quarta-feira, 21 de março de 2012

Bira do Pindaré:"Do palanque da oligarquia a gente não faz parte"

AGENOR BARBOSA
O deputado estadual Bira do Pindaré disputa com o vice-governador Washington Oliveira a vaga como candidato a prefeito de São Luís pelo PT. Sempre ligado à esquerda, o parlamentar defende a sua pré-candidatura como oposição a atual gestão da prefeitura de São Luís e do governo do Estado. Em entrevista a O Imparcial, Bira informou que está preparado para ataques dos adversários e declarou que não apoiará Washington caso perca as prévias do partido.
O Imparcial - Quais são as propostas defendidas com a sua pré-candidatura?
Bira do Pindaré- "Estamos num debate interno e estamos focados primeiro nesse momento e nos requisitos que podem facilitar a decisão dos filiados do PT. É óbvio que estamos preocupados com as propostas em relação à cidade porque o debate também é esse. Então o que prentendemos, uma vez aprovada a nossa candidatura, é apresentar um projeto com base em três pilares fundamentais: a transparência administrativa, a inversão de prioridades e a participação popular. Estes são os três grandes eixos de um programa que deve ser construído, inclusive, com a participação popular. Não sabemos trabalhar de outra forma, só sabemos trabalhar com o povo. É dessa forma que a gente deve em momento oportuno definir todo um conjunto de propostas em relação à cidade. Mas, o que estamos discutindo nesse momento é quem vai ser o candidato do partido e nesse ponto estamos trabalhando numa candidatura que represente essa base programática e que caminhe pela trilha da mudança, que é uma expectativa que a nossa população tem. Então vamos trabalhar com essa prioridade e, portanto, afastamos qualquer possibilidade de negociação ou aproximação com setores que são inimigos do interesse do povo".
O senhor falou em mudança. O que seria essa mudança?
"Aqui no Maranhão sabemos que a política tem se concentrado nas mãos de poucos. O que precisamos é romper isso e fazer com que a política se aproxime do povo para que a gente possa ter uma pluraridade maior em relação à representação política do estado e também à representação política do município. Nesse aspecto, o que queremos é quebrar esse modelo político-econômico existente no Estado e município que é um modelo concentrador de riqueza e do poder. O nosso grande objetivo é acabar com essa visão patrimonialista que predomina na política maranhense e em São Luís".
Em termos de proposta para a capital, o que deve ser feito prioritariamente?"O que tem que ser feito primeiro é ouvir o povo. Eu acho que nada pode ser feito sem ouvir o povo primeiramente. Agora, a cidade tem situações emergenciais como o problema da saúde pública. A situação do trânsito em São Luís é outro ponto de estrangulamento, assim como a pavimentação de avenidas e ruas. São pontos que precisam de ações imediatas, emergenciais, e que precisam ser enfrentados de cara por qualquer que seja o gestor que venha assumir a prefeitura".
O vice-governador, que é seu adversário na disputa interna do PT, colocou como necessidade a aproximação do executivo municipal com o executivo estadual para resolver problemas mais crônicos da cidade. O senhor concorda que falta o entendimento entre prefeitura e governo do estado?
"Eu concordo. A prefeitura qualquer que seja o prefeito tem que trabalhar em conjunto com o governo do Estado e com o governo federal. A ação no município tem que ser uma ação integrada e articulada entre todos os poderes. Não pode ser uma coisa segredada. Nesse ponto eu concordo plenamente que a ação de qualquer prefeito tem que estar acima das questões partidárias e das divergências políticas. Temos que ter a primazia do interesse popular. Nesse aspecto é necessário uma integração. Vemos que hoje a prefeitura e o governo do Estado ficam em uma ação concorrente onde um acaba atrapalhando o outro e a gente observa que não há um planejamento conjunto das ações dessas duas esferas de poder".
Os militantes do PT falam muito sobre o modelo petista de governar. O que seria esse modelo?
"Historicamente desde que o PT iniciou suas experiências à frente de prefeituras, o partido acumulou uma experiência muito grande e consolidou uma concepção que é determinada como modo petista de governar. Os princípios e diretrizes são essas que eu já apontei e concordo plenamente: a transparência administrativa, inversão de prioridades e participação popular. É com base nesse tripé que eu acredito que devemos construir um programa que possa fazer com que São Luís tenha a estrutura que merece, porque hoje a cidade está extremamente maltratada".
O que representa para o senhor essa disputa interna para ser candidato do partido?
"É um momento ímpar e representa mais uma chance da gente, em primeiro lugar, derrotar e resistir a essa ofensiva da oligarquia sobre o Partido dos Trabalhos. Nós não aceitamos que o PT seja controlado por uma oligarquia. O PT não tem dono e foi construído coletivamente por uma militância extremamente abnegada, comprometida e engajada em diversas lutas sociais e que continuam sonhando em mudar a história do Maranhão. Então a minha candidatura representa a resistência a essa tentativa de colocarem um controle absoluto sobre o Partido dos Trabalhadores e nós vamos resistir a isso como temos demonstrando. Em segundo, representa também a chance de termos mais opções colocadas à população de São Luís para escolher o melhor caminho para a cidade. Acho muito ruim que a população não tenha todas as opções que merece".
