáculo: Bernarda, por detrás das paredes
“Bernarda, por detrás das paredes” é uma colagem dos textos “A casa de Bernarda Alba”, de Federico García Lorca e “Arte poética”, de Aristóteles. Bernarda é uma matriarca dominadora que após a morte de seu segundo marido decreta um luto de oito anos, enclausurando em casa suas cinco filhas. Em um jogo cênico musical, os atores manipulam seus corpos para criar e destruir nove personagens que duelam suas expectativas como em uma arena de touros.

12 de janeiro de 2014 - (Domingo) – 19h
  • Cia Teatro Urgente
EspetáculoMefisto
Artista vive a tragédia de vender a cabeça para o Estado. Cenas de teatro-dança e vídeo mapping em live performance que fazem referência às obras: Mephisto, de Klaus Mann, Fausto de Goethe e à coreografia homônima de Magno Godoy (1987).

Todos os espetáculos do" ES EM CENA" são gratuitos com retirada de ingressos na bilheteria do teatro (sujeito à lotação do espaço).

Debates: Logo após as apresentações, acontecerão os debates com os atores que falarão sobre o grupo e sobre a concepção do espetáculo.

SERVIÇO
"ES EM CENA"
De 08 a 12 de Janeiro de 2014
De 08 a 10 ( de quarta a sexta) as 20 h
De 10 a 12 ( sábado e domingo) as 19 h
Teatro Alcione Nazareth, Centro de Criatividade Odylo Costa, filho
End.: Rampa do Comércio, 200, Praia Grande – São Luís
Telefone: (98) 3218 9933

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SHOW DA VIRADA - Mirem-se no espelho da Bahia

O cachê dos artistas e a cárie das criancinhas
Malu Fontes*
Eis a polêmica da vez: Caetano e Gil vão receber, cada um, R$ 600 mil de cachê para cantar no Réveillon de Salvador. A divulgação do valor deixou de ser apenas um dado da festa, já que a opinião pública obedece, previsivelmente, a um roteiro bifurcado. Parte dela vê em tudo uma comédia, parte vê uma tragédia. Quando Salvador tem um Réveillon sem atrações musicais de peso nacional, é um chororô geral. O complexo de vira-lata aflora e em qualquer buteco o que nunca falta é gente desolada comparando a decadência da cidade com as festanças do Rio, de São Paulo, de Fortaleza.


Aí, quando se anuncia vários artistas e entre eles os diletos filhos da terra cantando na cidade, é um deus nos acuda pelo avesso. Como pode um cachê de 600 mil? Pelas críticas, não se sabe direito quem até agora está encarnando melhor o papel de diabo nas redes sociais: se os próprios artistas, esses desalmados que não cantam de graça para o seu povo; se a iniciativa privada, que patrocina cachês milionários para fazer o povo beber cerveja até não diferenciar se quem tá no palco é Caetano ou Pablo, do Arrocha, em vez de patrocinar projetos sociais; se o poder público, que deveria investir no bem-estar do povo e, no Réveillon, num estalar de dedos, transformar Salvador em Celebration, a cidade perfeitinha da Flórida (EUA), onde Silvio Santos mora quando não está no Brasil e onde, of course, não há problema de saúde, educação, segurança e infraestrutura. Ou se o diabo é mesmo é o povo, pois, como diria certo comentarista esportivo, “haja o que hajar”, nunca tá satisfeito.

A notícia sobre o valor do cachê de Gil e Caetano transformou-se num fla-flu. E olha que ainda não se falou no de Gal, Daniela, etc. Para apimentar mais a história, há os detalhes. Flora, mulher de Gil, é a organizadora oficial da festa, e Roberto Carlos, o rei, enfezado com o desgaste em sua imagem por ter aparecido associado aos dois baianos na natimorta Procure Saber (entidade criada para impedir que biografias fossem publicadas sem autorização prévia do biografado), fez mimimi e desistiu de integrar o elenco de estrelas na virada de ano em Salvador. A imprensa carioca anunciou que ele não viria porque, para além do clima de poucos amigos com a turma de Caetano e Gil, também não queria arranhar sua fama de moço íntegro participando de evento em cujo financiamento houvesse recursos públicos. Foi a deixa. Enquanto trocentos berram nas time lines que os patrocinadores estão pagando tudo, outros citam o argumento de Roberto para dizer que, fosse assim, o rei teria aceitado o convite. Segundo a imprensa, esses são os valores das quatro noites de festa: R$ 6,4 milhões, sendo R$ 2,2 para cachês, tudo pago pelos patrocinadores. A prefeitura e o estado entrariam com R$ 1,5 milhão, cada, em estrutura.

No confronto de torcidas de ataque e louvação aos dois baianos, há os aspectos ignorados quando se trata de festas populares patrocinadas, no todo ou em parte, por empresas privadas e estreladas por ídolos nacionais ou internacionais. O Réveillon do Rio é tão lindo quanto milionário, incluindo cachês. Quem canta lá de graça? Insinua-se aqui e ali que Gil e Caetano cobram para cantar aqui porque não amam suficientemente a Bahia. De amor alheio entendo lhufas. Já da indústria do entretenimento, o suficiente. Já a segunda falação não convence nem anencéfalo: esse dinheiro deveria ir para a população, saúde, educação. Então tá.

Alguém aí acredita mesmo que, em algum tempo, em algum lugar, empresas que patrocinam artistas para que, assim, suas marcas sejam consumidas pelo povo, vão deixar de contratá-los para investir no tratamento da cárie das criancinhas?
* Malu Fontes  é jornalista e professora de Jornalismo da Ufba.