quarta-feira, 20 de junho de 2012

Carta dos quilombolas à governadora Roseana Sarney

    “Vosso Governo signatário de todas as injustiças dessa terra patrocina o extermínio de comunidades camponesas quilombolas, indígenas, ribeirinhas por todo território maranhense. As iniquidades que vosso governo espalha por esse chão, estão estampadas nos dados vergonhosos presentes nos números oficiais. Concentramos milhões de famintos em terras de preto, de índio, de santo. Somos o estado mais pobre da Federação, uma das regiões mais pobres da América.
    Vosso Governo afirma que os assassinatos que vitimaram centenas de lideranças rurais, pais e mães de famílias não passam de briga de vizinho, numa tentativa de apagar a história de assassinatos políticos patrocinados por vossos correligionários fazendeiros, grileiros de terras ao passo que os direitos constitucionalmente assegurados às comunidades tradicionais desse Estado viraram letra morta. Sua polícia política é responsável por milhares de despejos de comunidades em todo o Estado do Maranhão. Destruindo lares e comunidades inteiras.
    Vosso Governo submete a humilhação da miséria mais de dois bilhões de maranhenses do campo e quase a totalidade da população do Estado usurpando suas terras, doando ao grande capital nacional e internacional milhões de hectares de terras que ao invés de serem destinados a produção de alimentos para o povo, servem para a plantação de eucalipto, soja e outros commodities que abastecem o mercado internacional. Bois no lugar de gente, gente trabalhadora ocupando sete palmos debaixo da terra.
    Vosso governo destruiu a agricultura familiar, fornecendo as melhores terras do estado para a produção de carvão. Aqui jaz a Amazônia, o serrado, os mangues e os povos de cada bioma.
    Vosso governo pertence aos latifundiários, aos grandes projetos de exploração da terra, ao passo que o empobrecimento dos homens e mulheres do campo se tomam mais e mais intensos.
    Vosso governo é responsável pela pilhagem de todas as riquezas do solo e do subsolo dessa terra, por meio de processos ilícitos de apropriação de terras públicas do estado do Maranhão.
    Vosso governo solapou toda a política de agricultura familiar e extinguiu inclusive a secretária do desenvolvimento agrário SEDAGRO, ao passo que o agronegócio determina as políticas de desenvolvimento econômico do estado.
    Os babaçuais aonde cantavam os sabiás sucumbiram, as pastagens e as florestas artificiais, encontramo-nos acampados no ITERMA, instituto que historicamente servia aos interesses do latifúndio. Local de inúmeras viagens de trabalhadores, que nunca encontram soluções as suas demandas, encontramo-nos acampados para reafirmar que vosso projeto político é projeto político da morte, da miséria, da destruição da natureza, encontramos-nos acampados para reafirmar ao vosso governo que resistimos até a morte pela libertação.
    Encontramo-nos acampados para reafirmar o vosso governo. Já chega de tanto sofrer. Já chega de tanto chorar. Ou na marra vamos ganhar.
São Luís 18 de junho de 2012
Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom). Comissão Pastoral da Terra do Estado do Maranhão.