O vice-governador já anunciou que caso perca a disputa apoiará o senhor. O senhor pretende fazer o mesmo?
"Eu já disse diversas vezes que não há hipótese da nossa participação no palanque da oligarquia. Às vezes, as pessoas até interpetram de forma errada, mas não trata-se de uma questão pessoal de quem quer que seja. Trata-se de uma questão política. Eu não concordo com esse projeto oligárquico. Eu quero transformação de São Luís. A capital está atrasada em relação às outras, possui os piores indicadores sociais. Hoje somos a quinta capital mais violenta do país e a vigéssima sétima mais violenta do mundo. Mais da metade da população ganha menos de dois salários mínimos, do ponto de vista econômico é uma renda muito baixa. Os professores são desvalorizados e estão em greve, mas o prefeito trata com descaso a reivindicação dos docentes e sabemos o quanto é importante o papel deles. Se a cidade não atende bem a sua população atenderá muito pior quem visitá-la".
Então, se o senhor não vencer as prévias existe a possibilidade de ocorrer um quadro semelhante a 2010 quando uma parcela do partido prestou apoio informal a outro candidato?
"Eu não sei o que vai acontecer, mas no palanque da oligarquia a gente não faz parte. Porque não vamos abrir mão da nossa história, da nossa conferência, da nossa fidelidade e lealdade a quem confiou em mim quando fui eleito deputado estadual. Sei que pode doer no ouvido de alguns, mas essa é a nossa postura de quem quer fazer política de maneira diferente. Vou continuar trilhando o caminho que sempre fiz enquanto militante que fui da pastoral da juventude, do movimento estudantil, do movimento sindical, de todos os lugares onde fui. A democracia serve para isso, para ter alternância do poder".
Como o senhor avalia o nível em que está sendo conduzida a disputa para escolha do candidato do PT e o que senhor espera para o momento após as prévias se for escolhido candidato?
"Em relação ao processo interno do PT estou extremamente satisfeito com o fato de que temos uma adesão muito grande por parte dos filiados muito acima do que poderíamos imaginar. Por outro lado, acho lamentável que o meu adversário fuja do debate. Eu lancei um desafio oficialmente para que houvesse um debate entre nós e fugiu alegando que não aceitaria em razão dos ataques que estaria fazendo. Isso não é verdade. Sou eu quem estou sofrendo ataques. A única coisa que tenho falado, e isso é incontestável, é que ele é o candidato da oligarquia. Quem acha que o PT deve ter um candidato atrelado à oligarquia deve conscientemente votar com ele. Mas, quem pensa diferente deve votar conosco porque estamos apontando em outra direção".
Uma vez escolhido candidato o que o senhor espera dos adversários?
"Em primeiro lugar sentar à mesa com os demais candidatos de partidos de oposição, ou seja, partidos que são da base da presidente Dilma e que são oposição ao governo do Maranhão e à prefeitura de São Luís. São com esses partidos que quero sentar e dialogar dentro do que já estamos construindo. Tenho certeza que a resposta será extremamente positiva por parte desses parceiros que já deram sinais muito claros nessa direção.
Agora sobre ataques eu já estou sendo alvo e ataques baseados na mentira. Eu acho normal num debate político ataques e defesas, agora não com base na mentira, isso eu repúdio veementemente. Como ao dizerem que tenho apoio do prefeito João Castelo, é algo que eu até desdenho por ser tão rídiculo e absurdo. Logo eu que nunca tive atrelamento aos tucanos e enfrentei João Castelo e até hoje se reclama por não ter sido senador. Quem está dizendo isso está agindo com canalhice. É a estratégia do marketeiro do Hitler de que uma mentira mil vezes repetida vira verdade, mas não vai colar".
Qual a sua opinião sobre como deve ser a relação do executivo e legislativo municipal?
"Tem que ser uma relação harmônica respeitando a autonomia e independência dos poderes como manda a Constituição. É como eu acho que deve ser tratada essa questão".
Qual mensagem o senhor deixa para os apoiadores da sua pré-campanha?
"Eu quero agradecer todo o apoio que tenho recebido das tendências, coletivos e grupos que integram o que chamamos de resistência petista. Estão inclusos nesse grupo a "Militância socialista", a "Mensagem ao partido", o "Reage PT", o "Coletivo rebuliço", a "Democracia socialista", a "Articulação de Esquerda", os independentes, intelectuais e fundadores históricos do PT. Toda a militância histórica está conosco e isso é muito gratificante porque sabemos que representamos esse PT de luta e comprometido com o povo. Em segundo lugar, eu espero e peço a participação de todos os filiados do PT no dia 25. O voto é secreto e ninguém vai patrulhar o voto de ninguém. Então todos os que estiverem aptos e credenciados podem participar e que permitam que o voto seja a expressão da consciência e do coração de cada um. Que seja a vitória da democracia".