sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MUSEU DE TUDO: Recordações de Pier Paolo Pasolini

    Em 2 de novembro de 1975 morria brutalmente assassinado Pier Paolo Pasolini (*1922). Poeta, ensaista,romancista,roteirista e cineasta italiano Pasolini merece uma homenagem por toda sua obra e importância enquanto intelectual.  Contestador da banalização que a tudo reduz a sociedade de consumo, Pasolini reagiria colérico se soubesse que muitos de seus filmes censurados pelas ditaduras pelo mundo hoje são facilmente encontrados nas lojas de departamentos (a Americanas é uma delas) a preços módicos.
    "Decameron, Os Cantos de Canterbury e As Mil e uma Noites", os títulos da "Trilogia da Vida", exaltação o sexo, o corpo e a sensualidade, estão nesse pacote de promoção.  Em vida ele a recusou em bloco ao percerber o caminho da obra. "Mesmo a "realidade" dos corpos inocentes foi violada, manipulada, subjugada pelo poder consumista", dizia.
    Na trilogia Pasolini voltou ao passado à procurada de corpos são e vida alegre. Diante da considerada degeneração da sociedade, exergava a impossibilidade de viver a utopia da liberdade dos desejos. Foi então que realizou seu filme mais virulento: "Saló", baseado no livro de Sade "Os 120 Dias de Sodoma", nome da república fundada na Itália fascista. Sem dúvida um dos filmes mais polêmicos da história do cinema. O livro conta a história de quatro monstros: Duque de Blçangis, o irmão arcebispo, juiz De Curval e o financista Durcet.
    "Saló" é uma metáfora do consumo e do totalitarismo que este instaura nas sociedades. Para isso submete os corpos à completa dominação. Tudo envolto em um clima obscuro e sádico com traços de humor. A história se passa no fim do reinado de Luis XV, o rei-sol, numa França miserável e embrutecede por guerras sucessivas. Enquanto isso, os monstram se divertem em bacanais que desembocam nas mais cruéis cenas vista no cinema até então. Uma alegoria à anarquia  onde a regra são os excessos.
    Em "Saló" o sexo é mórbido, contrastando com a alegria da "Trilogia da Vida". Desta forma, Pasolini condenava a comercialização do corpo. "Detesto o mundo atual, inteiramente pequeno-burguês e falsamente tolerante, por uma decisão de consumo", revelava.
    Pouco depois de terminadas as filmagens de "Saló" o corpo de Pasolini foi encontrado dilacerado. Com inimigos à direita e à esquerda do poder, houveram dúvidas sobre a versão oficial da morte do cineasta. Do protesto dos amigos surgiu o livro "Pasolini: Crônica Judiciária, Perseguição, Execução."
    Pier Paolo Pasolini sonhava em viver em um país do Terceiro Mundo. Tinha na cabeça a ideia de fazer um filme contando a "história de um rei mago contemporâneo que caminha guiado por uma estrela, em companhia do seru servi. O astro representa a ideologia inútil e abstrata...apesar de que através dela, o mago chegará a descobrir a verdade", contou a Jean Duflot em entrevista. Morreu antes.
Assista ao trailer de "Saló";